Deputado estadual desde 2005, Gelson Merisio, candidato do Partido Social Democrático (PSD), tenta neste ano chegar pela primeira vez à principal cadeira do Executivo no Estado. Com força política no Oeste, o candidato tem no currículo a participação em importantes instituições como a Casan, enquanto diretor financeiro, e o Sebrae, como presidente do Conselho Deliberativo, além de ter presidido a Assembleia Legislativa em três mandatos. No seu programa, Merisio tem como bandeira a segurança e aposta na reconvocação de 5 mil policiais militares da reserva como uma das formas de conter o crescimento da criminalidade. “Trabalho” foi a palavra escolhida pelo pessedista como a que vai guiar sua trajetória caso seja eleito.

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PERFIL

Nascimento: 31/6/1966

Natural de: Xaxim (SC)

Profissão: Administrador de empresas

Escolaridade: Superior

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Carreira política: Vereador em Xanxerê de 1989 a 1992 e deputado estadual de 2005 até agora

Confira a seguir a entrevista com o candidato:

Há três mandatos e meio, há uma aliança entre o MDB e PSD. O que significa o rompimento dessa aliança e quem é situação e oposição agora?

Não se trata de situação ou oposição, se trata do fim de um ciclo que prestou o seu serviço no Estado e que, ao longo do tempo, acaba criando vícios e impossibilidade de exercer convicções em sua plenitude. Eu, há algum tempo, defendo o rompimento da aliança com o MDB, mas não por crítica, desdenho ou desrespeito, pelo contrário, com respeito à história. Mas temos que iniciar um processo novo, rompendo com práticas antigas e permitindo que as convicções de cada um sejam exercidas em sua plenitude. Isso é impossível de se fazer com o MDB, que tem uma matriz administrativa completamente diferente daquela que eu penso.

Como seria um governo do PSD sem o MDB?

Olha, tem o governo do PSD do Raimundo, e o governo do PSD do Merisio. Não se trata de questão partidária, se trata de estilo pessoal e de conhecimento do momento. Quando falo de um modelo que tem que ser mudado, não é uma crítica ao passado. Se trata da compreensão que tenho para frente, na qual a geografia das urnas, que até aqui funcionou, não pode mais existir, que os cargos comissionados, que até aqui eram 1,4 mil preenchidos por indicação política, têm que acabar, e para isso é preciso acabar com os cargos, porque senão a prática continua. Não é apenas a extinção das regionais, mas extinção dos 1,2 mil, 1,4 mil cargos existentes.

Confira as demais entrevistas dos candidatos ao governo de SC aqui.

Sua aliança não tem o MDB, mas tem 15 partidos. Eles sabem que esses cargos vão acabar?

Desde a primeira reunião, sempre ficou muito claro esse posicionamento. Quem está participando conosco sabe que terá no governo uma participação de opinião, de vocação, de tratar as questões do Estado, e não para arrumar emprego para os seus filiados. Não é para isso que formamos a aliança. Aliás, ela se deu muito mais pela viabilidade das chapas proporcionais do que propriamente por uma participação ostensiva no governo. O governo será enxuto, ouvindo a opinião daqueles que participam conosco da eleição, mas tendo no servidor efetivo o carro chefe dos procedimentos administrativos. Mil e duzentos comissionados a menos significa salário para 2,5 mil policiais. Aliás, queremos trazer 5 mil policiais no primeiro ano para o processo efetivo. Convocando policiais da reserva que tenham aptidão física e voluntariamente se dispuserem a voltar a usar farda, com remuneração específica para isso.

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Entre chamar o policial e ele efetivamente trabalhar há um espaço grande. O senhor já tem uma avaliação? Quantos podem voltar à ativa?

