O clima quente no inverno deste ano em Santa Catarina gerado em parte pela atuação do fenômeno El Niño alterou o comportamento de animais peçonhentos e considerados “sangue frio”. O número de ocorrências de resgate pelo Corpo de Bombeiros (CBMSC) aumentou 13,6% se comparado com o mesmo período do ano passado. Em relação ao inverno de 2021, o crescimento foi ainda maior, chegou a 34%.

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Apesar dos hábitos de hibernarem no inverno e voltarem a ser mais ativos no verão, o aquecimento das estações causou um registro de 292 ocorrências de capturas de animais como cobras, aranhas, escorpiões e demais peçonhentos no último inverno, período compreendido entre 21 de junho e 23 de setembro.

Em 2022, foram 257 resgates do tipo atendidos pelo órgão e em 2021 foram 218, revelando uma relação entre aumento gradual das temperaturas e aumento de aparições desses animais fora de época.

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Os animais de sangue frio, incluindo aqueles peçonhentos, têm um funcionamento interno muito relacionado com a temperatura ambiente. Temperaturas mais quentes aceleram esse metabolismo e lógico, eles vão sair para procurar mais alimento e podem também antecipar o ciclo reprodutivo afirmou Ricardo Penteado, biólogo do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA).

Por que cobras aparecem com frequência em casas de SC?

De acordo com o meteorologista da Epagri/Ciram, Marcelo Martins, o inverno de 2023 teve temperaturas entre 1°C e 3°C (variando entre municípios e entre regiões) acima do que era esperado para o período em Santa Catarina se comparado com a média histórica.

Essa questão de um inverno mais quente, com altas temperaturas como a gente viu agora e que também estão previstas para os próximos meses de primavera e verão, com certeza vão acelerar o comportamento desses animais e vai se tornar cada vez mais comum o aparecimento deles nas cidades ressaltou Ricardo, afirmando que é preciso tomar cuidado ao avistar animais peçonhentos e entrar em contato com o Corpo de Bombeiros imediatamente para solicitar resgate.

Segundo o biólogo, em Santa Catarina existem duas famílias de espécies peçonhentas de serpentes (compreendem espécies como jararacas, cascavéis e corais), três famílias de aranhas (armadeiras, aranhas de jardim e aranhas marrons) e dois grupos de escorpiões (amarelos e pretos).

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  • No caso das serpentes, as corais verdadeiras estão entre as mais venenosas, com uma peçonha que ataca diretamente o sistema nervoso e pode causar parada cardiorrespiratória e até mesmo a morte. As cascáveis, com um veneno neurotóxico que causa problemas na fala, visão e equilíbrio corporal, se concentram na Serra e no Oeste do Estado e não são encontradas em Florianópolis. Já as picadas de jararacas tem um veneno necrosante que ataca tecidos e proteínas, podendo causar amputações.
  • No caso das aranhas, as armadeiras e as marrons também possuem peçonha do tipo neurotóxica, levando à falência do sistema nervoso, problemas hepáticos, renais, entre outros. A picada da aranha de jardim é a menos preocupante, apesar de causar problemas como necroses.
  • Para os escorpiões, é preciso ficar alerta com o amarelo, que está presente em toda Santa Catarina e é considerado o mais venenoso da América do Sul. O biólogo destaca que em escorpiões, quanto menor pior. O preto, que é uma espécie um pouco maior, é menos venenosa, mas não tira o alerta para picadas do gênero, especialmente em crianças e idosos.

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Apesar da maioria dessas espécies possuírem soro antiofídico específico para serem administrados e o veneno neutralizado, é preciso evitar qualquer tipo de contato ou aproximação com esses animais, visto a gravidade e complicações que mordidas, picadas ou ferroadas podem apresentar nos humanos.

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Como reconhecer animais peçonhentos?

Animais peçonhentos são aqueles que possuem glândulas de veneno e que o injetam com facilidade por meio de dentes ocos, ferrões ou aguilhões. Saber identificar a diferença entre esses animais e os não venenosos pode ser um importante passo para evitar acidentes, além de, em caso de ataques, saber a espécie é essencial para receber o soro antiofídico adequado no momento do atendimento hospitalar.

