O coronel da reserva do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva (PSL), chega ao segundo turno da eleição para governador do Estado com uma votação que joga para longe as avaliações dadas a ele de “azarão”. Com 29,7% dos eleitores ao seu lado, entra na disputa final tendo como principal aliado o candidato à presidência Jair Bolsonaro, também do PSL.
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Durante a semana, o presidenciável protagonizou a principal polêmica deste segundo turno em Santa Catarina ao dizer que manteria neutralidade entre Moisés e Gelson Merisio (PSD), mas um dia depois disse que está “torcendo” pelo coronel aposentado.
A entrevista que você vai ler abaixo, aos colunistas foi dada pouco mais de 30 minutos depois de ser divulgada a notícia de que Bolsonaro havia se posicionado pela neutralidade. Mesmo assim, Moisés não se mostrou abalado e disse que a situação não atrapalharia sua candidatura.
Ele encarou uma sabatina com quatro colunistas da NSC Comunicação – Ânderson Silva, Estela Benetti, Moacir Pereira e Upiara Boschi -, e falou sobre como pretende efetivar as propostas em setores como saúde e segurança pública, duas de suas principais bandeiras.
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Servidor efetivo do Estado por 30 anos, Moisés pretende valorizar os funcionários públicos com a redução dos cargos comissionados. Nos postos de comando, o candidato promete colocar efetivos, mas ainda não anunciou nomes para os principais cargos como as áreas da Fazenda e Segurança Pública.
Na entrevista, o candidato não fugiu de temas polêmicos e das suas semelhanças de ideias e propostas com o presidenciável do PSL. Leia abaixo:
Moacir Pereira – Nos debates em que o senhor participou, você nunca falou em ir para o segundo turno. Você também foi surpreendido como resultado?
Esperávamos esse resultado. A gente tinha muita esperança de estar no segundo turno, imaginávamos que poderíamos entrar no segundo turno com uma votação em torno de 20%. A gente sempre pensava em fazer dois dígitos. A gente sabia que aqui em Santa Catarina temos partidos que fazem sua cota de votos, tradicionalmente, então dividimos isso num mapa. A gente sabia da possibilidade de entrar em primeiro turno, era impossível por conta dessa divisão de votos, dos grandes partidos, cada qual com seu candidato. Dividindo em três áreas grandes a gente sabia que era impossível fazer qualquer votação expressiva. Mas se nós fizéssemos 20%, a gente acreditava que estaria pelo menos em segundo lugar no segundo turno.
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Moacir Pereira – Na sua projeção, contra Mauro Mariani ou Gelson Merisio?
Num primeiro momento, a gente sempre imaginava que o MDB estaria em primeiro turno como mais votado pelo tamanho da estrutura, cerca de 150 municípios com prefeitos, vice-prefeitos. Então, dentro do partido, a gente conversava sobre isso que eles deveriam ter a votação mais expressiva e a gente poderia conseguir estar no segundo turno fazendo esse número de votos. A gente tinha muito essa sensação de fazer pelo que sentimos nas ruas. Eu sempre falo isso: onde a gente estava, as pessoas estavam sempre nos apoiando, dizendo “você vai estar no segundo turno, tenho certeza disso”. Nos mostrava alguns dados de pessoas, de grupos, de amigos de empresários, levantando o nome do comandante Moisés junto do nome do Bolsonaro, então a gente tinha muita esperança de estar no segundo turno. Dizer que 29%, quase 30% dos votos, não deixou essa festa um pouco mais animada? Deixou, sim. A gente percebeu que é realmente expressivo pelo nanico que poderia ser considerado pela maioria dos aparelhos de jornalismo, inclusive, que falavam em não convidar partidos pequenos, que não tem chances. Associações e federações diziam que convidariam os três que tinham chances de ganhar e convidavam o candidato do PT, do MDB e o meu atual concorrente.
Moacir Pereira – O senhor não tem experiência política e o PSL não tem forte representação em Santa Catarina. O senhor se considera preparado para assumir o governo diante dessa falta de experiência e de conhecimento da realidade do Estado?
