O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Comentários enviados até as 18h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa.
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A CULTURA DA PREVENÇÃO
O Ministério da Saúde publicou esta semana uma portaria com as regras para o repasse de verba extra para a criação de 3.508 leitos em enfermarias especializadas no atendimento de dependentes químicos, como viciados em crack, álcool e outras drogas. Amplia-se, assim, o incentivo oficial aos hospitais do SUS para que abram mais espaços para os dependentes. A iniciativa integra o plano de combate ao crack lançado pela presidente Dilma Rousseff em dezembro do ano passado.
Atualmente, a rede pública tem 1,6 mil vagas em enfermarias especializadas. Os números ainda são insignificantes, diante da demanda. Mas a providência é bem-vinda, pois existe inegável carência de vagas para o tratamento de dependentes. Falta, porém, uma estratégia clara de prevenção por parte do governo, com o envolvimento efetivo da sociedade. Infelizmente, continuamos tentando combater o mal pelos seus efeitos.
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Boas intenções não faltam. Agora mesmo, o governo federal está implementando o programa denominado “Crack, é possível vencer”, que prevê a aplicação de R$ 4 bilhões em ações integradas de combate ao uso da droga. De acordo com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o programa terá três eixos: cuidado, autoridade e prevenção. O aumento da oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários já começou. Na questão da autoridade, o governo federal pretende evitar ações repressivas semelhantes à utilizada pela polícia paulista para desmontar a chamada cracolândia, mas não desconsidera a utilização da internação compulsória para viciados resistentes ao tratamento.
A propósito das polêmicas operações da Polícia Militar de São Paulo, que utilizou até mesmo balas de borracha contra os frequentadores da área dominada pelo tráfico, recente pesquisa do instituto Datafolha mostrou que 82% dos moradores da cidade aprovaram a medida. Ainda assim, não pode haver dúvida de que é desumano tratar doentes como se fossem criminosos. A repressão e o amedrontamento só servem para estigmatizar os usuários – e têm pouco ou nenhum efeito dissuasivo.
Por isso, o país tem que investir mais na prevenção, que deve incluir não apenas os governos e as instituições públicas, mas também as famílias e outros setores da sociedade que pouco se envolvem com a questão das drogas. Não se está aqui falando apenas de campanhas educativas, com informações objetivas sobre os danos físicos e psicológicos dos tóxicos, embora tanto as famílias quanto as escolas devam ser capacitadas para tratar desses conteúdos com segurança. O que não se percebe nem nos programas oficiais nem nas iniciativas da sociedade civil é a oferta de oportunidades reais para que os jovens substituam a cultura do prazer momentâneo pelo envolvimento em atividades sadias, como a prática de esportes, o desenvolvimento artístico, a participação em eventos culturais, a iniciação para o trabalho e outros segmentos prazerosos da vida que têm potencial para desenvolver a armadura da autoestima.