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DESACORDO ORTOGRÁFICO
Ficou para 2016 o uso obrigatório das novas regras da língua portuguesa, já adotadas por setores públicos e privados desde 2009, quando os países lusófonos ratificaram o novo Acordo Ortográfico. O governo optou pelo adiamento depois de receber pressões de professores e também para entrar em sintonia com Portugal, que estabeleceu um período de transição maior para a implantação da reforma. O objetivo principal das mudanças é uniformizar a grafia de textos nos países onde o português é a língua oficial. Com o adiamento proposto pelo Itamaraty, porém, abre-se espaço para novas alterações e até mesmo para a suspensão de regras já adotadas por jornais, livros didáticos e documentos oficiais. Resumindo: o desacordo ortográfico ganhou vigência por mais três anos.
Embora o idioma falado e grafado seja um elemento de coesão nacional, guardando, por isso, relação íntima com a história e a cultura de cada povo, o mundo globalizado exige adequações que nem sempre são motivadas apenas por interesses comerciais e geopolíticos. Como bem argumenta o embaixador Pedro Motta, representante brasileiro na Comunidade de Países de Língua Portuguesa, fica difícil querer que o português seja língua oficial nas Nações Unidas com tanta diversidade entre os oito países lusófonos. Até agora, apenas Cabo Verde implantou oficialmente a reforma.
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Na prática, o Brasil também já adotou as alterações, ainda que persistam resistências pontuais, baseadas muito mais no conservadorismo do que na necessidade de clareza e objetividade. Em Portugal, sim, ainda existe uma reação forte às mudanças, inclusive por parte de movimentos organizados que pressionam o governo para que revogue a reforma ortográfica. Dificilmente isso ocorrerá, pois o acordo foi ratificado pelas autoridades. Mas a rejeição popular dos portugueses tende a retardar ainda mais a oficialização nos demais países.
Ao se submeter a essa pressão, o Itamaraty rasga o contrato informal com os brasileiros que se esforçaram para assimilar as mudanças ortográficas e cria um precedente para novas alterações que podem causar transtornos irreparáveis a editoras e entidades produtoras de documentos, que já trabalham com a ortografia acordada. Pior do que isso: complica a vida de candidatos inscritos em concursos públicos cujos editais já foram publicados com a exigência da nova ortografia. Como o decreto do adiamento ainda precisa passar pela área jurídica da Casa Civil e ser chancelado pela presidente Dilma Rousseff, ainda dá tempo de manter o que estava acordado.
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