Consuelo Sielski tem a inquietude de quem vive para realizar alguma coisa. Um desassossego estabelecido que os 33 anos de carreira no ensino técnico e tecnológico trataram de cultivar. Por trás da executiva catarinense alçada à assessoria de gestão de pessoas na cúpula dos Correios, em Brasília, revela-se a trajetória da educadora de 55 anos que ajudou a implantar o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e a colocá-lo no posto de melhor do país na avaliação do Ministério da Educação (MEC). Antes disso, Consuelo percorreu o Estado implantando 21 centros federais de ensino técnico, os Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), hoje multiplicadores de vagas em cursos superiores e de pós-graduação.

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Nos últimos três anos, a passagem dela pela chefia da Universidade dos Correios na capital federal resultou em um novo projeto pedagógico e no aumento de 15 mil para 120 mil atendimentos em cursos técnicos para os funcionários da estatal. Em fevereiro deste ano, o reconhecimento a levou até o centro de gestão de pessoas para desenvolver políticas, analisar projetos de educação e disseminar boas práticas de seleção e recrutamento a mais nove empresas estatais.

Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Agência RBS

Voluntariamente, também senta-se à Mesa Temática das Mulheres, que envolve a direção da instituição, os sindicatos e as federações. A contribuição de Consuelo é manter o foco no desenvolvimento e na gestão das mulheres para exercer liderança.

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Ao longo da carreira, costurou parcerias para poder alcançar metas. Perguntada sobre se a política ajudou mais ou atrapalhou, Consuelo é categórica ao afirmar que buscou na política os recursos para conseguir o que precisava e desenvolver projetos sólidos, resistentes aos ventos contrários que incidem sobre o norte da política. Como fez isso? Começou a fazer visitas cordiais ao Fórum Parlamentar Catarinense, para o qual se convidou para participar até aprender a elencar prioridades para o setor que representava.

Na primeira visita ao Congresso Nacional, em 2004, a diretora-geral do então Cefet levou uma medida de esperança e seis projetos, em um volume de poucas folhas, para pedir aos parlamentares a ampliação de laboratórios. Com 100% de sucesso, Consuelo embarcou para a segunda excursão a Brasília acompanhada de um assessor. Assim, eram dois a carregar as caixas de papel A4, cheias de demandas que viriam a transformar a estrutura do Cefet nos anos seguintes. Para isso, as visitas ao Congresso se tornaram mais frequentes.

– A gente tem de ser firme ou não consegue nada. Então, eu posso dizer que lido bem com críticas.

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Lida também com insucessos. Invadiu uma sala de recepção do então presidente Lula em Santa Catarina e conta que chorou copiosamente ao ver o governante mudar os planos de participar da inauguração do Cefet em Chapecó por causa de uma emergência em Brasília. Ela tentou demovê-lo da ideia, porque, ao chegar ao local às 7h daquela manhã muito fria, encontrou velhinhos esperando do lado de fora para assistir ao discurso do presidente.

Quem espera uma mulher de berço esplêndido, deve ouvir os desafios que ela encarou. Dois pés na vida real. Às vezes, enterrados em algum lamaçal do interior em busca de um terreno para um novo centro tecnológico. Outras vezes, com eles descalços na ala dos corredores acarpetados do Congresso Nacional, após a exaustão de horas entregando projetos em gabinetes para conseguir uma brecha nas emendas parlamentares, na batalha por infraestrutura para laboratórios e novos centros tecnológicos em Santa Catarina.

– É preciso trabalhar pela gestão do conhecimento, proporcionar cada vez mais pessoas o acesso a educação. Ela é a ferramenta de transformação da sociedade. Quando cheguei a Brasília as pessoas me perguntavam por que Santa Catarina tem boas empresas, boa educação. Eu sempre disse que tomar a iniciativa depende também da cultura de uma região. As políticas públicas existem para todos, afinal. Acho que nós catarinenses somos um povo rígido, mas disciplinado e trabalhador.

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Intensamente catarinense

Consuelo Sielski nasceu no Bairro Prainha e cresceu na Rua Hercílio Luz, em uma casa com quintal no Centro de Florianópolis, onde hoje está situada uma clínica de oftalmologia. A praça era uma extensão do quintal na calmaria da charmosa rua. Filha do médico e militar Agostinho Sielski e de Graziela, devotada mãe e primeira presidente da escola de balé do Teatro Álvaro de Carvalho (TAC).

