Eleição nos Estados Unidos? Que eleição?

Manhã de quarta-feira em Havana. Acordo ansiosa para saber o resultado da eleição nos Estados Unidos. Ontem, quando fui dormir, Mitt Romney tinha mais delegados, mas a apuração estava no início e o âncora da mesa redonda na Cubanavisión esclarecia que naqueles Estados o resultado era previsível. E que a decisão viria de “Florida”.

Depois de uma caminhada de mais de quatro horas pelos labirintos de Habana Vieja, estava tão cansada que caí no sono logo no início da apuração. Cedinho, ligo a TV e vou procurando um canal que esteja tratando da eleição. Paro na francesa TV5, onde Obama está discursando. Já sei que foi reeleito e qual foi o placar. Vou conferir os outros canais. Quero saber o que dizem os cubanos.

Passo pela BBC, pela CNN, pela Deutsche Welle. A eleição é o assunto. Na Cubanavisión, a reeleição de Obama é uma menção perdida no meio de notícias como “China retoma a construção de usinas nucleares”, “Conflito territorial entre Colômbia e Nicarágua será decidido na Corte de Haia” e “Inundações ameaçam Veneza”.

Na Cubanavisión Internacional o destaque é a visita de uma delegação russa que quer ampliar o intercâmbio comercial com Cuba e usar a ilha como porta de entrada dos produtos russos para a América Latina. Ampla cobertura da Feira Internacional de Havana.

Em outro canal cubano passa uma espécie de Telecurso sobre como ser um cidadão virtuoso. De forma didática, a apresentadora explica o que é honestidade e o que é honradez.

Vou para o próximo: na tela, ACN Notícias 24 horas. Não é exatamente um programa de TV, mas uma colagem de notícias paradas na tela por tempo suficiente para que possam ser lidas. E uma seleção de fotos com legenda. É uma espécie de Granma na TV. Eis os destaques que captei em 15 minutos:

– Mais um passo na descoberta da cura do Alzheimer

– Pesquisadores descobrem novo método para detectar câncer de cólon

– Terremoto de 5 graus na Indonésia

– Protestos contra plano de ajuste do governo britânico.

– Na África do Sul, saem as primeiras cédulas com a foto de Nelson Mandela (consegui fotografar a imagem com o celular, mas a TV é de baixa definição).

– Futuro da Siria só interessa a seu povo

– Putin nomeia novo ministro da Defesa

– Presidente da Bolívia acenderá o fogo sagrado…

E nada de eleição nos Estados Unidos. Desisto e mudo de canal. Caio na TV da Venezuela, que mostra uma extensa reportagem sobre entrega de “hermosos” apartamentos para 264 famílias no litoral do país.

Passo por um canal de vendas que oferece uma centrífuga milagrosa com a qual se pode fazer uma mistura capaz de baixar o colesterol. Na ESPN, Milionarios faz 1 a 0 no Palmeiras.

Na Tele Rebelde, ouço a voz de Zizi Possi cantando Per Amore e vejo Gabriela Duarte falando espanhol. Está no ar a novela Por Amor, com Regina Duarte, Antônio Fagundes, Carolina Ferraz, Vera Holtz e Cássia Kiss uns 15 ou 20 anos mais jovens.

Deixo a TV falando sozinha e vou arrumar a mala. Se você estiver lendo este texto é porque a internet voltou a funcionar.