Acuada. Assim estava a adolescente de 16 anos desaparecida por uma semana e que pediu para conversar com a imprensa na esperança de que a exposição do problema familiar ajudasse a não ter que voltar para casa. O medo se justificava pela violência física e sexual que alega ter sofrido nos últimos cinco anos. A vontade de deixar o lar era tamanha que dividir um quarto e cozinha com uma pessoas recém conhecida era melhor do que o conforto de uma casa ampla numa praia de Florianópolis.
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A ideia de retornar ao convívio com pai causava pânico, mas a jovem garantia que seria por pouco tempo. Iria fugir outra vez. As afirmações saíam em voz baixa, enquanto esfregava as mãos apoiadas no colo. O rosto tinha maquiagem. Era para esconder um hematoma ao lado do olho esquerdo, que contou ser consequência da violência paterna. Explicava que o pai a agarrava dos cabelo e a jogava no chão, o mesmo que fazia com a mãe dela quando ainda eram casados. Mesmo com a situação delicada por qual afirma passar, ela ainda acredita que um dia vai estudar moda e morar em Milão.
Diário Catarinense – Desde quando você está desaparecida?
Adolescente – Faz uma semana.
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DC – Você tem planos para o futuro?
Adolescente – Eu sempre quis fazer moda. Eu queria viajar, conhecer o mundo, Itália, Milão.
DC – Você desistiu destes sonhos?
Adolescente – Eu não desisti. Eu queria dar um tempo, precisava sair de casa, meu pai vive me prendendo.
DC – Você mora com teu pai e tua mãe?
Adolescente – Minha mãe mora com o namorado dela.
DC – O que teu pai fazia a ponto de que você preferiu sair de casa?
Adolescente – Meu pai me batia. E me tocava. Fazia coisas que eu não queria, não era legal. Há um ano que ele não fazia isso. No dia em que saí de casa, ele me bateu e me chamou de várias coisas. Daí eu pensei: ‘Ele vai fazer isso de novo, o que fazia antes’. Ele me deu remédio para dormir, me obrigou a tomar e foi trabalhar. Não fosse a minha tosse, porque eu estava gripada, eu não tinha acordado. Quando acordei, peguei minhas coisas e saí. E eu não queria voltar.
DC – O que significava bater? Uma palmada?
Adolescente – Ele me pegava pelos cabelos e me jogava no chão.
DC – Quando a violência começou?
Adolescente – Com 11 anos.
DC – Quando você era criança ele não te batia?
Adolescente – Batia.
DC – Então, desde que você se conhece por gente ele te bate?
Adolescente – É, mas quando eu era pequena não era tão forte. Mas não é só bater. Ele fazia outra coisa.
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DC – Como foi a noite em que você fugiu?
Adolescente – Fui dormir era meia-noite. Acordei às 3h da manhã. Pensei: ‘Tenho que ir embora daqui rápido’. Porque meu pai às vezes chega do trabalho às 3h e às vezes às 6h. Daí peguei o que achei que ia precisar. Chamei o táxi. Fui na gaveta dele, onde sempre guardava o dinheiro e fui para casa de um amigo. Falei: ‘Saí de casa. Briguei com meu pai hoje.’
DC – Como você está agora?
Adolescente – Eu me sinto muito mais tranquila. No primeiro dia eu estava muito feliz.
DC – Desde que idade você mora somente com teu pai?
Adolescente – Eles separam quando eu tinha sete anos.
DC – Nesta época, teu pai era um problema para você?
Adolescente – Não, mas ele batia nela (a mãe). Quando eu tinha cinco anos eu me dei conta disso.
DC – Você tem medo dele?
Adolescente – Sempre tive medo. Meu pai é muito forte.
DC – Tua mãe nunca soube que ele te batia?
Adolescente – Às vezes eu ia para a casa dela. Ela conversava com ele. Eu não chegava com roxos porque ele sempre me batia na cabeça.
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DC – E você falou que ele te tocava. Quando começou?
Adolescente – Com 11, 12 anos.
DC – Durante quanto tempo ele fez isso?
Adolescente – Cinco anos
DC – Era ininterrupto?
Adolescente – Era uma coisa muito louca. Não era todo dia. Seis meses ele estava normal. Depois, começava de novo. A cada seis meses ele repetia.
DC – Desta vez fazia quanto tempo que ele não te tocava?
Adolescente – Um ano.
DC – Você sabe que os próximos dias serão difíceis?
Adolescente – Com certeza.
DC – Você está disposta a trabalhar?
Adolescente – Estou. Eu já trabalhei, eu me viro.
DC – Você tinha um nível de vida bom. O motivo é muito forte?
Adolescente – E tu acha que eu ia deixar um nível de vida daquele por qualquer coisa?