Na realidade, a gente não atuou nessa política partidária, mas todos nós temos atividade política no dia a dia. Tive 30 anos no Estado e nós defendemos várias bandeiras para aprovar ou desaprovar coisas boas e ruins. Nos relacionamos com a Assembleia Legislativa em diversos momentos, e a gente já fez até lobby institucional. Lembro da época do incêndio na boate Kiss, quantos projetos aportaram com péssimas qualidades na Assembleia Legislativa e todo mundo queria chutar aquela bola. Todos os deputados apresentaram projeto. No final, reunimos todo mundo, trabalhei incessantemente nisso, e a gente conseguiu chegar num projeto adequado que deu poder de polícia aos bombeiros de Santa Catarina, que restaurou a condição de segurança e nos elevou à categoria dos poucos Estados onde o bombeiro hoje exerce poder de polícia. O laudo técnico do bombeiro tem efetividade.
Moacir Pereira – E a equipe para o governo?
Sou um servidor. Para mim, onde o político entrou até hoje, porque quando se fala em equipe, se eu não tenho penetração política e eu preciso escolher políticos, de onde ou vou escolher esses políticos? Não pretendo escolher políticos. No que eu conseguir, fazer gestão pública com servidores de carreira, que conhecem profundamente a pasta, farei. Nós temos efetivos de muito bom naipe. Temos gente com corpo técnico que conhecem profundamente a Secretaria de Saúde, tenho conversado com alguns. A Secretaria de Segurança tem vários policiais civis, policiais militares, que têm sua qualidade para serem comandante-geral e delegado-geral. Enfim, a gente vai trabalhar com o que a gente tiver de corpo técnico.
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Upiara Boschi – O senhor já tem nomes para comandar a economia e o núcleo político?
Dentro da própria Secretaria da Fazenda, por exemplo, temos excelente nomes. Não vou adiantar aqui, tenho conversado com alguns. Pessoas que conhecem exatamente onde ficou a irresponsabilidade do Estado, onde as decisões que foram tomadas ao longo tempo nos trouxeram ao que estamos hoje com o governo anunciando dificuldades para pagar o salário dos servidores no ano que vem, anunciando dívidas que a sociedade catarinense não conhecia. Penso que foi irresponsabilidade na gestão da governança, acompanhamento desse processo. Temos nos quadros dos servidores estaduais pessoas que conhecem profundamente as dificuldades e sabem dizer que os erros e acertos foram em quais pontos. Temos conversado com essas pessoas, mas não vamos adiantar porque temos uma eleição pela frente, temos três semanas para depois, queira Deus, compor governo e quem vai comandar as secretarias para Santa Catarina.
Upiara Boschi – O senhor falou nessa surpresa do MDB ficar de fora do segundo turno. O senhor pretende buscar o apoio do MDB e como falar com o eleitor emedebista?
O MDB tem nos entregue apoio gratuitamente em todos os lugares do Estado. Temos um grande time Bolsonaro em Santa Catarina, que são as nossas bancada de deputados estaduais e federais, as nossas executivas municipais, que são mais de 150. Inclusive, a Assembleia trocou 55% das cadeiras com sangue novo. E esses novos deputados têm procurado gente do nosso partido dizendo: “estamos com o comandante Moisés”. Não precisei procurar ninguém, negociar cargo, negociar apoio. Isso está vindo automaticamente. E a gente agradece todo apoio. Vamos governar Santa Catarina pelo bem do catarinense. Acreditamos que essa gente nova que está chegando na política é um sinal da vontade do eleitor da renovação. A própria subida do comandante Moisés também para praticamente estar em condição de igualmente com dois partidos e blocos grandes, 16 anos de poder em Santa Catarina, um ilustre chegar com esse resultado é também a demonstração clara. E a nossa rede social também indica isso de que é mudança, mudança e mudança. Recebo apoio de pessoas que nunca vi na minha vida, inclusive, saio para abastecer meu veículo, as pessoas me reconhecem e dizem que votaram em outra pessoas porque achavam que eu não iria chegar. Então teve o efeito Ibope que nos achatou com 1,7%, depois com 4%, quando a gente já tinha informações que tinha 12% e 15%. Por fim, com 9% a três dias da eleição que aí foi realmente… O Ibope foi uma ferramenta, fora o prejuízo que pode causar ao eleitor desavisados, interna corporis, o Ibope foi excepcional. A nossa militância disse: não vale nada essa pesquisa, porque nós estamos na rua e agora mesmo que vamos trabalhar, é mentirosa essa pesquisa. E o resultado foi conhecido depois nas urnas. (O que diz o Ibope – “A pesquisa do Ibope Inteligência já indicava indefinição sobre quem disputaria o segundo turno para governador. Como a última pesquisa foi realizada entre dias 3 e 5 de outubro, não captou o crescimento do candidato do PSL, movimento que também ocorreu em outros Estados com candidatos desse partido dias antes da eleição. O Ibope reforça que a pesquisa eleitoral é um retrato do momento, e tem o objetivo de apontar tendências e mudanças nas opiniões do eleitorado durante a campanha.”)
