É alvissareira a disposição do governo federal de transferir para a iniciativa privada um leque de empreendimentos ineficientes, inúteis do ponto de vista estatal ou que apenas drenam escassos recursos públicos. É assustador constatar-se a quantidade de siglas e empresas mantidas pelo Estado brasileiro, falido e fragilizado pelo loteamento partidário. A alegação mais comum é de que essa estrutura é mantida em nome de um suposto interesse público. Na prática, porém, serve apenas como um encosto para apaniguados políticos.
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Estava mais do que na hora de o setor público caminhar na direção de ficar mais leve e focado no que realmente importa para a população: saúde, educação e segurança. De mais de uma centena e meia de empresas estatais em atividade, por exemplo, pouco mais da metade tem orçamentos próprios para investimentos. As demais dependem de recursos do Tesouro, sendo bancadas, portanto, pelos contribuintes.
Ainda assim, a transferência para a iniciativa privada de uma série de empreendimentos hoje nas mãos do Estado embute três preocupações. A primeira é de que o dinheiro carreado escorra pela tubulação larga do déficit público, tragado pela enorme folha de ativos e inativos, e não seja usado em infraestrutura e obras tão necessárias ao país.
A segunda é de que governo e Congresso percam o ímpeto das reformas de fundo, como a da Previdência. E essa é uma ação obrigatória para assegurar um mínimo de estabilidade das contas públicas no futuro. A esta altura, as reformas beneficiarão o próximo governo e, por isso, devem sair da seara da mera disputa política.
Por fim, o governo corre o risco de achar que cumpriu sua missão reformista com esse aceno à modernização do Estado, ao se decidir por um amplo pacote de concessões ao setor privado. E essa deveria ser apenas uma amostra, um início da grande reforma pública que precisa passar por todos os poderes e áreas hoje responsáveis pela sobrecarga para o país e pelo atraso no desenvolvimento.
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