A educação de Santa Catarina terá nos próximos anos um dificultador nos desafios já habituais que vai exigir esforços do próximo governo e dos parlamentares a partir de 2023. Os quase dois anos sem aulas presenciais regulares por conta da pandemia de Covid-19 deixaram reflexos no aprendizado dos estudantes. Um impacto que demanda atenção do poder público.
Continua depois da publicidade
Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp
O tema foi uma das preocupações manifestadas no projeto SC Ainda Melhor, da NSC Comunicação, que aponta caminhos ao longo do período eleitoral para o fortalecimento do Estado nos próximos anos. O segundo eixo apontado pelas entidades ouvidas no projeto é justamente educação e qualificação de mão de obra.
As consequências da pandemia no aprendizado dos estudantes são a principal preocupação apontada por especialistas da área. O quadro afeta, por exemplo, crianças em fase de alfabetização.
É o caso de Isabelle Correa Senna, de 9 anos, que mora em Florianópolis. Ela entrou no 1º ano do ensino fundamental em 2019, antes da pandemia. Nos dois últimos anos, teve praticamente apenas atividades remotas ou híbridas. Em 2022, voltou às aulas presenciais, já no 4º ano, mas ainda com dificuldades para ler e escrever.
Continua depois da publicidade
Para tentar recuperar conteúdos da alfabetização, a mãe, Roberta Correa Cardoso Senna, está pagando por conta própria uma professora particular e uma neuropsicopedagoga, mas reconhece que o avanço ainda é lento.
— É muito preocupante. Foram dois anos, mas que prejudicaram cinco, seis anos à frente. A gente tem ciência, ela está para trás — afirma a mãe.
O real impacto da pandemia ainda é analisado. Uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC), ainda sem dados divulgados, apura consequências que vão além da defasagem, como o baixo índice de retorno de alunos do Ensino Médio. A Secretaria de Estado da Educação (SED) afirma que os dados de evasão de alunos estão concentrados no Programa de Combate à Evasão Escolar, o Apoia, que envolve também Ministério Público de SC e União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-SC). Ainda assim, a SED afirma que, para tentar evitar a evasão, adota medidas como a bolsa-estudante, o reforço na busca ativa e mais tecnologia nas escolas.
A coordenação do programa Apoia informa que somente este ano, 23,7 mil alunos já tiveram registros abertos por possível abandono ou evasão escolar. O número é pouco mais da metade do registrado em todo o ano de 2019, pré-pandemia (40 mil), ou em 2021 (42 mil). Do total de procedimentos abertos, 9,4 mil já foram resolvidos com o retorno dos estudantes às escolas.
Continua depois da publicidade
O promotor de Justiça João Luiz de Carvalho Botega, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude (CIJ), do MPSC, reconhece que a pandemia fez agravar o problema da evasão em todo o país e aponta que o órgão vem cobrando estratégias para conter o problema, como reforço escolar e mais professores.
— Não dá para achar que vamos retornar às aulas, como retornamos, até de forma organizada, planejada, mas achar que simplesmente vamos colocar os alunos em sala de aula e tocar a educação, como se eles tivessem aprendido tudo o que deveriam ter aprendido no período de escolas fechadas — aponta.
Eixos do SC Ainda Melhor
Eixo 1 — Investimento em Infraestrutura
Eixo 2 — Educação e qualificação de mão de obra
Eixo 3 — Ampliar o protagonismo de SC
Eixo 4 — Eficiência na gestão e visão de estadista
Eixo 5 — Investimento em saúde em longo prazo
SC supera meta do Ideb apenas nos anos iniciais
SC tem 1,6 milhão de estudantes, na soma de todas as redes. Metade disso, 804 mil, ficam em unidades municipais, e 541 mil (33%), nas escolas estaduais. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2019, último ano disponível, o Estado manteve a segunda melhor nota entre todos os estados nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Em contrapartida, caiu nos rankings dos anos finais e do Ensino Médio. O cenário do Ideb, no entanto, ainda não englobava toda a mudança causada pelos dois anos sem aulas presenciais.
A presidente da seção catarinense da Associação Brasileira de Psicopedagogia (Abpp), Marlene Beckhauser de Souza, confirma que os alunos têm chegado às escolas com defasagem de conteúdo e que os impactos podem ser percebidos nos próximos cinco anos ou mais.
Continua depois da publicidade
Para minimizar o impacto, a especialista sugere a adoção de equipes multidisciplinares para avaliar os alunos e identificar em que estágio de aprendizado estão. O envolvimento da família também é importante.
