A busca por capacitação na área está cada vez mais acessível à juventude do campo, desde as escolas agrícolas até a ampliação dos cursos superiores. Na Epagri de Joinville, por exemplo, a comunidade rural dos 18 aos 29 anos possui acesso a um curso de jovens empreendedores, criado em 2013 – à época pelo Programa Santa Catarina Rural. Ao todo, mais de 1,5 mil pessoas já passaram pelo método em todo o Estado. Somente na Regional Norte, neste ano, há um grupo de 31 jovens participantes via aporte do Ministério da Agricultura.
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Conforme Hector Haverroth, gerente local da Epagri, o curso apresenta alternativas de renda existentes para o jovem rural na região, como a criação de agroindústrias, investimento no turismo rural ou em plantios como do arroz, das palmáceas, da bananicultura e piscicultura. Também são trabalhadas questões como a associação familiar e a liderança comunitária, visando a participação na elaboração de políticas públicas.
A pedagoga Márcia da Rosa Gomes, ligada ao projeto, destaca que o interesse dos jovens nas oportunidades no campo cresceu de tal maneira, que muitos, chegaram a tentar outras profissões, mas retornaram ao campo.
— Hoje se vislumbram novos mercados na agricultura e percebemos um grande movimento de jovens voltando para a propriedade familiar. Fizemos uma estimativa de quantos jovens estavam na indústria e estão apostando na agricultura, e, em cada grupo de formação, em torno de 30% estão retornando por encontrar novas alternativas de negócio — afirma.
Na cidade vizinha de Araquari, o principal vetor de formação de novos profissionais do ramo de Joinville e região é o Instituto Federal Catarinense (IFC), que abriu sua primeira turma em Agronomia, com 40 vagas. Além disso, conta há mais de quatro décadas com o curso Técnico em Agropecuária, atualmente ofertado na modalidade integrada ao Ensino Médio. Somente nessa modalidade há 120 ingressos por ano.
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Aos 19 anos, a agricultora Kamyla Prawutzki, começou desde cedo os estudos para se especializar no segmento. Ela cresceu no campo, em Massaranduba, e aprendeu o grosso da profissão junto ao avô nas plantações de arroz. Desde então, já passou por colégio agrícola, fez curso técnico e neste ano ingressou na faculdade de Agronomia.
— Minha intenção depois de formada é voltar para as terras da família. Quero prosseguir com a produção e achar alguma inovação que possa agregar valor a nossa produção — aponta a universitária.
O interesse é o mesmo do adolescente Miguel Acordi, de 17 anos, que se emancipou para mudar de cidade em busca de novos modelos de negócio para a família de produtores rurais, tanto de gado quanto de arroz. Uma das intenções e ampliar as atividades com a criação de suínos.
Através de aulas teóricas e práticas e atividades experimentais em diversos setores, os jovens já conseguem contribuir com as decisões familiares desde cedo. Conforme Michel Luis Rohr, de 16 anos, no mês passado houve um problema com a criação de gado do avô, que nenhum veterinário havia conseguido resultado, mas com a ajuda dos processos ensinados no instituto foi possível resolver a situação. Já Lucas Olczyk, também de 16 anos, atualmente incentiva o pai a trocar a chácara da família por um terreno maior.
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— A ideia é ampliar os investimentos, peguei gosto pela agricultura e passo à visão para o pai de que morar no campo, para mim, é melhor do que na cidade. Tenho o desejo de investir na criação de gado de leite e gado de corte — defende.
Perspectiva é de que segmento permaneça em alta no município
A avaliação dos especialistas é de que a disponibilidade de crédito também tem se mostrado importante para viabilizar a implantação de novos empreendimentos na zona rural. Esses incentivos, conforme eles, são uma perspectiva de que os negócios no campo devem permanecer em alta, principalmente com o turismo rural.
— No nosso território é muito comum a agricultura periurbana, cidade e campo ficam muito próximos, e na verdade o joinvilense está tão acostumado com essa realidade que, às vezes nem percebe, mas seu lazer nos finais de semana é feito todo na área rural. No verão ocorre nos rios, nos sítios e nos pesque e pague; no inverno, nas rotas e nos cafés coloniais — aponta Ana Lúcia Ribeiro.
Para George Livramento, Coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural da Epagri, esse contexto faz com que a preferência pelo campo se intensifique. Não só pelas oportunidades, mas porque as terras no campo já possuem preços equivalentes ao de imóveis na área urbana.
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— É um movimento feito tanto em busca de qualidade quanto de renda, porque, na realidade, para alguém ganhar R$ 60 mil, R$ 70 mil, por ano, no meio urbano, tem que ter um bom emprego. Já na área rural, dependendo do empreendimento o investidor consegue tirar isso e boa parte depende da mão de obra dele, por isso, muitos acabam voltando para o interior — completa.