O Sol nesta segunda-feira (8) ainda não havia aparecido quando um pequeno grupo de busca saiu do bairro Jarivatuba, em Joinville, e seguiu até a Serra Dona Francisca. Na rodovia, a esperança era de localizar rastros que indicassem o paradeiro de Maria Aparecida Borges de Oliveira, 53 anos, e Vilmar de Oliveira, 57. Os dois saíram de um sítio em Campo Alegre, às 22 horas de sábado (6), para retornar para casa, na zona Sul joinvilense.
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O regresso não se completou. Perto do km 17 da rodovia, a Hilux do casal começou a oscilar na parte traseira, o motorista não conseguiu controlar a direção e caiu em uma ribanceira de aproximadamente 300 metros. Por causa da queda, a cabine da caminhonete ficou completamente destruída. Os dois permaneceram na mata por 36 horas, sem comer ou beber água, dormindo embaixo do automóvel para evitar sofrer com as chuvas e o frio durante a noite.
— Ela (Maria Aparecida) contou que o carro caiu de frente, deu uma “bicada”. Depois, eles foram rolando o morro, capotando até embaixo. A mãe disse que viu tudo, o pai não. Acho que ele fechou o olho porque não queria ver, sabe? Ela disse que viu árvore descendo, vidro quebrando — relata a operadora de caixa Queli de Oliveira, 33 anos, filha do casal.
A narrativa de Queli poderia ter um fim trágico se não fosse a sensibilidade dela e dos irmãos. A certeza do desaparecimento começou a se concretizar quando o homem e a mulher não apareceram para o almoço de domingo, comportamento não habitual do casal. Inicialmente, a família suspeitava que pudessem ter sofrido um assalto ou sequestro. Queli, o irmão e a cunhada iniciaram as buscas e refizeram o trajeto dos pais.
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Ao chegarem à altura do km 17, pararam em uma curva onde localizaram uma marca de freada, que terminava perto de uma ribanceira. Assim, os irmãos ficaram à beira do morro e começaram a chamar pelos pais. Aos poucos, a voz enfraquecida de Vilmar começou a ser ouvida. De murmúrio se transformou em gritos, na tentativa de facilitar o resgate. Os familiares acionaram a polícia e os bombeiros.
Como o local era de difícil acesso, o helicóptero Águia da PM fez a retirada das vítimas de dentro da mata. Elas foram encaminhadas para atendimento no Hospital Municipal São José. Assim que enxergou os pais com vida, Queli afirma que ocorreu “um milagre”.
— Eu acredito, porque esse foi um milagre. Praticamente eles renasceram e ninguém acredita que eles conseguiram sair daquele carro com vida — completa.
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Estado de saúde é estável
A agonia da família foi grande no decorrer das 36 horas porque os pais não têm o hábito de desligar o smartphone ou sair sem avisar. Além disso, o trajeto é conhecido do casal, que visita o sítio da família, em Campo Alegre, de duas a três vezes por semana. Conforme a filha, eles nunca haviam vivenciado um acidente desta gravidade.
Vilmar e Maria Aparecida sofreram traumas em várias partes do corpo, ficaram fracos e sofreram diversas picadas de inseto. Como não havia rede de celular no local do acidente, restou ao casal aguardar o resgate. Entretanto, mesmo com a espera, a ajuda chegou na hora correta. Queli supõe que o desfecho da história poderia ter sido outro, caso ela e o irmão demorassem mais algumas horas para começar as buscas.
— O pai, acho que iria resistir um pouco mais; ela (a mãe) não porque estava muito fraca. O meu pai falava durante o resgate ‘olha ela, que ela tá morrendo’. Os dois contam que estavam se preparando psicologicamente para morrer, porque ninguém os viu caindo ali. A única esperança deles eram os filhos — conta.
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Apesar do susto, os dois passam bem. Eles permanecem internados no hospital, em recuperação. Segundo a assessoria do São José, o estado de Maria Aparecida inspira mais cuidados, em observação e acompanhamento. A expectativa da família é de que os dois tenham alta médica nos próximos dias.
Veja vídeo do resgate: