O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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O LEILÃO DA INTIMIDADE

Por mais permissiva que se tenha tornado a sociedade contemporânea, ainda causa compreensível desconforto um episódio como esse do leilão da virgindade da brasileira Catarina Migliorini, encerrado na última quarta-feira com o lance vencedor de US$ 780 mil (o equivalente a R$ 1,5 milhão).

A polêmica promoção, idealizada por um produtor cinematográfico exatamente para ganhar a dimensão publicitária que ganhou, suscita inúmeros questionamentos, que vão da degradação de valores morais ao direito de dispor do próprio corpo, passando evidentemente pela decisão editorial dos veículos de comunicação para dimensionar o assunto. Inquestionável foi o interesse do público pelo tema: pesquisas de leitura demonstram que as notícias sobre o caso estiveram sempre entre as mais lidas nas últimas semanas.

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Porém, como o interesse do público nem sempre coincide com o interesse público, pois as aberrações e as deformações do comportamento humano costumam atrair olhares curiosos, decidimos compartilhar com nossos leitores dominicais uma reflexão mais aprofundada sobre o fato que – no nosso entendimento – ultrapassa os limites da razoabilidade. Sem falsos moralismos, acreditamos que comercializar uma relação sexual, independentemente de ser ou não a primeira, é sempre degradante para quem vende e para quem compra, por reduzir a um simples negócio o ato de maior significado fisiológico e afetivo para o prazer humano e para a perpetuação da nossa espécie.

Na sociedade de consumo em que vivemos, pode até parecer normal que alguém opte por expor sua mais recôndita intimidade em troca de dinheiro. Muita gente faz coisa semelhante: artistas e modelos tiram a roupa para revistas especializadas, atores e atrizes simulam sexo em filmes e novelas, pessoas comuns não hesitam em se submeter ao voyeurismo dos realities shows, e mesmo a prostituição – considerada pelo senso popular como a mais antiga das profissões – continua sendo aceita como prática natural, ainda que invariavelmente se sustente da exploração criminosa de seres humanos.

Neste cenário promíscuo, o leilão da virgindade aparece como uma esquisitice a mais – e não faltam cínicos para alegar que a moça age com perspicácia ao cobrar por algo que fatalmente viria a fazer de graça. Dificilmente o mesmo pragmatismo valeria para familiares e pessoas próximas desses cidadãos, mas, ainda assim, suas opiniões merecem ser respeitadas.

Na nossa visão, esse momento especial da vida de homens e mulheres ganha dimensão humana quando é conduzido pelo respeito, pelo carinho e pelo amor – e se vulgariza ao ser transformado numa simples relação comercial.

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