Pesquisamos primeiro o interesse dos policiais que estão na reserva. Em segundo, a disponibilidade de policiais que tenham aptidão física para retornar aos trabalhos. Como a aposentadoria se dá em um tempo muito curto, 25, 30 anos de atividade funcional, existe um número muito grande de policiais entre 45 e 60 anos com aptidão física demonstrada por eles e vontade de voltar. Porque o policial tem muito apego à farda. Então, nós temos que construir uma situação legal que lhes dê absoluta tranquilidade no status de aposentado no regime atual e que lhe permita uma nova carreira com remuneração específica e com economia para o Estado. Porque a formação do policial na academia custa R$ 80 mil cada um e mais 11 meses de treinamento. Isso não quer dizer que se encerram os concursos públicos, nós continuaremos a mesma política que vinha sendo feita agora para renovar a tropa. Mas para aumentarmos de 10 mil para 15 mil em um tempo curto, só trazendo da reserva, porque não há condição de formação que suplante os que saem para a aposentadoria e aqueles que entram para o serviço público de forma rápida.

Haverá também estímulo salarial?

Será uma nova remuneração, com base em um critério que será estabelecido e que lhes traga vantagem financeira para voltarem ao trabalho, além da segurança, do equipamento que vai ser dado, do processo oficial. O que ocorre hoje: o policial se aposenta com 45, 50 anos, e vai para uma atividade privada, muitas vezes sem equipamentos de segurança e correndo muito mais riscos do que se estivesse exercendo uma função de Estado, que é a vocação do policial, é a farda que traz um poder intrínseco para ele. Tenho convicção que com diálogo, com absoluta transparência, será o caminho para recompormos rapidamente o efetivo.

Quanto essa chamada pelos policiais da reserva pode contribuir com a segurança pública?

Temos hoje 10 mil policiais. Precisaríamos de no mínimo 15 mil, associado a um processo de investimento pesado em tecnologia. Nós precisamos de mais de R$ 2 bilhões de investimento nos próximos três anos em tecnologia. Segurança pública não é só o policial. É ele, o juiz, o promotor, o prefeito. É o conjunto da sociedade que precisa tomar uma decisão. Ou enfrentamos o crime organizado agora e asfixiamos um processo que está crescendo, ou vamos ser o próximo Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul. O RJ tem 49 homicídios para cada 100 mil habitantes. O RS tem 28. Nós já estamos com 12 e tínhamos um histórico de seis (homicídios a cada 100 mil habitantes) até 10 anos atrás. Nós temos que ter um comparativo para nós mesmos, não com os outros Estados. Dizer apenas que nós temos os melhores indicadores não quer dizer que temos sensação de segurança. E esse para mim é o maior patrimônio do catarinense. Vai impactar na saúde, na educação e especialmente no turismo. Se fala muito que nós temos um Estado turístico. Por que a Jamaica tem um número absurdo de turistas? Porque tem segurança. Infraestrutura nós temos, belezas nós temos. Qual o aparato que falta para sermos uma grife de venda para o mundo? Segurança na sua plenitude. É claro que todas as outras áreas são importantes, especialmente a saúde, a educação. Agora, se não tivermos sensação de segurança, todas as outras áreas serão afetadas. Tenho dito que nós, a sociedade, temos vivido em um regime semiaberto. Trabalhamos de dia e às 18h vamos para casa, ligamos a cerca elétrica, fechamos os muros e dormimos até o dia seguinte para poder voltar ao trabalho. Isso tem que acabar.

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O que o senhor vai mudar na política do sistema prisional, que foi comandado pelo MDB nos últimos 12 anos, pelo menos?

Não se trata de quem comandou, se trata de um modelo que está equivocado. Nós perdemos a capacidade de fazer o gerenciamento dos presídios. Como há superlotação e não há mais o filtro entre o criminoso que está preso por vender meio quilo de maconha e o que cometeu um latrocínio com 100 anos de pena, você tem um guri de 18 anos que está lá por um crime de menor impacto e que sai de lá como escravo do crime organizado. Um envolvimento efetivo com juízes de execução penal, com o MP, com o Estado, para não só a ampliação no número de vagas, mas também da pena alternativa para aqueles que não oferecem risco à vida, é um processo de construção. Transferir responsabilidade não serve mais. A sociedade é uma só.

