As bicicletas fantasmas sempre assombraram a dona de casa Paula Aparecida Ferreira Machado, 43 anos. Era só vê-las para aquele aperto angustiante no peito aparecer. Ela não sabia o por quê, mas era como se pressentisse o que estava por acontecer.
Continua depois da publicidade
Agora, Paula abrirá a janela e a verá. Ali, na frente de casa, disposta bem no alto para todo mundo ver, está a bicicleta fantasma do filho do meio. Everton Luiz Machado, o Ninho, morreu atropelado no último domingo, dia 18, aos 22 anos, enquanto pedalava. Havia recém saído de casa, na SC-401, ao lado do trevo de acesso a Ratones, em Florianópolis, e seguia em direção à casa do primo para ajudá-lo na pintura da casa. Nunca chegou lá.
O Corsa que o levou teria invadido o acostamento, segundo aponta as investigações da polícia. O motorista havia bebido.
– Foi um estouro. Mas como essa região é bastante barulhenta e sempre tem pneus furando, nem dei bola. Foi quando os vizinhos vieram correndo para avisar do acidente. Foi um barulho que mudou a nossa vida – conta o pai Celso Luiz Machado, 48 anos.
Continua depois da publicidade
Everton era apaixonado por bicicletas. Puxara o avô, que também tinha o mesmo apego por elas. Quando pequeno, ainda sem saber pedalar, empurrava a da irmã e caminhava pela casa. Depois, escolheu a bicicleta como meio de transporte. Estava sempre com ela. Inclusive na morte.
Agora, a bicicleta fantasma de Everton tem um ramo de flores amarelas, laranjas e rosas e faixas pretas penduradas junto a ela. Nas rodas, um cartaz com o seu nome. O grupo de ciclistas que a instalou, na manhã deste sábado, pedalou do trapiche da Avenida Beira Mar Norte até o trevo de Ratones. O presidente da Associação ViaCiclo, Daniel Araújo Costa, pediu mais respeito aos ciclistas.
Esta é a quarta morte de ciclistas na SC-401 e a oitava em Florianópolis.
– Isso tem que acabar. A cada mês morre um ciclista. O que é isso? – criticou.
No local do acidente, o grupo se encontrou com os familiares da vítima. Eles deram as as mãos e rezaram um Pai Nosso, precedido por um minuto de silêncio. A homenagem encerrou com uma salva de palmas.
Continua depois da publicidade
A mãe de Everton não quis se aproximar. Assistiu a tudo de longe, amparada por amigos e com lágrimas nos olhos. Ao lado dela, o cachorro Scooby – resgatado por Everton há alguns anos – compartilhava com ela a mesma dor no coração.
– Está certo que foi uma fatalidade. Mas ele se foi do jeito que mais gostava de viver. E é isso que me conforta.