O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará na edição impressa para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. As participações serão selecionadas para publicação no jornal impresso. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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O PREÇO DA ENERGIA

O mais anunciado e temido dos aumentos de preços, pelo impacto que terá na vida de todos, é um exemplo de como uma sucessão de erros e omissões transfere seus custos para a população. Estimativas de especialistas em energia calculam que os brasileiros terão aumento de até 30% na conta de luz no ano que vem. E que, sucessivamente, até pelo menos 2018, o país enfrentará correções de tarifas acima da inflação.

Consumidores residenciais e empresas arcarão com reajustes que terão impactos na formação de preços das mais variadas atividades. Estaremos todos pagando por desajustes na produção e na distribuição de energia ao arcar com as despesas representadas por empréstimos de cerca de R$ 10 bilhões, liberados como socorro às distribuidoras. A explicação mais à mão, baseada em fatores conjunturais, é a de que, com a queda na produção de energia pelas hidrelétricas, em decorrência da escassez de chuvas, as concessionárias viram seus custos explodirem. Essa foi a situação criada pela necessidade de recorrer à energia das termelétricas, bem mais cara. Como foram estimuladas pelo governo a não solicitar o repasse dos custos às tarifas, passaram a enfrentar problemas financeiros. Para o consumidor doméstico e o empresário, é uma explicação pela metade.

O que o Brasil vai pagar, a partir do ano que vem, é mais do que o custo do desarranjo climático que alterou os períodos de chuva e reduziu o nível dos reservatórios. As contas de luz trarão, somados aos danos naturais, os prejuízos pelo não enfrentamento das falhas do modelo energético brasileiro e pela gestão errática do setor público. O adiamento do aumento é também uma tentativa de, numa manobra política, transferir para 2015 a repercussão das novas tarifas nos índices de inflação. São muitas as análises feitas nas últimas décadas sobre as distorções na produção de energia elétrica no Brasil.

Com recursos geográficos ilimitados, produzimos uma das mais caras energias do mundo. E as relações do governo com geradoras e distribuidoras, desde a privatização do setor, nos anos 90, ainda são consideradas confusas. Além disso, investimentos previstos em projetos ambiciosos, que poderiam fortalecer produção e distribuição, não ganham forma nos prazos estipulados.

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A transferência dos custos dos empréstimos aos consumidores pode até ter uma explicação técnica, nas atuais circunstâncias, mas é insustentável sob o ponto de vista econômico e social. É inconcebível que trabalhadores, donas de casa e empreendedores possam imaginar que, daqui a alguns anos, tudo poderá se repetir. Imprevistos atribuídos a fatores ambientais não podem ser confundidos com a imprevidência provocada por um modelo superado e uma gestão deficiente.

O governo, através das instituições reguladoras e fiscalizadoras da prestação de serviços, e as concessionárias privadas e estatais devem rever as normas que orientam suas relações, ao mesmo tempo em que o país cobra uma reflexão consequente sobre a estrutura e os investimentos na área.