O senhor falou da convocação de policiais, da aplicação de recursos em segurança pública. De onde enxugar para poder pagar isso?

Falei de 1,2 mil cargos comissionados, eles pagam 2,5 mil salários de policiais. Temos hoje 108 departamentos de recursos humanos no Estado para apenas um empregador. Temos um processo administrativo que ainda pode evoluir muito com o enxugamento de custos. Isso tem que ser revertido em serviços. E o serviço prioritário neste momento é o da segurança pública. Na questão de investimentos, temos áreas que precisarão ser refeitas de forma a gerar receitas novas para o Estado.

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O senhor se refere a privatizações?

Não, necessariamente. Falo de ativos fundamentais para o dia a dia do serviço público. Temos uma demanda de ativo que precisa ser canalizada para áreas absolutamente específicas. Por exemplo, nós temos um déficit previdenciário de quase R$ 3 bilhões por ano. Temos que construir ferramentas para poder suprir esse déficit, mesmo que parcialmente, para liberar o caixa para ações diretas de segurança pública, de saúde, de educação. Nós teremos que ter criatividade, transparência na gestão, e nem prometer milagre, nem terreno na Lua.

Desde que Eduardo Pinho Moreira (MDB) assumiu o governo, vem falando de uma quase herança maldita, com dificuldades em pagar salários e a ideia de mandar orçamento com déficit no fim do ano. O PSD entregou as contas no vermelho ao MDB?

O MDB é especialista em atrasar salários. Foi assim em 1995, 1996, 1997 e entregaram 1998 com quatro folhas atrasadas. Nós passamos a crise de 2016 e 2017, aliás, a maior crise econômica da história do país, sem atrasar salários, mantendo as obras em andamento, com dificuldades, com problemas, mas falando bem do Estado, vendendo uma imagem de um Estado que tem capacidade de recuperação. Vi uma entrevista do atual governador dizendo que se fôssemos uma grande empresa, estaria quebrada. Isso é uma bobagem. Uma inverdade. O nosso resultado primário é positivo nos últimos 10 anos. Nós temos é uma baixa capacidade de investimento. A geração de caixa é insuficiente para os investimentos necessários. Uma empresa, quando quer fazer um investimento a longo prazo, busca alavancagem. Hoje, as regras do Tesouro Nacional permitem que o Estado tenha até 200% do patrimônio líquido comprometido com financiamento a longo prazo. SC tem apenas 40%. São Paulo, por exemplo, tem 170%. Com bons projetos, com um financiamento de longo prazo que permita melhoria da receita, competitividade, há formas de alavancar o Estado. Temos que vender um Estado que seja desenvolvimentista, que permita desonerar a atividade produtiva, que tenha uma legislação ambiental que permita ao empreendedor ter agilidade nos processos e que tenha no crescimento econômico a solução de seus problemas. Pregar e vender o pessimismo só nos traz para trás.

Nas últimas quatro eleições, a saúde foi a prioridade apontada pelas pesquisas e continua sendo problema, inclusive com a dívida que chegou a R$ 1 bilhão. Como equacionar essa dívida e fazer com que a saúde deixe de ser uma preocupação do catarinense?

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Aprovei a emenda constitucional de minha autoria para passar de 12% para 15% o mínimo empregado pelo Estado em saúde pública. Isso vai permitir, pelos próximos 10 anos, R$ 8 bilhões a mais em recursos. Só neste ano, serão mais de R$ 1 bilhão. Portanto, com 15% de receita com uma boa gestão, vamos melhorar o atendimento na saúde. Ela sempre será um problema, uma demanda maior do que a disponibilidade, porque melhoram os tratamentos, as pessoas estão vivendo mais e, portanto, com mais problemas de saúde. O Estado tem que investir exatamente para fazer esse equilíbrio.