Moacir Pereira – Caso os números tivessem sido diferentes no Ibope o senhor teria chegado em primeiro lugar?
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Acredito que não teríamos perdido o senador. O primeiro lugar poderia acontecer porque as pessoas iriam votar. Tenho recebido, fico até constrangido, me pedindo perdão e dizendo que fez o voto útil em Santa Catarina, queria eu como governador, mas sabia que eu não chegaria e votou contra fulano. Acredito que esses votos de pessoas desconhecidas, naturalmente, e a gente apela para o eleitor, que tem esse mando.
Ânderson Silva – O fato político do começo do segundo turno foi o vídeo de Jair Bolsonaro indicando neutralidade em SC. Como o senhor vai se posicionar daqui para frente?
Não muda nada. A nossa jornada com o Bolsonaro vem de seis meses. A nossa escolha por ser candidato em Santa Catarina se deu aos 45 minutos do segundo tempo ou talvez na prorrogação já. Fui tesoureiro do partido por quatro meses, corri o Estado todo sem pedir um voto ao lado do Lucas Esmeraldino. Depois desse processo todo, estive com o Jair umas cinco ou seis vezes nesse período, gravamos juntos, com o Lucas, nunca comigo. E eu era aquele sujeito, coronel Moisés, o amigo de Santa Catarina, que não se imagina que seria candidato. Essa é a realidade da nossa candidatura. No dia 4 de agosto, quando no dia seguinte seria o prazo convencional para a gente inscrever candidato, houve a decisão de chapa pura. O partido queria um candidato ao governo. Havia um clamor porque fui conhecido no Estado todo quando corri as cidades para fazer e formar as executivas, fazer campanha para o Lucas, a pré-campanha dele. Nunca fui pré-candidato, então ao final dessa jornada todos no partido diziam: nós temos um candidato a governador, você preenche todas as características que gostaríamos de ter, não podemos perder essa possibilidade. Eu acabei assimilando essa ideia porque primeiro entrei para apoiar o Jair, depois surgiu a figura do Lucas, eu já comungava com as ideias do Jair Bolsonaro. O Lucas me disse que recebeu o partido em Santa Catarina para ter senador e federais. Governo ele deixou livre, estaduais também. O que o Jair precisava: federais e senadores. Comecei a correr com o Lucas e ele de fato entregou o que o Bolsonaro havia pedido. Na verdade, entregou um pouco mais, hoje temos um governador em segundo turno, candidato, uma bela bancada com seis deputados estaduais. Penso que o Bolsonaro tem o maior respeito pelo presidente do partido em Santa Catarina e por todo o time do Bolsonaro aqui.
Upiara Boschi – O senhor não teme que essa declaração passe a mensagem de que Jair Bolsonaro e o PSL sejam tão ligados?
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Não. Na verdade, o PSL no Brasil tinha o plano A, B e C. O plano A é a eleição de Jair Bolsonaro, e isso estava pactuado com todos os presidentes do PSL em todos os Estados. Qual é o nosso alvo? Se ele estivesse no PSC ou no PP, por onde ele já passou, era uma prioridade nacional. Depois, veio a questão da bancada com deputados federais e senadores. Nos Estados foram vários problemas para compor. Tinha partidos que não poderiam coligar, que apoiavam candidatos que tinham potencialidade de se eleger. Tivemos uma lista de partidos que não podiam se coligar sob pena de intervenção federal da nacional no PSL no Estado. Nós aqui não poderíamos estar no bloco que está o Merisio hoje que tem o PC do B, é um partido absolutamente que não cola com o Jair Bolsonaro. E tem uma carta da nacional de sete partidos, todos de esquerda, mais o PC do B, que fazem parte desse bloco. Não há como misturar a água e o óleo. Então foi uma iniciativa do candidato dizer que não tem uma estrutura partidária. Nós temos sim, estamos elegendo os deputados federais que vão apoiar Jair Bolsonaro de qualquer maneira e eu respeito a posição dele porque ele posição fazer 80%, 90% dos votos em Santa Catarina para compensar qualquer diferença que tenha em qualquer situação em outra região do país. E nós vamos defender o Bolsonaro a qualquer custo para que seja eleito. Torno a dizer, a prioridade eleitoral era realmente o presidente para a gente começar a mudar o Brasil, entregar deputado e senadores para ele. A nossa candidatura vem hoje grudada no Bolsonaro, tem o mesmo número, 17, o eleitor catarinense não é eleitor bobo, é um eleitor arguto, inteligente, já percebeu que para mudar de verdade, tem que mudar tudo, não dá para fazer meia mudança. E, naturalmente, a gente tem, além do apoio do Bolsonaro, dessa relação de sermos um militar, as pessoas já identificaram que podemos nos alinhar em projeto e mudança com Jair Bolsonaro. A neutralidade não nos atrapalha em hipótese alguma. Para mim, o eleitor já fez a sua escolha em Santa Catarina.
