A união de setores moderados contra conservadores divididos permite que a oposição iraniana, reprimida com violência em 2009 e barrada de concorrer neste ano, vislumbre vitória nas eleições de hoje no país persa.

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O desafio é convencer os eleitores a irem às urnas – estão desanimados com censura, fraudes, perseguições e autoritarismo do regime no qual o aiatolá Ali Khamenei tem a palavra final.

A votação teve início às 8h locais (0h30min, em Brasília). Dos seis candidatos ainda na disputa (dois desistiram esta semana), o mulá Hassan Rouhani, 64 anos, é o moderado que arrancou das últimas posições e alcançou o favorito, o prefeito de Teerã, Mohamed Qalibaf, conservador.

Outros dois pretendentes se destacam no campo majoritário, mais alinhado a Khamenei: o ultraconservador radical e chefe dos negociadores nucleares, Said Jalili, e o ex-chefe da diplomacia Ali Akbar Velayati. Nos últimos dois dias, multiplicaram-se pedidos pela renúncia deles para fortalecer apenas um nome, mas ninguém aceitou a estratégia. Os candidatos “transformam o rio de votos conservadores em uma multidão de riachos”, alertou ontem o jornal ultraconservador Kayhan.

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Khamenei, que não abriu voto, mas se identifica com Jalili, pediu participação massiva para “desencorajar os inimigos” que pressionam o país.

Na campanha, no entanto, predominou um clima de apatia alimentado pelas ações do regime nos últimos quatro anos. Em 2009, multidões foram às ruas denunciando fraude depois de Mahmoud Ahmadinejad ser declarado vitorioso poucas horas após o fechamento das urnas. Detalhe: as cédulas são em papel e sua contagem é manual. O favorito então era Mir Hussein Mussavi. Dezenas de pessoas morreram em confrontos e centenas foram perseguidas. Mussavi está até hoje preso por motivos políticos.

Em maio, um novo episódio jogou água fria nos eleitores que se animavam com a candidatura do ex-presidente Akbar Rafsanjani. Ele foi barrado de concorrer pelo órgão que homologa as candidaturas. Na quarta-feira, Rafsanjani pediu votos a Rouhani, seguindo o gesto do também ex-presidente Ali Khatami.

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Desta vez, quem pregava o boicote em protesto à detenção dos líderes e ao veto arbitrário à candidatura de Rafsanjani decide se fica em casa ou se briga nas urnas. Dando um voto de confiança a Rouhani, porém, legitimando, com a participação popular, o pleito controlado por Khamenei.

Sutis diferenças sobre o programa nuclear

A crise econômica provocada pelas sanções internacionais decretadas contra o programa nuclear de Teerã esteve no centro da campanha eleitoral. Dos candidatos conservadores, apenas Said Jalili, considerado a voz do líder supremo, Ali Khamenei, é partidário de uma linha dura no tema nuclear, defendendo uma “economia de resistência” e uma rejeição de qualquer concessão às grandes potências. Ali Akbar Velayati conta com sua experiência de 16 anos na liderança da diplomacia para reduzir a pressão sobre Teerã. Mohamed Qalibaf é evasivo – não defende radicalismos, mas também não quer comprar briga com Khamenei. Diz que quer reativar as negociações, que se arrastam desde 2005, “com sabedoria”.

Hassan Rouhani tampouco era, até semanas atrás, alguém considerado capaz de promover alguma mudança no regime iraniano, mas seu discurso conciliador conquistou as alas mais propensas a uma abertura. Defende que o país pare de fazer de conta que está negociando com a comunidade internacional.

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Todos sabem, no entanto, que o programa nuclear e as questões estratégicas se encontram sob a autoridade direta do aiatolá Khamenei.