A arte brasileira perde uma artista singular antes de conhecê-la devidamente. Eli Heil é uma das principais representantes da arte contemporânea de SC. Ao longo da profícua carreira, fundou um espaço onde reuniu parte considerável da produção que, costumeiramente, pensava como seres gerados por seu espírito materno. Ainda assim, o Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) conseguiu honrar esta grande artista, apresentando-a em várias ocasiões ao longo de sua trajetória, o que culminou na grande retrospectiva de 2014, com curadoria de Ylmar Corrêa.
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O resultado da forte presença da artista em eventos realizados pelo museu foi, em grande medida, o que tornou possível o enriquecimento do nosso acervo, que hoje conta com obras que permitem ao público em geral inúmeras leituras e aproximações com sua poética. De modo que o compromisso do Masc consiste também em promover espaços de diálogo para que sua obra conquiste outros horizontes e se mantenha sempre ativa em sua região, onde ela extraiu elementos para a construção do seu mundo de imagens pulsantes, que mais pareciam geradas em universos híbridos. É que a Ilha de SC lhe permitia o encontro da ficção com a resistência do ato artístico, vibrando-o em cada uma de suas composições.
Sua vida e obra reuniram frescor e vitalidade descomunal na tradução dos enigmas do mundo, que ela reforçava com a imagem do ovo, o qual preserva força e fragilidade. Tendo semeado a cena artística contemporânea com doses substanciais de visceralidade, vibração pictórica e imaginação capaz de contaminar quem estreita contato com sua obra, a artista nos deixa chaves de leitura sobre aspectos essenciais da vida. De fato, do seu Mundo Ovo, Eli conseguiu imprimir o gosto pela condição infinita da existência. Sua força “puramente instintiva”, segundo Harry Laus, faz dela uma das raras artistas a acompanhar o ritmo do instinto e do infinito.
Em A Visita do Pássaro, ela afirma: “porque eu sabia que minha obra / não iria terminar nunca”. Eli Heil deixa obras que a arte brasileira precisa, a todo custo, manter vivas.
*Josué Mattos é curador do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc)
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