Desde pequena, a educadora vive intensamente Santa Catarina. Em Lajeadinho, no município de Monte Castelo, no Planalto Norte, ficava a fazenda dos avós. Canoinhas é a terra de sua mãe. Na infância, subia a Serra do Rio do Rastro de jipe com o avô para chegar ao Morro dos Conventos, em Araranguá.

Aos 17 anos, assumiu a casa e os seis irmãos junto com o pai – depois que a mãe e uma irmã faleceram em um acidente de carro, onde ela estava junto. Em 1984, o pai morreu por afogamento enquanto nadava na praia de Canasvieiras. Ela era casada havia três anos e levou quatro irmãos para a própria casa.

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Sua história no antigo Cefet, hoje IFSC, começou com um estágio da Faculdade de Pedagogia da Udesc, em 1981. Foi ali que ela despertou para a educação profissional. Mas começou como docente em 1987; até virar diretora, entre 2004 e 2008. Logo depois, assumiu a reitoria onde ficou até 2011. Agora, em parceria com colegas de trabalho, ela está escrevendo dois livros documentais para registrar as etapas da evolução do Cefet ao IFSC.

Foto: Felipe Carneiro / Agência RBS

Com os filhos, Graziela e Raul no apartamento em Florianópolis

Hoje, quando vem a Florianópolis, a mãe de Graziela, 26, e Raul, 29, fica no apartamento amplo comprado pelo pai, na Avenida Beira-Mar Norte, onde ele não teve tempo de morar. É ela quem reúne a família em época de festas. Nunca fez curso, mas adora cozinhar.

– Todo esse simbolismo me fez ser uma pessoa melhor.

O que eu vivo em SC

Foto: Daniel Conzi / Agência RBS

> A praia de Canasvieiras, em Florianópolis, lembra o clima de cidade pequena, de quando a família Sielski se apropriava de uma das primeiras casas na localidade. Nos anos de 1960, água e luz elétrica eram um luxo que não pertenciam ao bairro.

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> Da Confeitaria Chuvisco da Avenida Beira-Mar Norte, na capital catarinense, Consuelo é fã da torta Bahamas, que leva castanhas, biscoito e leite condensado.

> Garopaba: as praias da cidade são um encanto para os banhistas ou para um simples passeio à beira-mar, com a farta quantidade de restaurantes especializados em peixe e camarão. Vale passar também pela loja da Mormai, que tem café e restaurante.

Foto: Daniel Conzi / Agência RBS

> Praia da Saudade, na região continental da Capital

> O centro de Florianópolis guarda recônditos que estimulam a imaginação sobre o passado. O velho casario, as ruas calçadas com paralelepípedo, o corredor da Avenida Hercílio Luz, quase tudo remete à história. No caso da professora Consuelo, a Praça Olívio Amorim lembra uma infância feliz, assim como a Beira-Mar Norte, onde ela e as irmãs pequenas tomavam banho quando a praia ainda era própria para isso.

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Foto: Neusa Nunes / Divulgação

> Araranguá: a linda praia de Morro dos Conventos traz lembranças de veraneios da infância de Consuelo. Há boas opções de pousadas e hotéis para a estada e a dica saborosa vem do Centro da cidade: o café com rosca da Confeitaria Santa Clara.

> São Carlos: no Oeste do Estado, a pequena cidade se faz atraente, com uma bela represa e agradável restaurante. Faça seu plano de passeio a partir das informações em http://saocarlos.sc.gov.br/turismo.

Foto: Germano Rorato / Agência RBS

> Em Jaraguá do Sul, um passeio pelo Parque Malwee é revitalizador. O lugar tem um restaurante típico de comida germânica e conta com um marreco recheado saborosíssimo. O parque fica na Rua Wolfgang Weege, 770, bairro Barra Rio Cerro. Informações em www.malwee.com.br/parque. Outros sabores preciosos da cidade estão nas confeitarias. A Ponto Doces da Melania e na Kuchen Haus, no Centro, têm as cucas mais deliciosas e inesquecíveis.

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> Canoinhas: um passeio bastante acolhedor pelo Centro com visita à igreja e à praça, combina com uma boa erva-mate para o chimarrão e pode terminar no calçadão, com uma sopa no gracioso restaurante Doces e Fricotes.