O diario.com.br adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados.
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Comentários enviados até as 18h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa de domingo. Participe!
A OPINIÃO PUBLICADA
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Os censores da liberdade de expressão gostam de utilizar um esperto jogo de palavras para justificar a imposição de suas visões sobre o direito dos cidadãos à informação livre e independente. Costumam dizer que há uma distinção entre “opinião pública” e “opinião publicada” – e, a partir desta dedução, consideram-se legitimados para vetar ou reprimir notícias que os incomodem, que firam interesses de seus protegidos ou que simplesmente contrariem seus valores.
Pois agora, com o empoderamento proporcionado pela internet e pelas novas tecnologias aos indivíduos, esta farsa está prestes a ruir: opinião pública passa a ser, efetivamente e sem qualquer dúvida, opinião publicada, pois os cidadãos conquistaram a competência de se manifestar em âmbito planetário até em regimes autoritários, como se constatou nas recentes revoltas populares na Ásia e no Oriente Médio.
Como outros setores do conhecimento humano, a comunicação instantânea e permanente pela internet e pelas redes sociais tem um lado luminoso e um lado sombrio. No hemisfério claro está a força da opinião pública para exigir transparência, honestidade e eficiência de seus representantes políticos e também de grupos econômicos. No lado escuro está a instrumentalização de indivíduos que empregam o poder de produzir e disseminar informações e opiniões para caluniar ou para semear maledicências.
De qualquer maneira, a imprensa tradicional deixou de ser o canal exclusivo de divulgação das demandas públicas e de fiscalização do poder, embora ainda exerça esse papel em nome dos cidadãos quando lhes oferece a garantia da ética e da credibilidade. A diferença é que agora também a imprensa tem sido acompanhada de perto pelo público nos seus erros e nos seus acertos.
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Vejam-se, por exemplo, recentes episódios em que a opinião pública interferiu diretamente: as críticas à participação do BNDES na fusão de duas megacorporações da área de serviços fizeram com que o banco oficial recuasse; a pressão sobre o governo no episódio do Ministério dos Transportes provocou uma mudança de rumo na administração da pasta; e a indignação dos ingleses com a falta de ética do jornal News of the World não só determinou o fechamento da publicação como também provocou um abalo no império midiático do magnata das comunicações Rupert Murdoch.
A revolução tecnológica abre uma oportunidade histórica para a democracia, pois permite que os indivíduos se manifestem sem intermediação, e não apenas em períodos eleitorais. Esse fenômeno tende a favorecer a livre expressão e a fragilizar o arbítrio, embora a censura, disfarçada ou explícita, continue à espreita, como se percebe agora mesmo no episódio da condenação do jornalista que criticou o presidente do Equador. Mas nada mais escapa ao julgamento da opinião pública – e seu veredito, de alguma forma, acabará sendo publicado.