Se a função existisse, Mário Sérgio Ferreira poderia ser o garoto propaganda oficial de Joinville. Afinal, de duas coisas ele entende muito bem: da cidade onde nasceu e de falar pelos cotovelos. Foi por isso que ele recebeu o apelido que o acompanha há duas décadas: Mário Fofoca.

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A homenagem se deve não apenas à tagarelice do joinvilense, que foi radialista, sambista e representante comercial, mas também remete ao famoso personagem global interpretado por Luís Gustavo.

– É, eu me vestia mais ou menos daquele jeito, com terno e gravata borboleta -, lembra Mário, comentando as roupas extravagantes que o detetive atrapalhado usava nas novelas e seriados em que apareceu.

O apelido foi dado na época em que Mário era representante comercial do jornal “A Notícia”. Mas ele não era só o vendedor cheio de lábia que saía pela Joinville dos anos 80 fazendo anúncios e conhecendo a cidade inteira.

Era também o animador dos corredores do jornal e o sambista que estava sempre presente nas rodas de samba das lanchonetes do Centro da cidade.

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– Eu fazia de tudo. Para contar minha vida tem de ser em blocos -, ri ele, da vida que poderia dar um samba-enredo de Carnaval.

Apesar de passar os fins de semana em Balneário Camboriú, de uma coisa Mário Fofoca não abre mão: amar Joinville e falar das maravilhas da cidade por aí.

– Quando viajo pelo Brasil, o que mais gosto é de falar sobre Joinville. E quando estou na estrada e chego a Pirabeiraba, respiro aliviado: estou em casa novamente -, conta.

Ele lembra com uma saudade suave do tempo em que vendia banana recheada na frente do antigo Centro de Saúde, na rua Pedro Lobo. Tinha sete anos, saía de casa na rua do Príncipe, vendia o doce feito pela mãe e depois ia para escola, na creche Conde Modesto Leal.

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Anos depois, já morando em Curitiba, passava a época escolar vendendo discos e os verões visitando os avós em Joinville. Era a época do rio Cachoeira limpo e dos Carnavais de rua – tudo o que Mário mais podia querer da juventude.

– Meus avós eram pessoas respeitadas na cidade, o que não era comum para uma família negra em Joinville nos anos 70 -, conta.

Mas Mário continuou a trilha de sucesso dos avós, bem longe do preconceito, virou um dos três únicos funcionários negros do único jornal da cidade e concorreu a vereador.

– Foi no jornal que aprendi tudo o que sei, foi a melhor época da minha vida -, lembra Mário, com lágrimas teimando em fugir dos olhos. Enquanto rodava por Joinville vendendo anúncios, fez muitos amigos e teve importância na vida musical da cidade.

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Mário desfilou na Embaixadores da Alegria, no Rio de Janeiro, e conheceu Jorginho do Império, mas não desistiu de ver os joinvilenses dançando pelas ruas.

Foi ele o responsável pela estreia de Paulão, sambista que hoje é presença ilustre nas batucadas da cidade.

– O Paulão era novinho e morria de vergonha na hora que tocava. Ele virava de costas até quando passava o ônibus na rua -, revela, aos risos.

Aos 55 anos, Mário está sossegado. Vai para praia no fim de semana e, se não dá vontade, não volta para trabalhar. Mas trabalhou muito e lembra de tudo com saudades e risadas – o pesar dos anos não parece existir na vida dele, que descarta qualquer tristeza.

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– Se é ruim, a gente não precisa ficar recordando. O negócio é contar o que foi bom -, afirma.