Estela Benetti – Como o senhor está elaborando seu plano de governo?
Primeiro, pela minha experiência. Como bombeiro militar, passei por várias secretarias do Estado, não só atuando, mas também dependi de algumas. O bombeiro trabalho na saúde, com educação, a segurança da pública, da qual sou egresso, e com vários gargalos. Já atuei dentro do sistema prisional, dentro da secretaria da Defesa Civil. Na própria segurança pública conheço todas as dificuldades. Problemas de Estado sei exatamente fazer e com quem posso me apoiar. Hoje o gestor público precisa conhecer um pouquinho de cada área. Na minha própria corporação observei que alguns colegas tinham amor ao mergulho, só sabiam disso, mas quando iam comandar um quartel, ele era rengo, não caminhava bem. Você chegava no quartel dele, tudo que era de mergulho autônomo, cilindro, equipamento de recarga, era um espetáculo. O resto do quartel não funcionava, a parte de instrução não funcionava. Então um gestor público tem que conhecer, ser multifacetado, interdisciplinaridade e saber se relacionar com as pessoas. Com relação a saber se relacionar, me considero uma pessoa com capacidade de trâmite em qualquer local do Estado. Já reverti muitos processos dentro da Assembleia Legislativa, a gente não vai ficar anunciando, de ir em três quatro lideranças de blocos partidários para explicar que o projeto não era bom. E o deputado me agradecer e depois o projeto não ser aprovado porque a proposta contra a segurança pública, contra os interesses da segurança e prevenção contra o incêndio. Na região da Amurel, onde eu comandei, praticamente todos os bombeiros que foram surgindo por eu ter comandado 18 anos o mesmo quartel, eu era sozinho e não havia nenhum outro quartel na região inteira. Todas as organizações de bombeiros que existem hoje foi um processo de convencimento do Estado, de capacitação de terreno, captação de recurso, aprovação de lei municipal para fazer os fundos, enfim. Tenho muita experiência política também, de lidar com as pessoas. E já sofri as agruras da políticas. Já deixei de inaugurar quartel de bombeiros quando o Estado era de uma bandeira política partidária e a gente aprontou tudo, só faltava o ok, mas de um lado ou de outro vinha a negativa porque não se poderia dar palanque para determinados políticos. Isso me deu uma experiência política da negatividade que a velha política promova na gestão pública.
Ânderson Silva – Sobre segurança, o que o senhor tem planejado para os quatro anos? E a meta do primeiro ano, como o senhor contratará efetivo?
Acho que o Estado pode e deve, tanto que está anunciando mais mil policiais, nunca se falou tanto em efetivo nas policiais depois que começou o debate na TV porque comecei a levantar essa bandeira e os outros candidatos por último estavam citando dados que eu citei. De 1987 a 2018, que a PM tinha 13 mil homens e hoje tem 10 mil. Nós vamos recompor os efetivos. Falta de recursos? Vejo que o Estado tem recursos. Caso sejam eliminadas, por exemplo, as secretarias regionais, que são R$ 350 milhões/ano, conforme o governo anuncia. Esse orçamento é maior, praticamente idêntico, ao dos bombeiros do Estado de Santa Catarina, anual, no que diz respeito a custeio e despesa com pessoal que sai da falha do Estado. São mais de 2 mil homens, isso é recompor efetivo ao longo prazo. Você rever, por exemplo, a questão das isenções fiscais, os cargos comissionados, você tem 1,4 mil comissionados. Porque, como citei há pouco, se você tem bons quadros nos servidores públicos, por que vou nomeá-los? E quando um nomeio, um secretário para uma função estratégica, eu vou pagar uma diferença salarial para ele. Essa pessoa já está na máquina pública. De alguma forma ou de outra estou economizando com isso. Também pensamos que em captação de recursos, o Estado de Santa Catarina não tem feito a lição de casa, por exemplo, na questão do incentivo à cultura, nos atrativos para as nossas potencialidades, porque tudo está muito interligado. Quando o Estado participa ativamente te dando a infraestrutura necessária, modificando uma legislação, que hoje… e nós temos uma promessa, entrei também no partido do Bolsonaro numa conjuntura. O nosso lema em Brasília é