Cite alguma cidade ou instituição que seja exemplo da saúde.

Vamos tratar dos hospitais. Nós temos os hospitais regionais de Chapecó, de Xanxerê, de São Miguel do Oeste, de Concórdia que funcionam muito melhor do que hospitais da Grande Florianópolis. É um exemplo prático de forma de gestão e que precisa ser aprimorado. Hoje temos um processo de 14 hospitais públicos e que consomem um recurso desproporcional com os leitos que são atendidos. Os outros estão certos, ou aqui está errado? As duas coisas. Mesclar o processo, trazer gestão para os hospitais públicos, não importa a forma de administração, se é direta ou indireta. Mas temos que ter um comparativo. Você não pode ter um custo por leito em Chapecó, outro em Criciúma, outro em Florianópolis. Há de se ter uma integração, um entrosamento nesses processos, porque eles são iguais e os custos, portanto, têm que ser semelhantes. Dá para evoluir, nós temos experiências que precisam ser copiadas e outras que precisam ser alteradas e enfrentadas.

Temos em Santa Catarina um hospital que tem característica de regional, mas é municipal, o São José em Joinville. O governo do Estado hoje ajuda a prefeitura a manter essa unidade.

O senhor pretende fazer alguma ação, como adotar esse hospital?

Tenho dois grandes compromissos com Joinville, e são difíceis de serem cumpridos, mas que serão. Primeiro, vamos assumir a folha de pagamento do Hospital São José. Não é justo com a cidade que um hospital que seja regional seja arcado pelo município. Nós vamos encontrar a forma de o Estado assumir a folha de pagamento. Isso vai desonerar a prefeitura, permitindo que possamos fazer parceria do Estado para que a infraestrutura de Joinville seja melhorada. O segundo é termos mais 1 mil policiais em Joinville no primeiro semestre do ano que vem, fruto dessa reconvocação. Joinville é uma divisa com o Paraná. Hoje, 73% dos presidiários de Joinville são do Paraná. Nós temos que fechar a fronteira e construir um processo de segurança efetivo que passe por mais policiamento e por mais tecnologia. Quanto ao Hospital São José, essa parceria representa um convênio de R$ 150 milhões por ano para Joinville. Mas é necessário, é a maior cidade do Estado e é um direito que Joinville tem e que até hoje não foi efetivado.

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Existem muitas críticas à política de incentivos fiscais em prática pelo governo do Estado. O senhor pretende revê-la?

Rever a política, não. Rever a forma e a transparência dela, sim. Nós temos uma receita tributária que vai crescer 8% neste ano. Como é que um modelo tributário está equivocado, se mesmo durante a crise continuou crescendo? O nosso modelo fiscal é apropriado. Essa política tem que ser transparente, impessoal e dar segurança ao catarinense de que ela é feita de forma clara, honesta e transparente. O Estado precisa desse instrumento para ser competitivo. Se a nossa política fiscal fosse equivocada, não teríamos neste ano 8%, 9%, 10%, ou como agora, em julho, que vamos crescer 11% em relação a julho do ano passado. Aliás, eu queria entender como é que pode. Neste ano, no mesmo período, nós já crescemos 8% em relação ao ano passado e mesmo assim o governo está atrasando folha de pagamento, não pagou os 50% do décimo (terceiro). No ano passado com 8% menos nós pagamos os 50% do décimo em julho. Nós atravessamos 2016 e 2017 com o PIB decrescente. No ano passado, cresceu 4%, com reflexo neste ano. Boa gestão, equilíbrio fiscal e transparência são as ferramentas.

Confira as entrevistas dos candidatos ao governo de SC:

Carlos Moisés da Silva

Décio Lima

Gelson Merisio

Ingrid Assis

Jessé Pereira

Leonel Camasão

Mauro Mariani

Rogério Portanova