Uma disputa encarniçada se desenha de forma cada vez mais nítida para as eleições presidenciais da Venezuela, no dia 7.

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De um lado, o presidente Hugo Chávez faz conjecturas a respeito de guerra civil se o adversário vencer. De outro, o opositor Henrique Capriles reforça a imagem de juventude e galhardia em contraponto velado à de um Chávez doente.

Chavistas e oposicionistas se enfrentaram com pedras em Puerto Cabello. Houve feridos. Capriles seguiu de barco um percurso que faria de avião caso a passagem não estivesse obstruída. E dois episódios são sugestivos do quanto a verve dos candidatos corrobora tanta exaltação: Chávez convidou os “ricaços” a votar nele, para evitar a “guerra civil”. Capriles reuniu mulheres em um “Pantaletazo” – mistura de “pantaleta” (calcinha, no espanhol venezuelano) com panelaço.

Pelas ruas, circulam informações de que a desestabilização do país viria empacotada em um programa econômico do adversário. Armando Briquet, coordenador da campanha de Capriles, nega que haja qualquer pacote em gestação. Atribui ao “medo” de Chávez os tais “boatos”. Sobre a campanha de Capriles, Briquet diz que a ideia é apelar para os sentimentos das pessoas. O foco são as mulheres e as classes mais desfavorecidas – o público preferencial do presidente. No “Pantaletazo”, Capriles, 40 anos e solteiro (Chávez tem 58), ouviu clamores por mais creches no país. Para vitaminizar o “sex appeal” e se contrapor ao adversário, diz que está “em busca da primeira-dama”. A frase provoca suspiros em suas apoiadoras e indignação no presidente. Chávez chegou a dizer que “o capitalismo sempre usou as mulheres como objeto sexual”. E que o adversário abusa dessa estratégia.

Um dos instrumentos utilizados para favorecer a imagem, especialmente por parte de Chávez, são as pesquisas.

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– O presidente tenta criar pelas pesquisas um clima de invencibilidade, que compense sua saúde debilitada – diz o sociólogo Alfredo Keller, que vê Chávez na defensiva, enquanto Capriles cria um imaginário “erótico”, que o apresente como jovem e viril.

Pesquisas de todo tipo

O Conselho Nacional Eleitoral se preocupa em mostrar que a Venezuela vive uma democracia plena, ao contrário do que dizem os críticos. Reeleições ilimitadas do presidente e restrições à liberdade de expressão aparecem como elementos de um suposto autoritarismo. O governo nega. Diz que o processo eleitoral é liso como os das mais avançadas.

Para comprovar isso, chamou observadores internacionais que ficarão 10 dias no país.

Um deles é o desembargador gaúcho Rui Portanova, que busca informações a respeito da política venezuelana antes de viajar, na próxima segunda-feira. Um diagnóstico, porém, ele já construiu: o acirramento da disputa se deve ao seu “caráter plebiscitário”.

– Quero ver tudo, conhecer tudo. Saber como é a democracia por lá. No Brasil, não conseguimos viver sem eleições.. Eles têm lá suas peculiaridades. Para saber, só indo até lá, entrando na ideia deles. Falamos da Venezuela e do seu sistema. Mas e o sistema americano, com apenas dois partidos disputando a presidência? Não é a maior democracia do mundo? – diz Portanova.

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Um dos fatores em suspeição, neste momento, são as pesquisas. Há grandes variações. A do instituto Consultores 21 mostra Capriles com 48,9% e Chávez com 45%. Para o instituto Hinterlaces, Chávez tem 50% contra 34% de Capriles. Para a Datanálisis, Chávez tem 49,4%. Capriles, 39%. Quem está com a razão? A resposta será dada no dia 7.