O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa.
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ALÉM DA REFORMA CURRICULAR
Em resposta à baixa qualidade do Ensino Médio no país, evidenciada mais uma vez pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica divulgado na última terça-feira, o Ministério da Educação anunciou para este ano a conclusão de sua proposta de reformulação do currículo para a rede pública. A ideia do ministro Aloizio Mercadante é transformar as atuais 13 disciplinas obrigatórias em quatro áreas de conhecimento – ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática. Assim, em vez de aulas específicas de física, química e biologia, por exemplo, os alunos receberiam esses conteúdos de forma integrada na área de ciências da natureza. Na visão do governo, o excesso de disciplinas sobrecarrega os estudantes, dificultando a compreensão e provocando evasão e repetência.
A reformulação curricular é bem-vinda, mas a questão do insucesso no Ensino Médio certamente não se restringe ao número de disciplinas ou à carga excessiva. Pelo contrário, muitos especialistas acham que os estudantes brasileiros até são pouco demandados, principalmente na comparação com países que têm carga horária maior ou mesmo turno integral. O grande desafio não é reduzir o número de disciplinas. É elaborar um currículo significativo, que faça sentido para os jovens e que efetivamente os prepare para a continuidade no estudo ou para a vida profissional.
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A escola precisa se tornar mais atrativa para a garotada, sem se transformar em parque de diversões. Além da reforma curricular, cabe ao Ministério da Educação investir mais na formação e na valorização dos docentes, desenvolvendo um programa efetivo de avaliação de profissionais, até para que possa reconhecer adequadamente aqueles que mais se dedicam à qualificação do ensino. Assim como existe o Ideb para avaliar quem aprende, é importante desenvolver um sistema de aferição de quem ensina, também de conhecimento da sociedade, para que todos os agentes sociais possam se envolver no aperfeiçoamento do sistema.
Diretores e professores competentes – bem formados, bem remunerados e com boas condições de trabalho – são o principal pré-requisito para a educação de qualidade. O currículo é importante, mas fica em segundo plano diante do fator humano. De nada adianta formular parâmetros curriculares maravilhosos se não tivermos profissionais preparados para ministrá-los. O foco da educação deve ser o aluno, mas o elemento deflagrador do processo educacional é o professor.
Um bom educador passa por cima de currículos ruins, supera a falta de infraestrutura, enfrenta a indisciplina e abre oportunidades de vida melhor para seus discípulos. Por isso precisa ser reconhecido e valorizado, mas também acompanhado e cobrado.