O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará na próxima segunda-feira para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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O PODER DOS ESCÂNDALOS

Por que o Legislativo brasileiro, em todas as suas instâncias, produz tantos escândalos? Senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores, além de diretores e servidores das casas legislativas, têm sido personagens frequentes de notícias sobre desvios de recursos, uso indevido da máquina pública, viagens desnecessárias à custa dos contribuintes, nepotismo e até mesmo mercantilização de votos por dinheiro, cargos ou outras benesses.

Não passa semana sem que o Congresso Nacional e os parlamentos estaduais ou municipais apareçam em manchetes negativas. Por conta desta exposição constante e pouco edificante, criou-se no país o conceito popular de que política é sinônimo de corrupção. O curioso e paradoxal desta generalização é que todos os parlamentares, sem exceção, só estão em seus cargos porque foram eleitos pelos cidadãos que os criticam.

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Aliás, esta tem sido a defesa dos políticos mais lúcidos. Eles dizem que as casas legislativas são a exata representação da sociedade no que se refere a honestidade e desonestidade. Se olharmos para o nosso dia a dia, para nossas relações de família, trabalho e vizinhança, certamente veremos muitas irregularidades e deformações – ainda que não nos pareçam tão graves quanto aquelas cometidas por governantes e autoridades. Só que, tanto nos pequenos quanto nos grandes delitos, o princípio ferido de morte é o mesmo: a decência.

Porém, como disse o ex-governador mineiro Milton Campos, falar mal do governo é tão bom, que não deveria ser privilégio só da oposição. Mais atraente ainda parece ser baixar a lenha nos deputados e senadores. Não que eles não mereçam, às vezes.

Só no ano recém terminado, o Monitor de Escândalos – espaço do blog do jornalista Fernando Rodrigues, referência na implantação da Lei de Acesso à Informação no país – registrou 38 casos de desvio de conduta no Congresso Nacional, entre Câmara e Senado. E apenas o senador Demóstenes Torres, envolvido com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, perdeu o mandato. Dá para defender uma turma dessas?

Talvez não dê. Mas, para sermos justos, é preciso reconhecer que o Legislativo é o mais vigiado e também o mais transparente dos poderes. A mídia acompanha com lupa o movimento dos parlamentares, mas nem sempre tem acesso aos bastidores do Executivo e raramente investiga a fundo o Judiciário, até mesmo por temer reações desproporcionais que, infelizmente, são rotineiras em nosso país. Além da vigilância maior, o parlamento é submetido ao reexame dos eleitores a cada final de legislatura.

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É, portanto, o poder que representa a sociedade com maior fidelidade. Até por isso, da mesma forma como os cidadãos são obrigados a se submeter às leis e às regras sociais, independentemente da índole de cada um, é impositivo que o parlamento seja constantemente subordinado a mecanismos eficientes de controle e transparência.