Enquanto caminha pelo jardim do Mundo Ovo, onde mora e mantém seu museu, Eli Heil aponta os objetos e pedaços de sua obra que pretende restaurar. A calçada com desenhos, onde não é permitido pisar, vai receber uma nova camada de cor. As esculturas mais altas, logo na entrada do terreno, ela planeja alcançar com a ajuda de um bambu e uma esponja desde que sofreu um acidente vascular cerebral, Eli busca maneiras de conciliar a saúde do corpo à plena atividade do intelecto.
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– O que eu mais gosto é de ver os olhos das pessoas olhando a minha obra – conta a artista. Durante a visita ao museu que se estende ao ateliê e a outros cômodos da casa, abarrotados de telas, painéis, tapeçarias e objetos fica clara a dimensão deste olhar para Eli. A relação da artista com suas criaturas é repleta de cuidado e atenção: quer mostrar tudo, explicar detalhes dos trabalhos, contar cada uma das histórias que guarda na memória.
– Essa escultura eu fiz com os cacos de vidro do ponto do ônibus. Quando vi aquilo no chão, falei: Tereza, traz um saco! Tereza é a filha mais nova de Eli, que acompanha e ajuda a mãe durante as visitações ao museu. É comum receberem grupos escolares, pesquisadores, jornalistas e figuras ilustres já passaram por ali artistas famosos, gente da televisão, embaixadores e até princesas.
Ao longo do percurso, o meio século de produção que Eli Heil comemora parece pouco para abarcar tantas criações. Só de painéis em miniatura, há cerca de 1,6 mil. Os grandes somam centenas de metros e permanecem ensacados, por falta de espaço. Ao todo, a artista calcula que o acervo contenha mais de 3 mil obras, produzidas com 200 diferentes técnicas, mas há desejo para mais – ela mostra o pequeno painel que acaba de pintar, com a tinta ainda úmida.
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– Se eu parar, fico doente. Ainda em atividade, Eli Heil faz muitos planos. A casa e todo o arquivo de sua obra devem ficar como legado para a cultura, a arte e a história, sob o cuidado dos três filhos e, depois, dos netos. Seu sonho, mesmo, era poder comprar o terreno vizinho ao seu e construir um enorme museu para expor toda a obra.
Aos 83 anos, Eli também já planejou um futuro em que não estará presente:
– Quero ser cremada e, depois, enterrada no cemitério de Adão e Eva. Adão e Eva são as esculturas de Eli que foram derrubadas por conta da duplicação da SC-401, no Norte da Ilha, em Florianópolis. Hoje, ambas estão deitadas em uma área que ela chama de cemitério, dentro do terreno do Mundo Ovo. Se foi possível fazer tudo o que queria, nesses 50 anos de dedicação à arte, ela pondera:
– Tudo, não, mas trabalhei muito. Estou deixando uma boa parte.
Agende-se:
O quê: Exposição Barroco Bruto – Eli Heil 50 Anos de Arte
Quando: abertura dia 8 de novembro, às 19h, com a presença da artista Visitação até 7 de dezembro (de segunda a sexta-feira, das 12h às 19h)
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Onde: Fundação Cultural Badesc (Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis)
Quanto: gratuito
Mais informações: (48) 3224-8846