O pouco contato comercial entre Brasil e Reino Unido ameniza eventuais impactos na balança comercial, mas não impede efeito colateral adverso. Ao sair do bloco, o país até então liderado por David Cameron enfraquece a comunidade europeia que — unida — é uma cliente relevante em todo mercado internacional.

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Apesar da União Europeia ser um grande parceiro, o Reino Unido, isoladamente, tem pouco peso na pauta de exportações do Brasil. Em 2015, o país ocupou apenas o 15º lugar na lista de principais destinos dos produtos brasileiros, ficando atrás de economias bem menos pujantes, como Holanda e Bélgica.

Com participação de 1,5% na balança comercial brasileira ano passado, o Reino Unido teve o pior resultado desde o início da série histórica em 1997. O melhor desempenho havia sido em 1999, quando chegou a ter fatia de 3% dos valores em dólares.

— A saída pode enfraquecer a economia do Reino Unido. Isso afeta diretamente a União Europeia, já que vários países do bloco estarão negociando a partir de agora com um país de economia um pouco mais fragilizada. Ainda é cedo para apontar um cenário, mas é uma possibilidade — avalia Robson Valdez, analista e pesquisador de Relações e Assuntos Internacionais da Fundação de Economia e Estatística (FEE), lembrando que o Reino Unido sempre teve um “pé fora” da União Europeia.

— Em 1985, os britânicos não assinaram o Acordo de Schengen (que permitia livre trânsito entre habitantes europeus) e também não adotaram a moeda única, o Euro. Ainda receberam diversas concessões para permanecer no bloco. A saída não vai ser indolor para eles — afirma.

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Os principais parceiros comerciais do Brasil na União europeia hoje são Alemanha, Itália e França.

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Com o Rio Grande do Sul, o Reino Unido também nunca figurou como grande parceiro. Em 2015, o país foi apenas o 25º na lista de parceiros do Estado, com apenas 1,08% de participação na balança. Em 1999, ano em que a parceria foi mais relevante, a fatia chegou a 4,6%. Os principais produtos comprados dos gaúchos ano passado foram conserva de carne bovina, móveis e fumo em folhas.

— Depois da entrada da China nos mercados globais, a Europa vem perdendo força na pauta de exportações dos países emergentes, tanto individualmente como em bloco. A União Europeia foi responsável por 29,9% dos ganhos brasileiros com exportações em 1998. Atualmente está em 17,8%. No Rio Grande do Sul a fatia era de 26,4% em 1999 e caiu para 14,6% em 2015. Continua um importante cliente, claro, mas já não gera tanta dependência como antes —afirma o economista Tomás Torezani, especialista em exportações.

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS PARA O RU

Brasil

Ouro

Minério de ferro

Café em grão

RS

Preparações conserva de carne bovina

Móveis

Fumo em folhas

No Rio Grande do Sul Reino Unido foi

20º na lista de parceiros comerciais em maio

País Participação na balança comercial gaúcha (em %)

China 36,7

Argentina 6,0

Estados Unidos 5,3

Paquistão 4,0

Coreia do sul 3,2

Alemanha 2,9

Uruguai 2,3

Vietnã 2,0

Eslovênia 1,9

Paraguai 1,6

Rússia 1,6

Chile 1,6

Arábia Saudita 1,5

Itália 1,5

Bélgica 1,4

Colômbia 1,4

Hong Kong 1,4

França 1,3

Bangladesh 1,2

Reino Unido 1,1

PARCERIA VEM PERDENDO FORÇA

Valores em exportações nos últimos 5 anos

Brasil (em US$ bilhões)

2011 – 5,2

2012 – 4,5

2013 – 4,1

2014 – 3,8

2015 – 2,9

Rio Grande do Sul (em US$ milhões)

2011 – 257,6

2012 – 234

2013 – 246

2014 – 227,2

2015 -189.5