No auge da crise econômica em 2009, a grega Elena Lazarou fez como muito dos jovens de seu país e emigrou em busca de novas oportunidades. Há quatro anos morando no Brasil, hoje ela atua como professora do curso de relações internacionais da Fundação Getuilo Vargas (FGV). Com um domínio da língua portuguesa que impressiona qualquer nativo, ela conta que a população está longe de compartilhar o otimismo do governo grego com o futuro da economia.

Continua depois da publicidade

Veja mais informações no site

Zero Hora – Apesar da União Europeia dar sinais de recuperação, a retomada econômica não corre da mesma maneira em todos os países. A Grécia é um dos locais, por exemplo, que ainda sofre com a recessão. Como os gregos enxergam a própria situação?

Continua depois da publicidade

Elena Lazarou – Existem dois sentimentos na Grécia atualmente. O governo os formadores de políticas públicas passam por um momento de otimismo e já projetam um pequeno crescimento para o próximo ano, com criação de novas vagas de emprego e o surgimento de uma nova espécie de empreendedorismo. No discurso apontam as consequências positivas das reformas estruturais que foram implantadas. Mas isso é tudo muito recente, É um fenômeno de poucos meses. A opinião pública, no entanto, não compartilha de tanto otimismo. As melhorias nos indicadores econômicos ainda não são percebidos no dia a dia. O desemprego entre os jovens de 18 a 30 anos está muito alto. A ponto deles se referirem a si mesmos como “geração perdida”. Há uma frustração grande também entre os que estão empregados e tiveram seus salários cortados e também há críticas quanto a qualidade da educação pública.

Zero Hora – A Grécia foi palco de diversos protestos anos atrás. Alguns deles bastante violentos, inclusive. As manifestações pararam?

Elena Lazarou –Ainda há protestos na Grécia, mas em escala bem menor. Agora as manifestações são mais concentradas em sindicatos ou grupos específicos. Nos últimos tempos houve uma proliferação global de protestos e os gregos se uniram a tudo isso. Estão as manifestações que ocorrem hoje fazem parte de um conjunto de reclamações. Por outro lado, há um entendimento que, com ou sem o apoio da população, o governo vai seguir as medidas adotadas pela Troika. Não tem um caminho alternativo.

Zero Hora – Sair da Zona do Euro ainda é uma opção discutida entre os gregos?

Elena Lazarou – A saída da Zona do Euro era mais forte no início, quando ainda se discutia a melhor opção para sair da crise. Durante um tempo os gregos ficaram em uma encruzilhada. Seguir as recomendações do FMI e adotar políticas de austeridade fiscal ou abandonar a comunidade europeia e apostar em uma superdesvalorização da moeda? No final das contas optamos pela primeira opção e estamos esperando para ver onde isso tudo vai dar. Essa discussão só vai voltará tona se a economia não der sinais de reação. Por enquanto parece estar funcionando.

Continua depois da publicidade

Zero Hora – O governo alemão é um dos defensores de que sejam impostas condições para que os países mais debilitados economicamente recebam ajuda financeira. Ficou algum arranhão diplomático com a Alemanha?

Elena Lazarou – As medidas de austeridade não foram impostas por um país ou por outro, mas pela comunidade europeia. Em geral, há uma transferência de soberania dos países para a União Europeia. Nesse contexto, é claro que a Alemanha, principal economia da região, tem um papel importante. Mas é uma decisão em conjunto. Há uma sensação que a Alemanha poderia sim ter sido mais sensível e exigido menos para ajudar a Grécia. Mas nada disso causou um efeito negativo entre os governos. Não existe um resfriamento diplomático entre os dois países. É uma ruptura que se vê apenas na opinião pública.