O diario.com.br adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Comentários enviados até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa.

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DO ALERTA À AÇÃO

Quando alguém que é símbolo, referência, exemplo se manifesta e lança um alerta, é gesto de sabedoria e bom senso prestar atenção e refletir. Pode-se concordar ou discordar. Acolher no todo ou em parte. Mas não cabe dar de ombros, subestimar.

Na última terça-feira, o ídolo maior Gustavo Kuerten surpreendeu os leitores deste jornal com um alerta que reverberou em outros veículos, nas redes sociais e em vários ambientes de discussão. Ao reafirmar sua paixão por Florianópolis, Guga também advertiu para o fenômeno que chamou de “cidade ao léu”. E deu exemplos, lembrando os problemas de violência e insegurança, a precária mobilidade urbana, as ameaças ao meio ambiente e às belezas naturais e – como uma espécie de causa e efeito de tantos outros males – a chaga da desigualdade social e do abandono de comunidades carentes.

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Assim como não é difícil identificar que toda agressão não foi suficiente para tirar de Floripa a condição de uma das mais belas a aprazíveis cidades do planeta, também não é se demora muito a enxergar em todo canto sinais de que o alerta de Guga é procedente e consistente.

Estes sinais estão nos muitos casos de invasão a residências por bandidos, nos ataques a pessoas em locais públicos, na falta de uma adequada política carcerária, na precariedade do atendimento ao menor infrator ou exposto a risco social. Também está na tranqueira das ruas, na areia que some das praias, na falta de respeito ao meio ambiente, expressa das mais diversas formas. E, no que talvez seja o grande motivo para um alerta máximo: na incapacidade manifestada pelas autoridades em atacar de maneira eficiente, competente e definitivo os problemas que crescem diante dos olhos de todos. Nas pequenas e localizadas ações ou nas grandes respostas aos desafios do crescimento, elas parecem transitar entre a inoperância, a paralisia, a falta de poder de decisão, a ausência da necessária virtude de liderança para mobilizar a máquina pública e o sentimento de cidadania em favor da cidade que encanta a todos e precisa de ajuda para continuar encantando.

Neste contexto de problemas que se avolumam de um lado e soluções que tardam, de outro, é que a manifestação de uma personalidade que sempre foi marcada pela competência no seu ofício, pela dedicação e pela vontade de ajudar pode funcionar como – mais do que um simples alerta – um ponto de inflexão da sociedade perante um cenário que todos admitem ser grave mas ninguém parece saber como atacar nem por onde começar a resolver. Guga exagerou ao dizer que pode ir embora de Florianópolis? Disse isso tão somente por ser um “ricaço” que pode ir embora quando quiser? Deveria vir a público dizer que fica e arregaça as mangas por Floripa? Estas são questões que beiram a irrelevância diante da gravidade do alerta – sedimentado por se tratar, mais do que um ídolo, de um cidadão que desenvolve projetos sociais de reconhecido valor e que conhece muito bem aquilo sobre o que lançou advertências.

Do alerta para a ação, as palavras de Guga poderiam, mais do que produzir polêmica, ser o ponto de partida de uma agenda positiva e urgente para Floripa. A cidade não pode adiar a discussão sobre seu plano diretor, precisa atacar de frente a questão do saneamento, deve investir pesadamente em segurança pública, receber um choque de ordem e disciplina, encontrar o ponto de equilíbrio entre o empreendedorismo imobiliário e o respeito ao meio ambiente, lançar um olhar e um conjunto de ações em favor dos seus moradores mais carentes.

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A lista de urgências não é pequena – o que reflete que os problemas não são poucos nem simples. Mas é fato que quanto mais se protela uma reação organizada e intensa, mais o alerta de Guga ganha áreas de profecia e ameaça uma cidade singular nas suas belezas e riquezas – e por isso mesmo, uma cidade que requer uma dose enorme de atenção, cuidados e carinho.