Nem sempre é preciso fechar os olhos para relembrar o passado. E é com os olhos azuis bem vivos, fixos em seu interlocutor, que o aposentado joinvilense Helio Milton Pereira, 85 anos, recupera mentalmente aqueles dribles que ouviu narrados no rádio; as defesas incríveis de goleiros que ele conhecia apenas pelo nome; a família reunida ao redor do rádio, vibrando por jogadores dos quais só se conheciam o apelido e a fama, mas não a fisionomia.
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Hoje, Helio carrega na bagagem o testemunho por rádio, televisão ou jornal impresso de 17 edições da Copa do Mundo. A atual, da África do Sul, é a 18ª que ele acompanha pela mídia.
Helio lembra com muito carinho dos oito anos de idade, quando acompanhou por jornal impresso a Copa que ocorreu na Itália, em 1934. As notícias só chegavam uma semana depois por jornais que vinham do Rio de Janeiro. Foi só em 1938 que o rádio entrou na vida dele, quando pôde acompanhar a Copa da França.
– O jogador Leônidas da Silva, apelidado de Diamante Negro, foi o maior craque desse ano. A chuteira dele chegou a estragar durante um jogo e ele jogou descalço. Era tal ímpeto para ele chegar nesse ponto -, relembra, revelando um fato histórico pouco conhecido.
Depois dessa Copa, o futebol, o mundo e todas as pessoas foram calados pela 2ª Guerra Mundial. Mas em 1950, a guerra já havia acabado e a alegria voltou com força. A Copa do Mundo foi no Brasil.
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Enquanto cursava a faculdade de direito, Helio ouvia falar sobre o Maracanã, que na época era recém-construído e foi palco para as defesas incríveis do goleiro brasileiro Moacir Barbosa Nascimento.
– Eu via na rua homens e mulheres chorando e vibrando pelo Brasil, falando dos jogadores. Era incrível.
Depois disso, Helio se formou, casou e teve um casal de filhos. E foi nesta época que conheceu a melhor seleção de todas, na opinião dele: foi a da Copa de 1970. Ele sabe de cor o nome de todos os 11 jogadores, inclusive os lances marcantes de cada um.
– Era uma equipe de astros, de craques de verdade -, conta.
Uma das estrelas que mais brilhou, claro, foi Pelé.
– E pensar que Pelé quase foi transferido para o time do América, de Joinville, alguns anos antes de ficar famoso -, revela.
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Mas e o hexa, será que vem desta vez? Helio acredita ser possível, apesar de a equipe não ser uma das mais carismáticas.
– A Seleção de Dunga não é extraordinária, mas é competente -, avalia.
– A verdade é que o futebol é cheio de surpresas e tudo pode acontecer.
E a essas surpresas ele vai assistir do lado da mulher e dos filhos com os olhos bem atentos, pois a alegria está garantida.