Bombeiro militar da reserva, Carlos Moisés da Silva – ou Comandante Moisés, como prefere ser chamado –, não tem histórico político. Foi só no início de março deste ano, quando se filiou ao Partido Social Liberal (PSL), que começou a atuar com mais frequência no meio e a construir aquela que seria a sua candidatura ao governo do Estado. Comungando dos mesmos ideais do correligionário presidenciável, Moisés quer desfrutar do potencial de Jair Bolsonaro em SC para amplificar o seu resultado nas urnas. O candidato escolheu a palavra “mudança” como a que vai orientar a caminhada até a eleição.
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PERFIL
Nascimento: 19/8/1967
Natural de: Florianópolis
Profissão: bombeiro militar
Escolaridade: superior
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Carreira política: nunca foi eleito para cargo público.
Confira a seguir a entrevista com o candidato:
Sua candidatura foi definida nos últimos dias. Quando o senhor soube que seria candidato a governador e como isso ocorreu?
Teve uma história recente. Nunca fui filiado a partido político e fui convidado pelo presidente estadual, Lucas Esmeraldino, para compor o diretório em Tubarão. Aí, eu o informei que estava morando em Florianópolis e não tinha possibilidade de trabalhar lá. Ele me convidou para participar da executiva estadual. Vim para ser tesoureiro do PSL e os olhares foram se voltando, até pelo meu perfil de liderança, e o nome começou a ser cogitado dentro do próprio partido. Eu não acreditava que fosse aceitar o desafio no primeiro momento e depois comecei a incorporar isso de tal forma que acabei buscando e dizendo “eu quero ser candidato”. Acho que sou uma possibilidade real de fortalecer o partido e discutimos isso. Tinha mais outras duas opções e a maioria entendeu que eu deveria ser escolhido para concorrer com a Daniela Reinehr, que é a nossa pré-candidata a vice-governadora.
O senhor se sente pronto para governar Santa Catarina a partir de janeiro?
Sim. Tenho uma história de retidão no serviço público. Não vou falar de mim porque as pessoas que me conhecem e conheceram o meu trabalho durante todo o tempo em que comandei as tropas no Sul do Estado, em Criciúma, em Tubarão, sabem da forma com que eu atuei. Esse conceito de estar pronto é justamente conhecer o Estado, saber das dificuldades. No Corpo de Bombeiros, a gente sempre faz mais com menos, com o pouco que a gente tem. A gente participa de processos licitatórios, faz a melhor escolha para o serviço público. Participamos de uma seleção de pessoal que escolhe o melhor para o serviço público. E a gente não vê isso acontecer em todas as esferas do Estado. Quando se fala em estar preparado, penso que isso está intimamente ligado à corrupção. Quando você vê o Estado selecionando as ofertas de produtos e serviços que ele precisa consumir fechado com blocos empresariais, aí vem a corrupção que não é só no poder público, mas também da iniciativa privada como a gente vê na Operação Lava-Jato. Penso que se você for íntegro, tem 90% de chances de acertar muito mais no poder público. No Corpo de Bombeiros, por exemplo, se você não tiver boa técnica, se você não tiver boa resposta, você não sobrevive ao trabalho. Mas, acima ainda da boa técnica, tem que haver um caminho reto e a condição de definir quem serão os seus parceiros. Quando há grandes blocos de partidos atuando no Estado, você loteia o Estado. Acho que essa preparação a vida me deu, exatamente lidando com condições em que eu tinha projeto para terminar, mas não conseguia fazer por depender unicamente do Estado, tendo que pedir apoio à iniciativa privada. No Sul, fizemos várias parcerias. Os bombeiros têm um veículo chamado Auto Socorro de Urgência (ASU). Nós não tínhamos condição, dinheiro público para comprar. Tinha dinheiro para tudo, menos para comprar uma ambulância. E quando cheguei em Tubarão, carregávamos as pessoas em um F1000, com uma maca e os bombeiros meio soltos dentro do veículo. Isso em 1993. E nós fizemos uma parceria com a iniciativa privada e ganhamos as ambulâncias. Então, você percebe que gestão tem a ver com parcerias público-privadas, mas também tem a ver com trabalho, e isso é resultado não só de técnica, mas também de uma boa condução do erário.
Veja as entrevistas dos candidatos ao governo de SC aqui.
A candidatura do senhor é motivada exclusivamente pelo potencial Bolsonaro
em nível nacional?
Temos que estar alinhados com os ideais. Quando me convidaram, fui ler o estatuto do partido para ver se aquilo era razoável. Adequando isso ao acompanhamento que já faço do presidenciável Jair Bolsonaro, entendi que eu poderia estar aqui sem problema nenhum, comungando dos mesmos ideais. É inegável que, quem tem a opção por Bolsonaro, naturalmente pretende fazer com que haja um bloco de governabilidade. Então, penso que todas as candidaturas (do PSL) são alavancadas por Jair Messias Bolsonaro. Conhecendo, por exemplo, o Lucas Esmeraldino, que é o nosso pré-candidato ao Senado em Tubarão, eu vi as bandeiras que ele levanta e entendi que poderíamos estar ao lado dele, sem problemas.
