Ao reduzir a meta de inflação, de 4,5% neste ano e no próximo, para 4,25% em 2019 e 4% em 2020, o Conselho Monetário Nacional (CMN) acena com uma perspectiva favorável para o mercado financeiro, mesmo com a persistência da instabilidade política. Na prática, a decisão significa que, depois de definir uma política fiscal prevendo um teto de gastos por 20 anos, com possibilidade de revisão na metade do período, o país passa a contar agora com uma política monetária também de longo prazo. A particularidade de o governo estar com dificuldade para cumprir a meta fiscal de 2017 torna a decisão ainda mais ousada. Reforça também a importância da aprovação das reformas estruturais, particularmente da previdenciária, pois vai permitir menor pressão sobre o déficit público.

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Inflação alta prejudica particularmente quem tem menos condições de proteger seu dinheiro. É o caso dos trabalhadores, que perdem poder de compra. Outros governos, incluindo o anterior, muitas vezes se despreocuparam com a necessidade de procurar manter o custo de vida em patamares mais baixos e generalizaram prejuízos que se estendem até hoje. Com a decisão de fixar metas menores, num prazo mais longo e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a equipe econômica segue a trilha também de padrões internacionais. Países em condições semelhantes às do Brasil já operam com objetivos bem mais realistas para as taxas de inflação.

Com a redução das margens previstas para a variação de preços depois de 14 anos, a equipe econômica estende os efeitos para o próximo governo, definindo um cenário de mais longo prazo. Quem quer que venha a governar o país a partir de 2019 vai ter que se sujeitar ao cumprimento de metas fiscais rígidas. No auge das incertezas disseminadas pela crise política, esse é um passo à frente em relação ao governo anterior, que consentiu com variações mais flexíveis, levando a inflação anual a ultrapassar a meta, atingindo um percentual de dois dígitos.

Diante das turbulências enfrentadas hoje pelo país, a decisão da equipe econômica vem sendo considerada ousada e está longe de ser definida unanimemente pelos analistas como a mais acertada para o momento. Ainda assim, é oportuna. Precisa, por isso, merecer o apoio de todos os agentes econômicos para que possa ser cumprida na prática, permitindo ao país operar com a perspectiva de mais estabilidade pela frente.

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