Nem o fato de ser réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por acusações de corrupção e lavagem de dinheiro retirou de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) as condições de liderar e impor a Dilma Rousseff a principal de todas as derrotas já enfrentadas pela presidente desde a ascensão do parlamentar carioca de 57 anos ao cargo máximo da Câmara dos Deputados.

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Com o sinal verde para o impeachment, o futuro de Cunha está em aberto e depende da manifestação da Justiça sobre o seu afastamento do comando da Casa. Se depender de seus colegas do Legislativo, apostam políticos ouvidos por ZH, a tendência é de que o peemedebista saia fortalecido do processo por ter liderado o colegiado de 513 deputados em um momento histórico da política brasileira. Ao mesmo tempo, o parlamentar passaria a ser um dos principais alvos das investigações sobre a corrupção, causando constrangimento a Michel Temer logo no início do seu governo.

– O PMDB negociou uma rede de proteção (para Cunha). Ela não tem um script pronto para o final, é mais ou menos como se escrevem algumas novelas, depende de como vier o tiroteio contra ele, mas obviamente ele trabalha para eleger um governo que vai protegê-lo. Temer nunca falou uma frase contra Cunha – analisa o deputado Henrique Fontana (PT-RS).

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O presidente da Câmara responde a uma ação no Conselho de Ética que pede sua cassação por ter mentido na CPI da Petrobras. Cunha negou ter recursos no Exterior, mas dados repassados pelo Ministério Público da Suíça à Procuradoria-Geral da República revelaram o contrário. Em março, o conselho aprovou a abertura do processo por 11 votos a 10. Agora, a ação está na fase de instrução, que deve terminar entre junho e julho.

O hiato entre a abertura do processo e a votação do relatório permitiu articulações por parte do peemedebista.

– Sem dúvida nenhuma, ele sai fortalecido. Haverá uma pressão muito mais forte no Conselho de Ética para que ele não seja cassado. O PSDB não concorda com isso. Quem propôs acordo desde o início foi o PT. Vamos continuar defendendo uma punição mais dura – afirma o tucano gaúcho Nelson Marchezan Jr.

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Além de trabalhar por uma punição mais branda, como censura ou suspensão do mandato, Cunha viu um dos deputados que votou contra ele, Fausto Pinato (PP-SP), renunciar a uma das vagas. No seu lugar, entra uma aliada do peemedebista, Tia Eron (PRB-BA).

– Cunha sabe que não tem chance se o processo for para o plenário. Com essa mudança no conselho, passa a ter maioria. Outra possibilidade é ele renunciar à presidência para manter o mandato. É algo que tem sido dito nos bastidores – comenta o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).

Ação no STF poderia levar quase um ano

A renúncia de Cunha seria também uma maneira de preservar Temer do desgaste de tê-lo como vice. O presidente da Câmara teria resistência a admitir a hipótese, mas com o impeachment de Dilma a situação poderia se alterar. Osmar Terra (PMDB-RS) reconhece que a saída do peemedebista do cargo é uma possibilidade, mas prefere ver o colega de partido ser julgado:

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– Ele tem de responder por tudo que está sendo acusado. Se estamos querendo passar o Brasil a limpo, temos de ir até o fim. Seria uma desmoralização não apurar a fundo.

No Supremo, tramita um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que solicita o afastamento de Cunha da presidência da Câmara, mas a ação ainda não foi levada ao plenário e não tem data prevista para isso. Também no STF, Cunha responde a uma ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo o projeto Supremo em Números, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio), o tempo médio de tramitação de um processo do tipo na Corte é de 359 dias. O ex-senador Pedro Simon (PMDB) prevê que, entre os colegas parlamentares, as chances de Cunha escapar de punições é maior e deposita mais confiança nos ministros do STF:

– Na política, sempre se deu um jeitinho e não aconteceu nada. Acho que estamos vivendo um momento diferente. Creio que ele vai ser punido, ele vai ser afastado da vida pública.

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As acusações contra Cunha

Suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro e alvo de ações no Conselho de Ética da Câmara e no Supremo, Eduardo Cunha é suspeito de pressionar empresa por atraso no pagamento de propina.

– De acordo com reportagem de sexta-feira do jornal O Estado de S. Paulo, o empresário Ricardo Pernambuco Junior, um dos delatores da Operação Lava-Jato, afirmou à Procuradoria-Geral da República que o presidente da Câmara reclamava de atraso no pagamento de propina em contratos de obras relacionadas ao Porto Maravilha, no Rio.

– Representante da Carioca Engenharia, Pernambuco Júnior apontou pagamento de US$ 4,6 milhões ao deputado do PMDB entre 2011 e 2014. Segundo o delator, a propina total para Cunha era de R$ 52 milhões.

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– A assessoria de Cunha afirmou que “é a quarta vez que sai matéria sobre mesmo assunto” e que o deputado já “repudiou os fatos que não têm prova alguma”.