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O senhor acha que quem vota em Bolsonaro, vota em Comandante Moisés?
Acho que o cidadão catarinense tem esse discernimento pelo voto limpo. Nós somos um Estado que fez escolhas. Basta olhar as últimas eleições. Teve candidato que fez 60%, quase 70% dos votos contra um sistema que a gente percebeu que não servia. Penso que vem nessa mesma linha a questão do Bolsonaro, tentando apresentar o novo, uma mudança de verdade. Me sinto bem à vontade e acho que alavanca sim, é inegável que isso vai contribuir com todos os candidatos estaduais, federais, ao Senado e também ao governo, que eu penso que é uma candidatura importante. Por que eu defendi essa nossa candidatura, que só veio aos 47 do segundo tempo? Primeiro, porque a militância do partido é radicalmente contra coligações com grandes blocos, e em segundo porque acreditamos que a nossa proposta se alinha com a de Bolsonaro, que é no sentido de não ficar devendo esses espaços para pessoas em quem você nunca olhou nos olhos. Quando você coliga com grandes corporações de carreiras políticas, terá secretários com quem você nunca sentou. “Essa área aqui é do partido A, essa aqui é do partido B”. Você loteia o Estado e entrega SC para uma comunidade de mafiosos que vão se apoderar do dinheiro público, daquilo que o contribuinte entrega. O Estado procura o cidadão quando é para entregar o boleto para você recolher seus tributos. Até tem transparência, mas é uma transparência tão técnica que eu e você não conseguimos enxergar, em que você perde semanas para entender de onde vem e para onde vai o dinheiro. Penso que o que a gente precisa é de um conteúdo justo para que a gente possa fazer gestão para os ideais pelos quais o Estado foi criado. O Estado trabalha com pouco foco naquilo que poderia trabalhar.
Jair Bolsonaro tem seguidores ferrenhos e tem aparecido com boa condição nas pesquisas, até em SC acima da média nacional. Ao mesmo tempo, existe uma reação muito forte a ele pelos posicionamentos. Como o senhor vê essa figura? O senhor assina 100% o discurso dele?
Digo que o Bolsonaro é o cara do pavio curto, pela fala dele. Ele mesmo diz que está se moldando a essa condição de estar com grandes públicos, de pressão da imprensa, de uma pergunta indelicada ou expositiva demais. A gente já reparou que falas dele que são muito contundentes são recortes de um conteúdo que não foi mostrado. Ele é um cara muito expansivo, tem posições firmes, mas nem todas foram bem interpretadas. Eu também não sou um minibolsonaro, sou um homem que nasceu aqui em Florianópolis, tomou banho no Poção, venho de uma família simples, consegui atingir os objetivos que tracei, voltei à cidade, e vejo que o conjunto da obra é bom.
Na educação, o senhor também é contrário à discussão de ideologia de gênero nas escolas?
Penso que da forma que isso for colocado para a tenra idade, temos que repensar. Se viu muito material que fosse talvez inadequado e que invadiu o conteúdo que as famílias deveriam tratar. Então, a gente vê que isso tem que ser revisto, sim. Assim como quando se fala em Escola Sem Partido. Quando você lê as seis pautas do Escola Sem Partido, você não fica avexado com o que está ali. Como professor universitário, tratei os alunos que não eram crianças com muita isenção e víamos temas de Estado, da teoria do Estado, discussões que tratávamos de pontos, como o direito administrativo, em que o aluno questionava a ação de governos A, B e C. Você tem que se manter, de certo modo, reto, e não usar daquele espaço que é de uma fundação pública para exercer a sua ideologia. Até porque quando você tem um aluno universitário maduro, ele vai discutir as duas ideias, vai debater com o professor. Aí, quando você faz isso na tenra idade, a criança ou o adolescente absorve isso. É desproporcional a força.
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Bolsonaro diz que boa parte do seu ministério será composto por militares e, inclusive, escolheu um vice militar. O senhor, também vindo de uma corporação com hierarquia militar, pensa assim?
Não penso assim. Gosto muito da ideia do servidor de carreira trabalhar, seja como secretário ou como secretário adjunto. Hoje, se compõem secretarias para colocar camaradas. E eu venho para a eleição em que não tenho medo nem de perdê-la, nem de ganhá-la. Um amigo meu diz: “o pior que pode te acontecer é você ganhar essa eleição”. Nosso Estado, tem muitos problemas, de fato, mas isso é uma herança do que foi deixado. Não sei nem como essas pessoas que pleiteiam cargos públicos conseguem se explicar como candidatos. Fico um pouco até impressionado com essa condição de vir a público dizer: “eu sou o novo”, “quero renovação”, “quero mudar”.
O senhor pretende ampliar o número de colégios militares no Estado?
