O diario.com.br adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Comentários enviados até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa.

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Por diferentes razões, na maior parte dos casos de ordem política ou econômica, e em países culturalmente diversos, mas tendo como ponto em comum a convocação pelas redes sociais, multidões a cada dia mais numerosas têm saído às ruas para protestar em boa parte do mundo.

Na última semana, um movimento crescente também no Brasil, centrado no combate à corrupção, voltou a agitar algumas das mais importantes cidades do país. O protesto coincidiu com a disseminação, por metrópoles norte-americanas, de marchas de rua inicialmente restritas a Wall Street, o coração financeiro de Nova York, contra os rumos da crise global e seus efeitos no emprego.

O ponto em comum entre essas e outras manifestações é a sensação de que nem os políticos tradicionais vêm se mostrando capazes de atender aos anseios da população, nem os sistemas político-administrativos atuais conseguem contemplar suas expectativas imediatas. O desafio dos governantes é impedir que toda essa indignação, como a definiu o escritor francês Stéphane Hessel no livro Indignai-vos, resulte apenas em frustrações.

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Inicialmente impulsionadas pelo clamor por liberdade no mundo árabe, as insurreições que mudaram o destino, entre outros, de países como Tunísia e Egito, transbordaram, por insatisfações econômicas, para Espanha, Grécia, Grã-Bretanha, levaram milhares de pessoas às ruas contra a política educacional no Chile e contra a política habitacional em Israel, antes de se multiplicarem nos Estados Unidos sob o lema Ocupar Wall Street. A maioria delas se amplia a partir de bandeiras específicas.

De maneira geral, porém, estão associadas a uma combinação de globalização e uso massificado de tecnologias avançadas. Mal dosada, essa associação pode acabar acentuando efeitos negativos de instrumentos com potencial para assegurar uma melhora importante nas condições de vida da humanidade. Bem aplicada, pode trazer ganhos em democracia e transparência.

A mesma globalização com poder de impulsionar os mercados, de reduzir as distâncias e aproximar os povos tem também potencial para facilitar o contágio de crises financeiras. A de 2008 – motivada sobretudo pela ganância e pela falta de controles – poderia ter ficado circunscrita a Wall Street. Não ficou, entre outras razões, porque os mercados são internacionalizados, porque faltaram controles mínimos e porque as tecnologias existentes hoje facilitam a disseminação da sonegação e de paraísos fiscais, mas, sobretudo, devido à falta de cooperação entre as nações.

Como hoje qualquer problema num país pode provocar uma reação em cadeia, disseminando prejuízos e levando a população ao inconformismo, a questão não pode ser subestimada.

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Embora ainda contenham uma complexidade que talvez precise ser melhor decifrada, os protestos de rua servem de alerta para a urgência de políticas de governança firmes, de mais seriedade no sistema financeiro, de mais estabilidade econômica e de mais ética e transparência nos setores público e privado.

Os movimentos de rua indicam que uma das formas de evitar a erosão social diante da crise é investir mais, e de forma responsável, em programas educacionais, preparando profissionais para concorrer num mercado globalizado. Mas é preciso também que governantes e lideranças políticas se empenhem em encontrar formas de conter crises e de evitar sua disseminação, promovendo políticas responsáveis voltadas não para si mesmos e para seus financiadores de campanha, mas para o conjunto da sociedade.