Queria ser cantora lírica, tornou-se atriz premiada no teatro e no cinema, mas preferiu mesmo seguir como escritora e editora. A catarinense Edla van Steen escreveu 26 livros, organizou dezenas de coleções literárias e consolidou-se como intelectual prestigiada no Brasil e no exterior. 

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O pai belga foi cônsul honorário em Santa Catarina e morou em Florianópolis, onde Edla nasceu em 1936. Quando criança, a família mudou para Curitiba. Em uma rádio da cidade, aos 15 anos, conseguiu o primeiro emprego já se aproximando da literatura. Lia as cartas em forma de contos. Em uma programação de tangos, declamava poemas nos intervalos. Também morou no Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo que se fixou, onde viveu a maior parte da vida.

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Como sonhava ser cantora lírica, começou nas artes com o canto. Logo fez teatro e, na estreia nos palcos com a peça “O último encontro”, ganhou dois importantes prêmios: Molière e Associação Paulista de Críticos de Arte. Na década de 1950, foi convidada a fazer o filme “Na garganta do diabo”, dirigido por Walter Hugo Khouri. Conquistou premiações nacionais como melhor atriz e, no exterior, menção especial no Festival Latino-Americano.

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Os prêmios não a seduziram para seguir carreira como atriz. Em 1965, publicou o primeiro livro, “Cio”, uma coletânea de contos. Escreveu ainda romances, como “Memórias do medo” (1974), infanto-juvenis “Manto de nuvem” (1985) e outros, assim como peças de teatro, biografias, além de entrevistas, traduções e colaborações em jornal e revistas. Quatro obras foram publicadas nos EUA.

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Como autora, também conquistou diversos prêmios. Entre eles, o romance “Madruga” (1992) foi prestigiado pela Academia Brasileira de Letras e “Cheiro de amor” (1996) recebeu o Nestlé de Literatura.

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Edla foi casada com o crítico teatral Sábato Magaldi. Escrevia e acompanhava de perto a produção literária brasileira. Mantinha contatos com escritores, críticos e artistas. Com esta habilidade em articular-se, coordenou e editou diversas coleções históricas da literatura, como “Melhores poemas”, onde garantiu espaço para os conterrâneos Lindolf Bell, Luís Delfino e Cruz e Sousa. Em “Roteiro da poesia brasileira”, esteve à frente de um levantamento dos 500 anos da produção do gênero no país e lançou 15 volumes com os poemas selecionados.

Sobre este trabalho de curadoria, a catarinense relatou que a grande dificuldade foi traçar um panorama da diversidade da produção no país porque historicamente existe a miopia focada no eixo Rio-São Paulo.

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Outro marco produzido na literatura foi a série “Viver & escrever”, reunindo entrevistas que ela fez com 39 escritores como Mário Quintana, Rachel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto. Levava a máquina de escrever nas conversas agendadas, fazia as perguntas e registrava tudo.

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Cinco anos antes de falecer, aos 81 anos, publicou o último livro, “Instantâneos” (2013). É uma coletânea de contos curtos, como se reproduzisse o cotidiano em instantâneos, referência às fotografias que capturam o movimento de seres e objetos.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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