O amanhecer de ontem foi marcado pelo som de tiros no Bairro Tabuleiro, em Camboriú. Fernando Robson Merighe, 21 anos, saía para trabalhar quando foi executado com 8 tiros de pistola calibre 9 milímetros, na porta de casa. Caiu à beira do portão já sem vida, sob os olhos da mulher, grávida de três meses.

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Segundo a polícia, o principal suspeito é um usuário de drogas, que acreditava ter sido denunciado à polícia pela vítima. Há três meses do final do ano, o crime eleva para 26 os assassinatos registrados na cidade desde o início de 2012 – quase o total de mortes contabilizadas em todo o ano passado, quando houve 27 homicídios.

A morte de Merighe foge ao padrão dos assassinatos em Camboriú. Apesar de ter ocorrido no Tabuleiro, bairro que divide com o Monte Alegre e o Conde Vila Verde o epicentro do crime na cidade, a vítima não possuía relação com o tráfico de drogas, apontado como principal causa dos homicídios que ocorrem em Camboriú.

– Ao que tudo indica, a vítima foi alvo de retaliação e já vinha sendo ameaçada – diz a delegada Daniela Souza, responsável pelo caso.

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Como tantos outros moradores da região, o jovem havia saído de Londrina (PR) em busca de uma vida melhor. Há poucos meses, tinha passado a morar na Rua Seringueira, onde dividia o terreno com a sogra. Para os vizinhos, Merighe era um rapaz que vivia entre a casa e os dois empregos, como instalador de gás e segurança. Para os amigos, demonstrava estar feliz com a gravidez da mulher, descoberta na semana passada.

– Ela está em estado de choque – disse uma tia do jovem, que preferiu não se identificar.

Merighe chegou a trabalhar três meses como agente de controle terceirizado no Complexo Prisional da Canhanduba. Mas, segundo a polícia, não haveria relação entre o antigo emprego e a causa da morte do rapaz.

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Até a noite de ontem, o suspeito do crime ainda era procurado. Segundo a polícia, ele teria atirado contra a própria perna durante a fuga.

Na rua onde morreu o jovem, ontem à tarde prevalecia o silêncio. Embora tenham sido acordados pelos tiros, a maioria dos vizinhos garantia não ter presenciado o crime.

– O silêncio preocupa, porque indica que impera o medo _ diz a delegada regional Magali Ignácio.

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Polícia em alerta

O número de assassinatos deixa em alerta a polícia. A delegada regional disse ontem que solicitou à Secretaria de Segurança Pública apoio da Central de Operações Policiais (COP) para ajudar a combater a criminalidade. Em 2010, quando a cidade foi alvo de uma força-tarefa das polícias Civil e Militar, com aumento de efetivo, o número de assassinatos caiu 44%.

Comandante da 1ª Companhia da Polícia Militar de Camboriú, capitão Pablo Neri Pereira diz que tem investido em operações especiais nos bairros mais violentos, que resultam na apreensão de drogas e armas.

– Na maioria dos assassinatos, há indícios de relação com o tráfico de drogas ou com o crime organizado – afirma o capitão.

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O argumento da PM é que muitos crimes são premeditados, o que impede a ação preventiva da polícia.

Prisão de suspeito não alivia a dor de quem perdeu um filho

Mães que choram pelos filhos mortos, em busca de justiça, não são raras de se encontrar em Camboriú. Como Sueli Santos, 52 anos, que perdeu o único filho há duas semanas, assassinado a tiros em uma briga de trânsito no Centro da cidade. Ela diz que não sabe de onde tirou forças, mas fez da casa onde mora, no Bairro Rio Pequeno, um local de permanente protesto.

Em frente ao muro repleto de cartazes, faixas e fotos do filho Luís Fabiano Rodrigues, 36 anos, dona Sueli soube ontem, pela polícia, que o principal suspeito pela morte do filho foi preso preventivamente, por ordem da Justiça. O homem de 37 anos, que teria atirado contra Luís Fabiano, foi encontrado num apartamento no Bairro Tabuleiro, e levado ao Presídio da Canhanduba.

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– Não me alivia em nada essa prisão. Me tiraram o único bem que eu tinha na vida, me arrancaram um pedaço – diz a mãe, com lágrimas nos olhos e apertando o peito.

Sueli diz que considera Camboriú uma cidade violenta e injusta. Mas não quer sair dali, já que vê na dor que enfrenta uma missão:

– Quero ajudar outras mães que estão sofrendo como eu a lutar por justiça. ?

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Moradores temem falar sobre o tráfico

O Bairro Monte Alegre, em Camboriú, é apontado pela polícia como o mais violento da cidade. Lar de gente simples e trabalhadora, foi tomado, ao longo dos anos, por traficantes e membros de quadrilhas do crime organizado. Mas os moradores silenciam quando se toca no assunto, com medo de represálias.

Muitas das ruas que cortam os morros, de chão batido, onde crianças correm de um lado para outro, servem de cenário para os assassinatos. Os moradores precisaram se adaptar à nova vida: dizem não ter medo mas evitam sair à noite, e muitos proíbem os filhos de circular pela vizinhança.

– Violência tem em todo lugar. Mas minhas sobrinhas só podem ir no máximo até o mercado – diz Rosa Agenor Teixeira, 60 anos, que vive há 20 no Monte Alegre.

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Vizinha de Rosa, Sueli de Fátima Quadros, 34, sentiu na pele a dor de perder alguém vítima da violência. A filha dela, de 10 anos, foi estuprada e morta em fevereiro, por um vizinho. O homem teria dito à polícia que usou álcool e crack antes do crime.

– Sinto muita falta dela. Desde que morreu, não consigo mais ser uma mulher alegre e feliz – diz a mãe, que espera o quinto filho.

Sueli, que é paranaense, afirma ter redobrado os cuidados com os outros filhos pequenos. Tem medo da violência, mas não pensa em sair de Camboriú por enquanto.

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– De onde eu vim, não tem emprego. Não tenho como sustentar as crianças sem trabalho.