O alerta do economista francês Thomas Piketty de que “o Brasil é o país mais desigual, ou talvez um dos mais desiguais do mundo” precisa ser levado em consideração não apenas pelos formuladores da política econômica em Brasília, mas também pelos que pretendem concorrer à Presidência da República.
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O autor do best-seller O Capital no Século XXI tem alertado que o Brasil não voltará a crescer de forma sustentável sem reduzir essas iniquidades. E ratifica a tese de um de seus colaboradores, o irlandês Marc Morgan, de que os avanços registrados no Brasil contribuíram para aumentar a renda, não para atenuar as diferenças. As causas são múltiplas, mas não há como corrigir essas distorções sem mudanças na política de impostos, adequando-os aos de países desenvolvidos.
Em consequência de erros históricos, cujos efeitos se prolongam até hoje, o Brasil só não figura isolado como o pior em distribuição de renda porque concorre com alguns países do Oriente Médio, nos quais os ganhos do petróleo se concentram em pequenas áreas, e com a África do Sul, que viveu o apartheid. E, quando consegue aumentar a renda da parcela mais carente da população, como ocorreu nos últimos governos, todas as demais classes sociais também reforçam seus ganhos, reduzindo os efeitos das mudanças. O agravante é que, nesses períodos, a classe média sai prejudicada e a fatia dos 10% mais ricos se fortalece.
Assim como o escritor, que na última semana esteve no Brasil participando do Fronteiras do Pensamento, outros economistas têm advertido, com base em estudos científicos, que a desigualdade no Brasil é ainda superior à traduzida por números oficiais. Os esforços para reduzi-la vão exigir mais do que reajuste real do salário mínimo e dos ganhos da Previdência, além de um alcance maior de programas como o Bolsa Família.
É preciso apostar acima de tudo em reformas que deixem o sistema tributário mais progressivo, tornando sua cobrança mais justa e mais efetiva.
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No momento em que ensaia os primeiros sinais de crescimento, depois de uma recessão sem precedentes, o país precisa se preocupar em reduzir também as diferenças sociais, o que vai exigir ainda investimentos eficazes em educação. Por sua relevância, a discussão não pode ficar fora da campanha presidencial do próximo ano. É importante que seja assumida como compromisso por todos os candidatos, independentemente de questões partidárias.