Os eleitores de Brusque vão às urnas neste domingo (3) para uma eleição fora de época que vai definir o novo prefeito e o novo vice. A disputa ocorre por conta da cassação de Ari Vequi (MDB) e Gilmar Doerner (Republicanos), eleitos em novembro de 2020 e retirados dos cargos em maio deste ano por decisão da Justiça Eleitoral.

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Mais do que revelar quem vai administrar a cidade até o fim do ano que vem, a eleição suplementar em Brusque pode servir como uma espécie de “esquenta” para as disputas municipais de 2024 em SC. A pouco mais de um ano da escolha dos novos prefeitos, a política catarinense ainda vive os efeitos do embate de Lula e Bolsonaro no cenário nacional e pode tirar do processo eleitoral de Brusque os primeiros sinais do que está por vir.

A disputa fora de época ocorre na cidade do empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan e conhecido apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro durante o mandato. A cidade deu 78,6% dos votos ao ex-presidente no segundo turno da disputa presidencial de 2022. Hang também é pivô da situação que provocou a nova eleição já que a decisão que cassou o mandato de Ari Vequi citou vídeos do empresário em que ele pediria apoio ao candidato como conduta de suposto abuso de poder econômico — Hang afirma que apenas exerceu sua liberdade de expressão.

A eleição em Brusque tem quatro candidatos. O atual prefeito interino, André Vechi (DC), concorre com um candidato do PL como vice, o que garantiu o apoio do governador Jorginho Mello e de parte do grupo bolsonarista de SC, como alguns deputados. Do lado oposto no campo ideológico, o ex-prefeito Paulo Eccel, do PT, tenta voltar ao cargo já ocupado por ele em dois mandatos. Candidato do partido de Lula, Eccel levou à cidade o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, para declarar apoio e pedir votos em atos da campanha.

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Os outros dois candidatos são de partidos historicamente acostumados a rivalizar em eleições municipais em SC antes da recente polarização: o MDB e o PP. O emedebista William Molina concorre com o apoio do prefeito cassado Ari Vequi. Nos últimos dias, ele divulgou nas redes sociais áudio do ex-presidente Jair Bolsonaro em que ele critica a decisão que retirou do cargo o ex-prefeito e também tornou inelegível o empresário Luciano Hang, aliado bolsonarista, sugerindo um endosso à candidatura dele.

Por fim, Alessandro Simas (PP), atual vereador em Brusque, concorre com o apoio do ex-prefeito Ciro Roza e tendo como vice o presidente licenciado do Brusque Futebol Clube, Danilo Rezini.
Nos últimos dias da corrida eleitoral, a campanha em Brusque esquentou com polêmicas envolvendo divulgação de áudios e mensagens sobre os candidatos em redes sociais.

Indício de mais polarização

Candidatos a prefeito na eleição suplementar de Brusque
Simas (PP), André Vechi (DC), Paulo Eccel (PT) e Molina (MDB), candidatos em Brusque (Foto: arquivo)

O professor universitário e analista político Clóvis Reis confirma que a eleição fora de época em Brusque pode antecipar tendências para as próximas eleições municipais de SC. Os efeitos podem ser vistos antes mesmo da divulgação do resultado. Segundo ele, a organização das candidaturas em Brusque com uma busca dos concorrentes por um alinhamento de um lado ou outro da polarização entre Lula e Bolsonaro mostra que esse rivalidade pode novamente marcar as disputas nos municípios de SC em 2024.

— O que vem se desenhando hoje é uma polarização entre as duas principais correntes políticas do país nos últimos anos. Acredito que as próximas eleições serão muito marcadas por essas forças na maioria dos municípios — pontua.

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Na avaliação dele, o resultado da disputa em Brusque será produto das questões locais, mas pode servir de termômetro e até mesmo acender um alerta para os chamados partidos tradicionais, já que dois dos quatro candidatos são de legendas tradicionais no interior do Estado (MDB e PP).

— Acredito que a eleição vai mostrar a importância e o espaço que terão os partidos tradicionais. Pode sinalizar qual será a força de partidos não alinhados a essa polarização — pontua.

Ensaio para 2024

O cientista político Eduardo Guerini também avalia que a conjuntura de Brusque pode indicar para 2024 novamente um cenário de polarização entre grupos petistas e bolsonaristas.

— A eleição fora de época vai estabelecer uma leitura da capacidade do bolsonarismo, da radicalização polarizada que se estabeleceu, principalmente em Santa Catarina, de continuar elegendo gestores municipais, vereadores — avalia.

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Em Brusque, ele identifica ainda uma chama acesa do antipetismo e um viés bolsonarista que é presente também em diversas regiões de SC. O resultado deste domingo, segundo ele, pode medir a força do bolsonarismo e desse empresariado com uma visão antipetista no atual momento.

— O pleito é polarizado porque candidaturas que vêm sendo apontadas com maior vantagem estão ligadas ou coligadas ao petismo e ao bolsonarismo. Portanto, o resultado é um ensaio para 2024 — conclui.

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