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O EXEMPLO DA EXCEÇÃO

O Brasil experimentou nesta semana o efeito multiplicador de uma notícia capaz de fortalecer a autoestima coletiva. É com justificado orgulho que o país aplaude o reconhecimento ao gênio do jovem Artur Avila, que conquistou a Medalha Fields, considerado o Prêmio Nobel da Matemática, por suas pesquisas na área de sistemas dinâmicos. Trata-se de uma conquista cobiçada mundialmente, por expressar a validação da comunidade científica a estudos de amplo alcance. Mas a premiação nos confronta ao mesmo tempo com a realidade de que se trata de uma exceção. A performance particular de Avila contrasta com a realidade de uma nação em que a regra ainda é o aprendizado precário de matemática, como denuncia nossa posição no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Apesar de alguns avanços, nos últimos anos, o último ranking, de 2012, coloca o Brasil na 58ª posição entre os 65 países. Estamos atrás de Chile, México, Uruguai e Costa Rica e muito distantes das melhores performances de europeus, asiáticos e americanos.

O próprio premiado declarou que a medalha é um fato excepcional, por seus significados, não só como conquista pessoal, mas pela possibilidade de contribuir para a percepção que se tem do Brasil no Exterior. Muito antes mesmo de significar melhoria na imagem brasileira lá fora, a premiação deve ser inspiradora de reações internas. Nosso matemático é, como está claro na deferência internacional, um estudioso fora de série. Ele explica como se sentiu motivado a isso: “Gosto de falar de matemática mas com foco na parte mais criativa. Matemática não é árida, tem acesso a muitos recursos. O problema é que na escola o aluno só tem contato com a parte árida, com as regras, as fórmulas aqui e ali. Isso o computador tá ali e faz. O matemático faz as coisas que o computador não faz, como a parte criativa, que não é repetitiva”.

Não se pretende que estudantes brasileiros se transformem em performáticos com desempenhos semelhantes. Mas é razoável, a partir desse toque sobre criatividade, que sejam buscados melhores resultados no ensino da disciplina.

O Brasil tem exemplos nesse sentido, alguns deles exaltados pela imprensa no final do ano passado. São casos que desafiam um dado constrangedor, segundo o qual apenas 10,3% dos nossos alunos chegam ao final do Ensino Médio com um aprendizado razoável de matemática. As exceções positivas, identificadas num levantamento do Movimento Todos pela Educação, revelaram pelo menos 10 escolas com desempenhos muito acima dessa média. Nenhuma exibe fórmulas milagrosas, mas métodos de ensino sustentados por esforços sistemáticos, que poderiam mobilizar a maioria das escolas do país. Alguns desses colégios estão localizados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

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O aspecto comum entre as escolas é a compreensão de que o aprendizado de matemática é uma evolução de ano a ano, sem que nada possa ser deixado para trás, sob o risco de se perder tudo o que foi ensinado. O Brasil terá de aprender com esses colégios, que não dispõem de recursos extras e não têm prédios e equipamentos muitos diferentes do resto, a andar sempre para a frente. O que os diferencia é a dedicação com disciplina, com o cumprimento de metas e o envolvimento de professores, alunos e comunidades – o que vale para qualquer disciplina, em qualquer nível de ensino.

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