Acho que é uma excelente opção. Não é um padrão. Vejo com naturalidade isso. Experimenta. Funcionou? Não significa que tenha que ser um padrão. Vivi aqui (em Florianópolis) há 25 anos e lembro que tinha um colégio público que era a ambição de todos nós. Um colégio grande, de fato, e que depois foi se tornando um local de uso de drogas, de violência entre alunos. Hoje, ninguém mais quer estudar naquele colégio. Ele criou um outro perfil. A gente dizia na época que eram os filhos dos ricos que estudavam lá, e era um colégio público. O fato de ser militar não deixa a criança militarizada, quadrada, ou menos preparada. O que a gente estuda dentro de uma academia militar é o que todos estudam dentro de uma universidade.
Temos uma sensação de insegurança muito grande, crescimento de homicídios, guerra de facções nas cadeias. O que o senhor traria para essa área de diferente do que já é feito?
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O foco de todos os problemas do Estado está na corrupção. Onde tem corrupção, não tem dinheiro para aquilo que é importante. O que importa não interessa, como se diz no jargão. Tendo o Estado mais saneado, você tem condições de potencializar as polícias. A polícia técnica, a Judiciária. Há estados brasileiros em que a elucidação dos homicídios é baixíssimo, 5%. Em Santa Catarina talvez próximo de 50%. Tudo é interligado. Você não mora na União, no Estado. Você mora no município e o dinheiro tem que chegar até lá. Ser mais município e menos Brasília, com uma revisão desse Pacto (Federativo) que não nos favorece. E tudo está muito interligado. Nós precisamos mudar o Brasil de cima até embaixo para termos esse resultado. Eu me preocupo muito com essa discussão porque conversei nessa corrida que estamos fazendo agora com alguns empresários, e muitos aqui de SC em vários municípios do Médio e Alto Vale, e perceba o que acontece: eles têm condições de ter empresas nos Estados Unidos, porque hoje com US$ 500 mil ou US$ 1 milhão, os EUA abrem as portas para você se instalar lá, recebe o Green Card, consegue morar. Visitei uma empresa em SC em que os donos moram no Uruguai, têm os carros emplacados no Uruguai, abriram empresa lá, compra tudo pela metade do preço. Acho que tem um problema aí, né? Qual o cidadão que quando vai comprar um carro zero quilômetro, aqueles que podem, claro, não compara com o mesmo preço desse veículo lá fora, pensa que está sendo lesado. Quando você pega um cupom fiscal de combustível e vê que xis por cento são tributos. Você começa a imaginar que o que você paga poderia ser bem menos. Não praticamos a justiça tributária, não investimos onde temos que investir, não tiramos as pessoas das ruas. Me parece que o amor de muitos esfriou e você não consegue mais enxergar o ser humano. As pessoas têm que ser resgatadas, têm que ter a alma tratada, tiradas das ruas. Temos uma série de problemas para atacar no Estado, e nós não podemos fechar os olhos para isso. O que me traz aqui, nessa condição que eu não busquei com unha e dentes, é exatamente essa vontade. Estou em uma condição em que eu poderia estar vivendo com minha família, viajando mais, e resolvi me colocar à disposição porque penso que Santa Catarina precisa ter uma alternativa de verdade, de alguém que se importe com as pessoas, que se importe com o poder público, com o bem público. Muitos tratam o erário como se fosse seu, mas não no sentido de zelar, e sim de se apoderar, o utilizando para fins que não são republicanos.
Pelo fato de a candidatura do senhor ter chegado de repente, como admitiu, há pouco de concreto no programa, em proposta, certo?
Tenho propostas concretas. Os meus mais de 30 anos de serviço público me trouxeram alguns momentos de depressão, momentos de euforia por conta de tudo que assisti. E sempre dizia: “se um dia eu tiver essa caneta…”. Dizia à minha tropa que infelizmente a caneta não era minha e que tinham que trabalhar com aquilo que lhes era colocado.
Se o senhor tiver a caneta, mas tiver que dialogar com esse poder constituído, com essa Assembleia Legislativa ou com uma muito semelhante, como seria esse diálogo?
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Tenho muita fé. Estamos de fato por uma mudança real. Penso que o cidadão já percebeu isso. Não podemos ter uma falsa sensação de movimento político das pessoas, até porque eu, por exemplo, estou no meio de um caldeirão. Estou tendo esse olhar, mas já percebi que várias pessoas que não se envolviam com política, que a demonizavam, estão mais atentos. Um amigo me ligou e disse: “Moisés, você vai ter meu apoio, mas você é muito honesto para estar pisando aí”. Não estou fazendo uma autopropaganda, mas vi uma fala muito equivocada dele. Aí, a gente percebe como o cidadão vê o poder público. Lá, não posso pisar, porque lá (a Alesc) é um lugar que tem que ser demonizado, que tem que ser deixado para outras pessoas. E temos concitado a todos a se envolverem na política. E a decisão, a coragem, de se apresentar como pré-candidato passa pelo desejo de contribuir. Tenho certeza que nosso time está sendo bem construído e que temos essa capacidade de agregação, de conversar com as pessoas. Não há problema em fazer composições para aprovar aquilo que é para o bem do povo.