— Outros caminhos podem ser promover, dentro das próprias escolas, alguns projetos, programas que busquem também ajudar a fortalecer esses conteúdos em defasagem, para que esse aluno consiga acompanhar a série seguinte — cita a profissional.
Notas de SC no Ideb 2019
Ensino Fundamental, anos iniciais: 6,5, acima da meta estabelecida, 2ª posição no ranking nacional, ao lado de MG, PR e DF.
Ensino Fundamental, anos finais: 5,1, abaixo da meta estabelecida, 4ª posição no ranking nacional, ao lado do DF
Continua depois da publicidade
Ensino Médio: 4,2, abaixo da meta estabelecida, 7ª posição no ranking nacional, ao lado de MG, MS e RS
Qualificação de mão de obra é outra prioridade

No Estado que tem as menores taxas de desemprego do país, a formação e qualificação de mão de obra também é uma necessidade de setores econômicos. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que o Estado vai precisar qualificar 800 mil trabalhadores para vagas que surgirão até 2025. O desafio também passa pelas redes de educação.
No Ensino Médio, onde há atenção à educação profissional técnica, a pandemia também deixou reflexos. A presidente da seção catarinense da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPP), Marlene Beckhauser de Souza, avalia que nesta faixa etária os impactos na formação dos jovens são ainda mais severos. Isso porque as pendências para os alunos do período de alfabetização, por exemplo, ainda podem ser aprendidas ao longo da formação escolar.
— O prejuízo maior está justamente nesses jovens lá do Ensino Médio, que teve esses dois anos de defasagem de conteúdo curricular, de prática efetiva, de preparação deles para o mercado de trabalho, e isso ele não consegue acompanhar de outra forma. Por quê? Porque ele está saindo da escola. Muitos deles já abandonam ou não dão continuidade nos estudos — afirma.
Continua depois da publicidade
Eduardo Costa Corrêa, 17 anos, hoje atua como trabalhador autônomo. Ele terminou o Ensino Médio no ano passado, ainda no contexto de pandemia, e reconhece que não pôde aprender tanto quanto gostaria. Neste ano, ele procurou um curso profissionalizante particular para aprimorar conhecimentos.
— Eu acho que é importante porque eu não tenho tanto conhecimento no meu currículo, tanto aprendizado, e isso eu sei que não é bom para mim, eu não tenho chance no mercado de trabalho com isso. Aqui eu busquei fazer o curso de Administração, mas antes de terminar esse aqui, eu quero começar outro — conta.
Sugestões das entidades para educação e qualificação de mão de obra
- Investir em ensino profissionalizante e acesso à tecnologia para suprir a carência de mão de obra em diversas áreas.
- Desenvolver ações a longo prazo para qualificar a educação e manter as crianças e jovens na escola.
- Mapear, acompanhar e atuar diretamente para minimizar os impactos diretos da pandemia no ensino.
Ensino técnico é desafio em SC
A educação profissional técnica de nível médio é outro compromisso, presente inclusive nos planos nacional e estadual de Educação. Uma das metas estabelece que o total de vagas nesses cursos seja triplicado entre 2015 e 2025.
Continua depois da publicidade
Independentemente dos desafios de abertura de vagas e recuperação da defasagem da pandemia, o futuro também bate à porta. A presidente da ABPP em Santa Catarina afirma que o ensino que acompanhe a transformação tecnológica do mundo também deve ser um norteador das políticas de educação em SC.
— Temos que pensar que se nós queremos um jovem com ideias inovadoras, criatividade, que chegue ao mercado de trabalho mostrando pró-atividade, inovação, ele só vai conseguir colocar isso em prática quando vivenciou, aprendeu de alguma forma dentro dessas perspectivas — orienta.
O gerente de Educação Básica e Profissional do Sesi e Senai em SC, Thiago Korb, afirma que é preciso olhar para o jovem recentemente formado no Ensino Médio e entender que a preparação para o mercado de trabalho não se encerra nesta etapa escolar.
— É importante que a gente traga a educação para um papel central de discussão de política de governo, independente de que programa de governo seja esse. A educação precisa assumir a centralidade como política pública porque ela dá acesso a várias frentes, e uma delas é a qualificação do trabalhador — aponta.
Continua depois da publicidade
Leia o ebook do SC Ainda Melhor
Leia também
Quem são os pré-candidatos a presidente nas Eleições 2022
Quem são os pré-candidatos ao governo de SC nas Eleições 2022
União Brasil e PT garantem maior parte do Fundo Eleitoral; veja valores por partido