Sem desconsiderar a premissa constitucional de que ninguém é culpado antes da decisão final da Justiça, a prisão de dois ex-governadores do Rio de Janeiro renova a sensação de degradação da atividade política no país. É muito doloroso constatar que, mesmo em meio à maior investigação de corrupção já realizada, governantes e ocupantes de funções públicas continuam utilizando seus mandatos e sua influência política para se beneficiar com recursos desviados de toda a sociedade.

Continua depois da publicidade

Anthony Garotinho (PR) é acusado de corrupção eleitoral e compra de votos. Sérgio Cabral (PMDB) foi denunciado por delatores da Lava-Jato por recebimento de propina de empreiteiras beneficiadas em contratos públicos no Rio de Janeiro. Ou seja: se comprovados, os crimes cometidos são semelhantes em tudo aos que vêm sendo apurados pela força-tarefa da Lava-Jato desde que a operação começou, em março de 2014.

Aliás, ao encarcerar quase simultaneamente duas lideranças importantes que não pertencem ao Partido dos Trabalhadores, a força-tarefa da Lava-Jato fragiliza também a tese paranoica da perseguição política. E demonstra, mais uma vez, que somente o foro privilegiado e a falta de agilidade das cortes superiores é que estão protegendo algumas autoridades da investigação.

São chocantes e, ao mesmo tempo, convincentes os detalhes divulgados pelos investigadores sobre o esquema criminoso organizado para cobrar propinas no governo fluminense, incluindo-se aí mesadas generosas pagas pelos corruptores e até uma inusitada “taxa de oxigênio“, eufemismo inventado pelos beneficiários para acobertar o suborno.

Diante de tanta desfaçatez, a conclusão a que se chega é de que o país talvez precise mesmo de uma taxa de oxigênio – para que os brasileiros decentes possam respirar em meio a tanta podridão.

Continua depois da publicidade