Para alguém que nunca tinha visto um caranguejo antes, João Ricardo Casa Filho, mais conhecido como Janga, foi realmente “fisgado” pelo bicho.

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-Trabalhava na roça, lá em Taió, e não sabia nada de caranguejo, até que meu cunhado me convenceu a comprar o bar dele – conta Janga.

Desde então, o Bar Continental, que sempre teve como especialidade os frutos do mar, virou a Petisqueira do Janga e ficou ainda mais conhecido por ter como carro-chefe no cardápio o caranguejo-gigante. Tornou-se uma referência no bairro Bom Retiro e em toda a cidade.

Os caranguejos são selecionados. Os gigantes ultrapassam os 30 centímetros e são servidos acompanhados dos apetrechos indispensáveis para o apreciador conseguir retirar a carne do crustáceo: martelo, tábua e guardanapo.

– É o prato mais pedido.

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O segredo? Janga diz que está no tempero, preparado por ele e por uma cozinheira, que inclui muita alfavaca e uma pitada da simpatia do dono.

– A gente pega uma amizade muito grande com o pessoal – comenta Janga, sobre a clientela diversificada e fiel.

Aliás, isso é o que motiva o comerciante a continuar. Há 32 anos trabalhando de domingo a domingo, um trabalho que muitas vezes invade a madrugada, servindo de 50 a 100 dúzias de caranguejo por dia, Janga, que tem 56 anos, confessa que já pensou em aposentadoria. Só que ele não consegue ficar longe dos clientes nem dos caranguejos. Mas essa paixão pelos caranguejos não foi à primeira vista.

– A primeira vez que fui comprar os caranguejos, que na época eram vendidos lá fora, no Mercado Público, cheguei em casa com dez dúzias, joguei tudo em um tanque pra lavar e fui chamar minha mulher pra ver – relembra.

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– Quando voltei, metade já tinha fugido, se escondido em meio a caixas. E agora? Pra pegar, como se faz? Foi um forrobodó, perdi quase todos – conta, sem conter a gargalhada, ao lembrar das garras e das beliscadas que levou tentando recuperar os “fugitivos”.

Hoje, mesmo experiente, vez ou outra acontece.

– De vez em quando, um caranguejo ainda pega no dedo e deixa roxo – conta, mostrando as marcas nos dedos.

Mas eles já não fogem mais. Saem do saco, onde ficam bem amarrados, para a lavação, que é a parte mais trabalhosa, e seguem para a panela.

– É um bicho forte, interessante, é bonito de ver – comenta, destacando a tonalidade da carapaça roxa, que depois de ir para a panela fica avermelhada.

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– Mas do jeito que está, qualquer um entrando no mangue e pegando bichos de todos os tamanhos, e até as fêmeas, daqui a pouco vão se acabar – alerta, preocupado com a atividade predatória que ameaça a espécie.