menos Brasília, mais Santa Catarina, mais Florianópolis. Ou seja, hoje 60% dos tributos ficam lá em cima, no governo federal. Por exemplo, no gargalo da saúde tem R$ 1 bilhão de déficit, mas o governo federal não repassa a parcela constitucional obrigatória para Santa Catarina. Se era para passar 10%, passa 4%. Isso é menos da metade. Então não tem gargalo. Nós temos um projeto para o Brasil, para mudar o Brasil… Santa Catarina não é uma ilha, é um dos Estados que mais entrega recursos tributários e menos recebe. Então nós temos um projeto. Além de enxugarmos, que precisamos diminuir as estruturas de Estado, vamos trazer recursos federais. Eu estava vendo agora filas eletivas na saúde para cirurgias. Existe dinheiro federal, o Estado não conseguiu preparar, cadastrar hospitais para receber verbas federais para fazer essas gilas andarem. O principal problema de Santa Catarina hoje é gestão. Quando você acomoda várias pessoas que não têm o compromisso de entregar serviço e trabalho, não vai funcionar. Na segurança pública é a mesma coisa. Recomposição de efetivo, vejo a polícia civil numa condição de trabalho ruim, não tem em muitos locais espaço adequado. Eu já fui atendido em local que não dá para sentar, fazer um registro de ocorrência, via que o policial também ficava desconfortável porque ele queria oferecer algo a mais e não conseguia fazer sentar e se sentava ficava mal. Não tinha uma mesa decente para atender. Fui atendido numa delegacia recentemente porque fui vítima de furto em que a mesa estava quebrada.
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Ânderson Silva – O senhor tem meta específica para contratação de efetivo?
Começamos essa tratativa de recomposição e a primeira reunião que fiz foi com a reunião do comando-geral dos bombeiros. Eles me pediram que ao final de quatro anos, de dois mil, nós tivéssemos três mil homens. Essa foi a primeira meta. Não sentei ainda com o comandante-geral da PM para estabelecer uma meta, mas sabemos que há um gargalo, uma necessidade, mas vamos fazer, entendo que é possível estabelecer essas metas de acordo com as demandas. É preciso um mapa da realidade atual. E mais, temos que fazer uma conjuntura hoje, por exemplo, o sistema de segurança pública, as guardas municipais estão atuando com característica de polícia, mas não são polícia. É outra discussão nacional que precisa ser feita.
Upiara Boschi – O senhor é a favor que as guardas municipais atuem como polícia?
Penso que se você está atuando como polícia é preciso ter pelo menos a condição de segurança pessoal de polícia, ou então você retira… Há que se tomar uma decisão nesse cenário, e ele não é estadual nem municipal, é uma decisão para o Brasil. Hoje, a Guarda Municipal deveria vir para cuidar dos próprios municípios, e eventualmente atuar no trânsito como em alguns casos. Quando você começa a fazer, e tem Estados e brasileiros e municípios que a atividade da Guarda chega a ser atividade policial, então essa é um problema da segurança pública que precisamos resolver. Do resto, o modelo de segurança pública com a Polícia Militar e a Polícia Civil pode continuar, só que com elas fortalecidas. A Polícia Civil tem déficit também, tenho conversado com a Associação dos Delegados, eles questionam a forma de composição dos órgãos dirigentes da Polícia Civil, a forma com que são indicados. Reclamam muito.
Upiara Boschi – O senhor se comprometeria com a lista tríplice neste caso?
Gosto dessa ideia, a menos que a lista me apresentasse, por exemplo, eu aceitaria a lista se eu tivesse colocando os seguintes critérios: não ter bandeira político partidária pelo menos recente para não ser contaminado, ficha limpa como todos os políticos, uma vida ilibada dentro das corporações e ter capacidade de gestão comprovada. Na Polícia Militar, por exemplo, sempre será comandante um coronel, que precisa ter 25, 26, 27 anos de serviço. Ninguém vai a coronel com menos que esse tempo de polícia. Um delegado pode ter 10 anos de polícia e ser alçado a delegado-geral. Então, essa lista tríplice, eu estabeleceria critérios, mas acho uma ótima sugestão ao governador desses três nomes, depois a gente checaria se as indicações são boas e a partir daí escolher.
