O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.
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O MARKETING DO DEBOCHE
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As campanhas eleitorais, que se aprimoram a cada pleito, com a evolução de normas e costumes proporcionados pelo exercício da democracia, ainda convivem com distorções que em nada contribuem para a qualificação da política. O marketing das aberrações, com a adoção de apelidos e slogans que ultrapassam o simples exotismo, amplia-se especialmente nas eleições proporcionais para casas legislativas. Uma observação complacente e distanciada pode atribuir tal fenômeno ao aprendizado estimulado pela liberdade de expressão num meio que conviveu por tanto tempo com as mordaças da censura e da repressão. Não é bem assim. A política brasileira já deveria ter superado essa prática apenas aparentemente ingênua de oferecer a tribuna da propaganda eleitoral a quem se apresenta à população com os discutíveis recursos do escárnio, do deboche e do rebaixamento da própria política.
Num momento em que, sob o impacto do julgamento do mensalão, o país assiste, de alguma forma, a um júri bem mais amplo, que põe em questionamento a face mais sombria dos políticos, as campanhas sustentadas por grosserias são um estorvo e um péssimo exemplo para os mais jovens. Recorrem a um humor questionável, aborrecem, massacram o português, atrapalham e ocupam um espaço nobre, no rádio e na TV, pago por todos. Que contribuição têm a dar os candidatos que se exibem publicamente com zombarias e muitas vezes com a depreciação explícita do próprio pretendente a um cargo? Com que objetivo disseminam-se pelo Brasil as cópias de Tiririca, muitas das quais utilizando as mesmas frases que tornaram famoso e ajudaram a eleger deputado federal um palhaço incapaz, como ele mesmo confessou, de entender suas atribuições e o que se passa em Brasília?
Por mais tolerância que se tenha, não há como ver serventia em tanta deformidade. Também é duvidosa a tese de que tais candidatos são, para o bem e para o mal, expressões da sociedade. Se de fato fossem, não fracassariam na empreitada da eleição, da qual raros saem vitoriosos, em alguns casos como representantes de desiludidos com as estruturas formais da política e da democracia. São, contraditoriamente, eleitos pelos que, por convicção ou desinformação, não veem na representação parlamentar um instrumento capaz de acolher, refletir e deliberar sobre as demandas do país, dos Estados e das cidades. A política é aviltada, sob o patrocínio de partidos que deveriam enobrecê-la. Não se trata de sugerir a censura, mas de exigir das agremiações uma postura coerente com seus programas e seus eixos programáticos, quando esses de fato existem.
As campanhas têm evoluído no Brasil por conta do aperfeiçoamento do regramento legal, estabelecido pela Justiça Eleitoral e resultante de entendimentos com os partidos. O pretenso humor de certos candidatos é um retrocesso. A política vem requerendo mais seriedade, para que se qualifique e expresse as aspirações de todos, e não só de quem está habilitado a votar. Os imitadores de Tiririca seriam mais adequados em outros palcos e com os custos de suas brincadeiras bancados pelos próprios bolsos, para que a sempre questionada propaganda eleitoral mereça o respeito que reivindica.
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