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De acordo com Ricardo Penteado, existem algumas características que podem auxiliar no momento da identificação desses animais:

  • Em relação às cobras corais-verdadeiras ou falsas e serpentes com listras coloridas, o recomendado é não entrar em contato com as espécies, pois é muito difícil a identificação e as diferenças são sutis;
  • Serpentes com cabeça em formato triangular geralmente são peçonhentas, apesar de não ser regra;
  • Caudas bem afinadas se comparadas com a largura do resto do corpo, chocalhos (guizos), anéis coloridos e pupilas verticais também são sinais de cobras venenosas;

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  • Outra característica de serpentes com peçonha são a presença de orifícios entre o nariz e os olhos, tanto em jararacas quanto em cascavéis. Chamados de fosseta loreal, esses mini buracos ajudam as cobras a identificarem as presas através do calor e mudança de temperatura;
  • No caso de aranhas, a identificação é mais complicada. Em Santa Catarina, as três espécies nativas (armadeira, de jardim e marrom) são meio parecidas, todas marrons e com as patas bem longas.
  • Os escorpiões são os mais fáceis de identificar. Como as espécies mais comuns em SC são os amarelos e os pretos, a coloração auxilia consideravelmente no processo de detecção, além dos pretos serem maiores que os amarelos.

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Ricardo destaca também o fato que acidentes de pessoas que confundem cobras corais falsas com verdadeiras, por exemplo, são bastante comuns, visto que as diferenças são sutis.

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Independente da pessoa achar que conhece ou que sabe identificar o animal com uma certa certeza, o recomendado é não mexer e evitar qualquer tipo de contato ou captura, nem mesmo tentar matá-lo ressaltou o biólogo.

Como se prevenir de acidentes com esses animais?

De acordo com o CBMSC, acidentes com esses animais podem provocar graves ferimentos e até mesmo o óbito, especialmente em crianças e idosos.

O biólogo Ricardo Penteado destaca ainda que o indicado é evitar picadas e contato direto com eles. Em casos de encontrar um desses animais peçonhentos dentro de casa, a primeira coisa a se fazer é “não tentar a captura” e evitar que crianças e demais animais domésticos se aproximem do peçonhento.

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Por isso, é importante tomar alguns cuidados ao se avistar uma cobra ou uma aranha, por exemplo, visto que podem se sentir ameaçados dependendo do comportamento humano e atacar de forma instintiva.

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Confira algumas dicas de prevenção do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina:

  • Evite o acúmulo de lixos e entulhos;
  • Mantenha jardins e terrenos baldios limpos;
  • Apare o gramado e recolha folhas caídas;
  • Coloque lixo em sacos plásticos e feche-o corretamente;
  • Vede aberturas da casa podem facilitar o acesso dos animais, como soleiras de portas e ralos;
  • Examine roupas, calçados, toalhas e roupas de cama antes de usá-las;
  • Evite andar descalço;
  • Use luvas de proteção ao trabalhar com materiais estocados (ex: lenha).

O que fazer e o que não fazer em caso de ataques?

Mesmo com as medidas de prevenção adotadas, acidentes podem acontecer. Apesar disso, é importante não “demonizar” e lembrar da importância desses animais para o equilíbrio ecológico e para o controle de pragas. O órgão recomenda conviver em harmonia com os demais seres e com o ecossistema, frisando que o assassinato de cobras e agressões à fauna silvestre são crimes ambientais.

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Em caso de dúvidas, encontros ou acidentes com animais peçonhentos, acione o Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina, pelo atendimento 0800 643 52 52 ou pelos telefones (48) 3721-9535 e (48) 3721-9173. A Polícia Militar Ambiental e o CBMSC também são canais de ocorrência para o caso.

Primeiros socorros em casos de acidentes com animais peçonhentos:

  • Lave o local com água e sabão;
  • Eleve o local afetado;
  • Mantenha a vítima em repouso absoluto (não a faça caminhar, correr, etc);
  • Remova anéis, pulseiras, braceletes e outros adornos;
  • Se a vítima estiver consciente, ofereça água para ela beber e a mantenha hidratada;
  • Se possível, tire foto ou leve o animal para identificação (mesmo morto);
  • Assim que possível ligue para o Centro de Informações Toxicológicas;
  • Leve a vítima ao pronto-socorro imediatamente para receber o soro antiofídico.

Como se prevenir e cuidar de picadas de animais peçonhentos

O que não fazer em hipótese alguma:

  • Não amarre o membro ou faça torniquete;
  • Não corte o local da picada;
  • Não chupe o local da picada;
  • Não coloque substâncias no local da picada;

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