O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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LIBERDADE X EXTREMISMO

Uma charge pode acabar com o mundo.

A violenta reação islâmica às provocações ocidentais envolvendo o profeta Maomé comprova a advertência contida na frase inicial deste comentário. A vertiginosa evolução das tecnologias de comunicação e o risco permanente de uso de armas de destruição por grupos extremistas contribuem para manter acesa esta faísca do apocalipse. Visões antagônicas de mundo já não podem mais ser separadas por fronteiras físicas e culturais. Por isso, os choques são inevitáveis, como está ocorrendo agora entre a liberdade de expressão, reverenciada pelas democracias ocidentais, e o fundamentalismo religioso, quase uma filosofia de vida para populações inteiras em outras áreas do planeta.

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A humanidade sempre conviveu com culturas antagônicas. Mas a globalização e a comunicação instantânea aproximaram todos os povos, evidenciando divergências e elevando o potencial de conflitos. Em tempos de redes sociais, qualquer indivíduo tem poder para causar embates diplomáticos e bélicos. Veja-se, por exemplo, o que está acontecendo agora por conta de um filme de quinta categoria, produzido nos Estados Unidos. Bastou a divulgação de um trecho da referida produção pela internet para que religiosos radicais tomassem conhecimento e promovessem uma reação furiosa, que já provocou cerca de três dezenas de mortes e abalos na diplomacia entre países ocidentais e islâmicos.

Foi uma provocação irresponsável, sem dúvida, ainda que a liberdade de expressão _ na visão dos países democráticos _ permita tais ações. O governo francês não conseguiu evitar esta semana que a revista Charlie Hebdo voltasse a publicar charges do profeta Maomé. Em vez disso, as autoridades governamentais tiveram que reforçar a segurança de sedes diplomáticas e fechar embaixadas, escolas e consulados franceses em duas dezenas de países no mundo árabe, para proteger seus representantes de possíveis reações. O argumento do editor da revista é de que a liberdade de expressão não pode se submeter à pressão de “um punhado de extremistas”.

Os assassinatos de ocidentais e as depredações de embaixadas e empresas estrangeiras são ações inaceitáveis. Mas a liberdade também deve ser limitada pela responsabilidade. Seria, no mínimo, sensato que os ocidentais não tentassem impor sua visão de mundo a povos que pensam diferente, a não ser pela estratégia suave da informação, do conhecimento e do convencimento. Evidentemente, é desejável que a humanidade transite do obscurantismo para a razão, como vem fazendo desde o início dos tempos, mas cada povo tem o direito de trilhar o seu próprio caminho, no seu próprio ritmo, de acordo com sua história e com seus costumes.