O Egito, que enfrenta uma onda de desafios econômicos, retomou nesta segunda-feira, no Cairo, suas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para obter um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares, considerado essencial para a recuperação do país. O governo egípcio, remodelado para enfrentar a crise econômica, tem que lidar com um crescente déficit orçamentário, reservas cambiais em queda e divisa nacional sob pressão, tudo isso em um contexto político e social complicado. As negociações com o FMI foram retomadas nesta segunda-feira.

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O chefe da instituição para o Oriente Médio, Masood Ahmed, encontrou o primeiro-ministro, Hisham Qandil e prevê se reunir com o presidente islamita, Mohamed Mursi. Mursi anunciou domingo um novo governo para enfrentar a grave crise econômica. Dez novos ministros, quase um terço do governo, fizeram o juramento do cargo diante do chefe do Estado. O governo deve “acelerar os esforços para recuperação da economia e o crescimento, atrair investimentos, consolidar as exportações, incentivar o turismo, criar novos empregos e melhorar os serviços públicos”, afirmou Mursi.

– Os indicadores são alarmantes – segundo Ahmed el-Naggar, economista do Centro de Estudos Al-Ahram.

O desemprego aumentou de 9 a 12% entre a população ativa em dois anos, acrescenta, apesar de informar que estas cifras não refletem nem de longe a realidade de um país onde 40% da população vive com dois dólares ou menos por dia. Além disso, com a desvalorização, em poucos dias, da moeda egípcia de 6 a 6,4 libras por dólar, o Banco Central viu suas reservas serem reduzidas de 36 a 15 bilhões de dólares, um nível que a instituição considerou, na semana passada de crítico. Desde então as autoridades aplicam medidas para limitar a saída de divisas do país.

– Para que o sistema funcione, a confiança deve retornar rapidamente, e para isso, é preciso começar com um acordo com o FMI – destacou a agência de classificação Fitch em um recente comunicado.

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Nesse contexto, o ministro do Planejamento, Ashraf Abdel Fattah al-Arabi, acaba de declarar à imprensa que o déficit poderia disparar em 50%, até 200 bilhões de libras (31 bilhões de dólares), “se não forem adotadas medidas econômicas estritas”. O novo ministro das Finanças, Mursi El Sayed Hegazy, é um universitário especialista em finanças islâmicas, próximo à Irmandade Muçulmana, organização a que pertence o presidente Mursi.

Desde sua posse, o ministro se declarou “disposto a encerrar as negociações com o FMI para conseguir o empréstimo”, pré-acordado em novembro, mas logo suspenso por causa das tensões políticas no Egito. Contudo, o governo egpício é prudente diante da perspectiva de que o FMI imponha reformas drásticas e impopulares em troca do empréstimo, em particular, de um possível corte dos caros subsídios do Estado aos combustíveis e aos alimentos básicos.

Em dezembro, em plena crise política e sob pressão de seus próprios aliados, o presidente egípcio teve que adiar aumentos de impostos sobre muitos produtos que tinham contribuído para sanear as finanças públicas, mas provocaram tensões sociais. A proximidade das eleições legislativas, previstas para daqui a cerca de dois meses, também pode pesar na capacidade do executivo de realizar reformas, segundo analistas.