Engana-se quem pensa que as creches são apenas lugares coloridos, onde as crianças ficam enquanto os pais trabalham. Nas últimas quatro décadas, a educação infantil se desenvolveu profundamente no Brasil. A união entre a pedagogia, a psicologia e as políticas públicas transformaram essa fase da educação na base de um futuro promissor para as crianças e para a sociedade.

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Desde o primeiro ano de vida, os bebês experimentam o desenvolvimento cognitivo e motor. Cada pequena atividade visa a preparar o corpo e a mente para a vida adulta. E tudo começa na brincadeira. Segundo Sonia Regina Pereira, mestre em educação e cultura, que pesquisa temas como infância e políticas para educação, a brincadeira é a principal linguagem da criança. Antes de saber falar ou escrever, os bebês conseguem interagir e se expressar por meio dos jogos.

– Na brincadeira do faz de conta e da imitação, além de ser uma vivência, a criança passa a entender o mundo em volta dela e a formar conceitos. Ela começa a fazer leituras e a perceber quem é o outro, o que ele está pensando. Porque ela se coloca no lugar do outro, o que geralmente o adulto não faz. A criança, na forma simples dela, consegue fazer uma leitura do mundo porque ela tem uma sensibilidade mais apurada – afirma.

No Centro de Educação Infantil Espaço Encantado, em Joinville, o berçário 2 tem 24 aluninhos, entre um ano e meio e dois anos de idade. Nesse período, o projeto pedagógico já contempla o desenvolvimento psicomotor, além de trabalhar a socialização, o reconhecimento do próprio corpo e do ambiente onde vive. Portanto, as habilidades que mais tarde serão necessárias para desenvolver a escrita ou resolver equações matemáticas, por exemplo, começam quando a criança entende a sequência lógica de uma história ou aprende a se expressar fisicamente.

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– Com a vivência do brincar, eles acabam respeitando regras, aprendendo a conviver, socializar e sabem que tem de repartir. É muito desenvolvido esse lado social. E isso engrandece a criança – diz a professora Marcela Dallago.

Na rede municipal, cada aluno da educação infantil tem um portfólio, no qual são registradas todas as características dele, o processo de aprendizagem, quem foram as professoras e os amigos, como foi a adaptação no espaço e as atividades. Tudo é relatado em textos e fotografias e entregue no fim do semestre para os pais.

Segundo a professora Marcela, ainda é preciso melhorar a participação da família nesse momento. Na rotina acelerada, diminuiu-se o tempo dedicado às brincadeiras com as crianças e isso pode desencadear comportamentos negativos. Sem a interação, a criança pode se sentir isolada, tornar-se tímida ou desestimulada.

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Luta por políticas públicas para a infância

Com a atenção mais voltada à infância, o papel da criança na sociedade brasileira vem se transformando. Na Constituição do século 20, a criança era alguém que poderia vir a ser um cidadão. No texto de 1988, em suas constantes atualizações, foram reconhecidos os direitos civis desde a concepção. E as políticas de defesa se intensificaram com o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990. Assim, aquela imagem de miniadulto, da Idade Média, foi vencida quando se compreendeu que a criança é um ser em formação, carente de estímulos e de proteção.

Atualmente, Joinville dispõe de 65 unidades de educação infantil com infraestrutura especial e profissionais especializados. São atendidas crianças de zero a seis anos, cada fase com um método de ensino específico. Em contraste a esse avanço, segundo a pesquisadora Sonia Regina Pereira, a cultura moderna tem tirado a oportunidade de a criança brincar e ler o mundo. Isso porque elas entram em instituições desde os primeiros meses de vida e permanecem por muito tempo dentro de salas fechadas, cimentadas e tecnológicas. Essa perspectiva adulta sobre o espaço tira a oportunidade de a criança fazer o que melhor sabe: brincar e aprender.

– Quando deixamos a criança dentro do espaço fechado, quadrado, estamos tirando a oportunidade de ela subir em árvore, pular, correr, se arrastar e, assim, desenvolver todo o esquema corporal. Joinville tem a cultura da brita, de cimentar tudo. É preciso ter contato com a natureza. Se não tiver essa oportunidade, pode virar um adulto infeliz, ter dificuldades no futuro – diz.

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Sonia, registrada como a primeira professora de educação infantil da Prefeitura, em 1974, pôde vivenciar a evolução desse setor em Joinville. O que começou com os jardins de infância para uma pequena parcela da população foi se transformando, por meio de políticas públicas, numa rede complexa dedicada à infância. Atualmente, conforme a pesquisadora, todos os materiais da educação infantil são pautados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.