O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa.
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DIREITO DE ESCOLHA
As primeiras aferições de audiência depois que o chamado horário eleitoral gratuito entrou no ar, na última terça-feira, revelam que a TV aberta está perdendo em média 20% de público durante a propaganda política. Embora seja reconhecidamente útil para a democracia brasileira, pois os meios de comunicação de massa são a principal ferramenta para divulgar candidatos e partidos em nosso país, a programação obrigatória fere o direito de escolha dos cidadãos por exigir concomitância de horário de todas as emissoras. Para quem não gosta e não tem acesso ao sistema de assinaturas, o palanque eletrônico torna-se quase uma imposição.
E o pior é que, por absoluta responsabilidade dos partidos e dos candidatos, a propaganda política costuma ser uma programação enfadonha, que afasta ouvintes e telespectadores. Em alguns casos, são anúncios malfeitos e até com erros grosseiros. Além disso, a propaganda é obrigatória mas não é gratuita, como ficou consagrado no imaginário popular. Este ano mesmo, estima-se que até o final das apresentações as televisões terão cedido cerca de 60 horas de sua programação, recebendo compensação do governo em forma de isenção tributária. Ou seja: o contribuinte paga por uma programação que não deseja ver. Para as emissoras de rádio e televisão, porém, o atenuante fiscal não compensa o prejuízo comercial nem a perda de audiência, uma vez que confunde telespectadores e ouvintes de todos os horários, além de provocar fuga de público para meios que não estão enquadrados na legislação. E a renúncia fiscal acaba sendo bancada por todos os cidadãos, independentemente de serem ou não usuários dos meios de comunicação que transmitem a propaganda.
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Até por isso, é fundamental que os cidadãos transformem o limão em limonada. Em vez de simplesmente rejeitar a programação, os eleitores devem aproveitar a oportunidade para fazer uma análise seletiva das mensagens políticas, com o propósito de separar a demagogia da realidade. Ninguém precisa ouvir todos os dias, mas também é insensato desconhecer a existência de candidatos que poderão ser os futuros governantes e parlamentares. O eleitor que vota em quem não conhece transforma o seu direito de escolha numa loteria. O que não vota faz pior: concede uma procuração informal para que outros escolham por ele.
Então, mesmo que a propaganda política nem sempre seja palatável, é proveitoso assistir a ela. São exatamente os cidadãos que podem ajudar a melhorá-la, a torná-la mais utilitária e mais responsável. Como? Fiscalizando o que os candidatos dizem e dando o devido retorno, por meio dos canais de comunicação disponíveis, especialmente da internet e das mídias sociais. Afinal, o horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão não existe para a promoção pessoal dos políticos, mas, sim, para possibilitar aos cidadãos o exercício pleno da democracia.