Uma semana após anunciar o seu desligamento do Figueirense, o empresário Eduardo Uram resolveu falar sobre os motivos que o levaram a tomar a decisão e não fazer mais parte do processo de tomada de decisões na área do futebol. Em entrevista exclusiva ao Diário Catarinense, ele contou, ontem à noite, como se desenrolou a saída, as divergência e como o clube pode evitar a queda para a Série B do Brasileiro. Na avaliação do empresário, que era parceiro do Furacão desde 2009, todos os setores precisam se unir, deixar as diferenças de lado e instalar uma unidade pacificadora, tipo as UPPs existentes no Rio de Janeiro. Confira:

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Diário Catarinense – Na semana passada, você mandou um e-mail para o presidente Nestor Lodetti, para a direção do Figueirense. Qual era a sua manifestação naquele momento sobre a parceria com o clube?

Eduardo Uram – Existe uma disputa entre o clube e a parceira Alliance Sports pelo modo de gestão. A parceira, pelo contrato que tem, exige uma gestão completa do clube, com os executivos da empresa assumindo os cargos executivos. Marcos Teixeira no futebol, Renan Dal Zotto na parte de marketing, Leonardo Moura na administrativa, e Alex Tomita na financeira, e a gestão feita de forma terceirizada. O clube interpreta a relação com a empresa uma gestão compartilhada das decisões, inclusive no futebol. Desde o começo da minha parceria, o meu envolvimento se deu com o clube. Nos dois primeiros anos, tivemos um bom relacionamento com a Alliance, vivemos nos complementando nas tomadas de decisões e estava tudo ajustadinho. Estava tudo encaixado e cada um dentro da sua prerrogativa. Em fevereiro, durante o lançamento do projeto da Arena, tive uma reunião e a Alliance pediu para ocupar o espaço que eu vinha atuando. Como não conhecia bem a relação, me debati, esperneei, questionei. Aí veio a troca de treinador, a chegada do Argel, o primeiro jogador da minha empresa, o Anderson Conceição, a saída do Ygor, que foi um episódio que me chateou porque sempre combinei com os atletas que ninguém sairia antes de completar um ciclo. A partir daí houve um desequilíbrio da relação.

DC – Os episódios envolvendo a saída do Ygor, a chegada do Fabiano Silva por intermédio da Alliance e a negociação do Adilson Batista encaminharam a sua saída?

Uram – Poderia dizer que sim, mas, na verdade, a relação já vinha modificada desde o começo do ano. Posso dizer que elas foram as gotas d’água, com certeza. Algumas modificações de liquidações financeiras com outros empresários, com jogadores que saíram do clube, relações de pagamentos que me deixaram exposto, alterações em que eu era meio que um avalista moral de jogadores e empresários que tinham algum tipo de problema. Me senti fora de atuação e explicitei isso no e-mail. Não vou dizer que foi a saída porque me sinto ainda espiritualmente presente. Conversei com o presidente Lodetti nesse fim de semana e me coloquei à disposição dele porque sinto o dever de estar por perto e poder, dentro da minha capacidade, ajudar em alguma coisa. O momento exige um pedido de pacificação, que as forças do clube se unam e esqueçam momentaneamente suas diferenças, suas disputas e instalem no clube uma UPP, unidades pacificadoras em prol do futebol do Figueirense. Estamos numa posição extremamente incomoda na tabela, mas confio muito no elenco, nas que o clube vai trazer. A competição é difícil, mas sinto forças para a recuperação e peço a todos os players que se unam e deixem para depois as discussões. Se concentram no que é mais importante: o futebol do Figueirense.

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DC – Como fica a partir de agora a relação dos jogadores que pertencem a sua empresa e estão no Figueirense?

Uram – Manterei o equilíbrio que sempre tive e procurarei mexer o menos possível, excetuando os jogadores que o clube não tenha mais interesse, que serão dois ou três pontualmente e vão sair nos próximos dias. Sobre jogadores novos, me coloquei à disposição do presidente Lodetti e do Wilfredo (Brillinger) para ajudar. É uma mensagem pacificadora dentro da capacidade que tenho de não medir esforços para poder ajudar o Figueirense. Só não achei justo ficar com a cara, com o meu nome e não poder fazer nada de mãos amarradas.

DC – Os seus jogadores hoje estão tranquilos no Figueirense?

Uram – Eles estão muitos tranquilos porque conhecem a minha palavra. Quando os pais brigam, entram em processo de separação, os filhos tiram notas ruins na escola. Então, a gente tem de deixar os filhos blindados. O processo do Figueirense está nervoso demais e estão descuidando dessa parte, de dar confiança aos jogadores. Em alguns casos específicos, estão elegendo “cristos”. Aconteceu muito isso no início do campeonato. Quando o time ia mal num jogo, elegiam um culpado, afastando o atleta. Em vez de fortalecer o grupo, optaram por eleger “cristos”. Desde o início do campeonato, tivemos vários afastamentos. Eu procuro sempre dar apoio a aqueles que estão precisando e não dar tapinhas nas costas dos heróis do jogo. Aqui fizeram o contrário.

DC – Você trabalha com jogadores em várias equipes do país. O Figueirense deixou de ser a sua prioridade?

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Uram – Gosto muito do clube, da cidade. Não é fácil me afastar desse processo. Foi importante ter falado o que falei naquele momento. Tive de me posicionar, estou satisfeito, e a minha intenção foi a melhor possível para aliviar a pressão. Ocorre que o clube pedia por mim e a parceira não. Isso poderia ser mais um foco de tensão. Então, a minha retirada foi com a intenção de aliviar esse foco de tensão, mas, uma semana depois, sinto que apesar das tentativas que fiz, os problemas permanecem iguais. Deixo de ter uma parceria oficial, exclusiva, e o Figueirense tem liberdade para buscar dentro do mercado as opções que melhor lhe convier.