Moacir Pereira – No seu plano de governo, o senhor se manifestou pela extinção das agências regionais. Nas secretarias centrais, quantas ficariam?
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Hoje o Estado tem 15 secretarias setoriais, entendemos de pelo menos 50%, chegar a oito secretarias.
Moacir Pereira – E em cargos comissionados, quanto seria a redução?
Se fala em 1,4 mil, alguém diz que vai nomear apenas 200. Se eu pudesse não nomear nenhum, não nomearia, se eu pudesse realmente contar somente com servidor, eu contaria. Não vou dizer se usarei 10, 20, penso que não mais que 100 cargos comissionados para ter pontos estratégicos do Estado. A maioria dos comissionados que eu vejo hoje, por exemplo, nas secretarias regionais, essa mesma atividade tem duplicidade de função. Alguém, um servidor de carreira já entrega para alguém juntar essas informações, prestar relatórios e a pessoa começa a assumir esse cargo comissionado. Penso que o servidor vai atuar nessa frente a gente pode eliminar os cargos comissionados.
Moacir Pereira – O seu adversário fixou as prioridades dele em segurança pública e saúde. Quais são as suas prioridades?
Onde a gente tem andado pelo Estado, sonho com uma infraestrutura muito forte. Saúde, segurança pública e educação a gente vai investir fortemente, até porque conheço as necessidades da categoria e penso que esse enxugamento do Estado vem tudo… e esse nosso alinhamento com o governo federal, vem para investir em saúde, segurança e educação. Quando saí de Florianópolis, há 20, 25 anos, deixei o Sul da Ilha, Saco dos Limões, meus pais moravam no Carianos. E os problemas são os mesmos, desde aquela época. Parece que nada aconteceu aqui. Sei que aqui é um município, que o governo estadual pode cooperar com as principais metrópoles catarinenses no sentido de proporcionar mobilidade pública. Penso que temos que ampliar nosso olhar e trazer investimento, capital, mesmo que privado para a gente sair da condição que a gente está.
Moacir Pereira – Prioridade, por favor, candidato?
São os três pilares: saúde, segurança e educação.
Moacir Pereira – O senhor falou em infraestrutura e eu temo muito pelo agronegócio do Oeste catarinense. A infraestrutura lá está toda estrangulada. O governo federal está falido e não tem condições de resolver o problema das estradas. O estadual não pode assumir essas rodovias por ser federal. O senhor tem alguma sugestão para resolver esse problema?
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Penso que isso tem a ver com segurança, por exemplo. Quando não se tem infraestrutura, a gente se deparou com isso agora durante as viagens de campanha com vários acidentes, pessoas que foram a óbito na via pública, passamos por alguns buracos, acertamos alguns. Algumas tem rodovias, poderia citar várias, não têm acostamento, em Santa Catarina. Você disse que não tem dinheiro. Nós construímos muita coisa fora do Brasil para entregar para outros países, refinarias, portos, construímos linhas férreas. O Brasil tem uma crise de corrupção, não é falta de dinheiro. O país tem uma estrutura de corrupção, ideológica também, no sentido de a gente não trabalhar, e esse acho que esse é o lema do nosso candidato a presidente da República, devolver o Brasil ao brasileiros.
Estela Benetti: O senhor acredita que haverá recursos para duplicar as BRs 470 e 282 até o Oeste?
Moacir: Se o senhor for governador, vai cobrar por isso?
Com certeza. São rodovias federais, mas penso que o governo do Estado tem toda a responsabilidade em atrair os recursos e chegar ao final dessas obras. Tem parte dessas rodovias que foi feita uma parte, não foi finalizada, mas a primeira parte feita já está apresentando defeito enquanto o dinheiro para a segunda parte não foi liberado. Vocês acham isso razoável? Temos um problema mais grave, que quando tenho obra mal realizada tenho problema de corrupção também, problema de auditar essa obra, cavar ver quanto de asfalto teve, o valor desse asfalto. Então nós temos uma ferida mais profunda no Brasil do que a falta de dinheiro. Um dos maiores ralos no Brasil nas estruturas de governo é a corrupção. Além disso, existem vários modelos de corrupção. Quando digo que abrigo pessoas no poder público sem elas precisarem estar, pra mim, é um tipo de corrupção também. Porque estou fazendo disso aqui um mercado, onde vou abrigar meus cabos eleitorais sem necessidade. Porque esse dinheiro que foi abrigado não foi feito para ele se aportar empregos, ele tem que gerar emprego lá fora e não na própria máquina do Estado.