O Diário Catarinense adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 18h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa.

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O MENSALÃO NA PAUTA

O polêmico encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Gilmar Mendes teve como efeito colateral a reposição do mensalão na ordem do dia do país. Na última quarta-feira, representantes das ONGs Transparência Brasil e Contas Abertas, além de outros movimentos de defesa da ética na política, levaram ao STF um abaixo-assinado com 35 mil assinaturas de cidadãos brasileiros pedindo a realização do julgamento ainda no atual semestre, para evitar a prescrição de crimes apontados no processo que tramita há quatro anos na mais alta corte de Justiça do país. O início do julgamento depende apenas da liberação dos autos pelo ministro revisor, Ricardo Lewandowski.

Mensalão é o termo pelo qual popularizou-se o escândalo de compra de votos de parlamentares ocorrido durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos anos de 2005 e 2006, que resultou na demissão do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, na cassação de seu mandato e também o do deputado federal Roberto Jefferson, além do indiciamento de 38 pessoas pelos crimes de formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta e evasão de divisas. As denúncias foram devidamente apuradas pela polícia e pelo Ministério Público e encaminhadas pelo procurador-geral de Justiça ao Supremo Tribunal Federal, que as acolheu, de acordo com o ordenamento jurídico e constitucional vigente.

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Mas o aspecto político do episódio ainda é controverso, principalmente pelos danos que causou à imagem até então verossímil do Partido dos Trabalhadores como paladino da ética e da honestidade. Representou, também, uma mancha de suspeita na bem-sucedida administração do presidente Lula, que até hoje não se conforma com a dimensão do caso. Lula e algumas lideranças petistas insistem em dizer que o mensalão foi uma farsa armada para prejudicar seu governo e o partido – o que explica a repercussão do recente e mal explicado encontro no escritório do ex-ministro Nelson Jobim.

Além das provas documentais, que incluem o célebre vídeo do diretor dos Correios embolsando dinheiro de propina, o processo contém o relatório feito pela Polícia Federal depois de exaustiva investigação e a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República contra 40 acusados, também fartamente ilustrada por provas e depoimentos. Cabe agora ao Supremo Tribunal Federal proceder ao desfecho do rumoroso episódio com um julgamento imparcial e exemplar, que consolide a supremacia do ordenamento jurídico e da democracia sobre a esperteza, as malfeitorias, a ambição de poder e os arroubos messiânicos de indivíduos que se consideram acima das instituições e da vontade da população.