O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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A VERDADE INCOMODA

Conta a lenda que o conquistador Genghis Khan, conhecido e temido por sua crueldade nos combates, mandava matar os mensageiros quando estes traziam más notícias. Guardadas as proporções, essa reação de inconformismo com a verdade ainda motiva nos dias de hoje ações de represália e violência contra quem ousa informar a verdade.

Veja-se o que está ocorrendo com a estudante catarinense Isadora Faber, de 13 anos, que resolveu criar uma página no Facebook para relatar o dia a dia de sua escola. Desde então, ela já foi repreendida pela direção, foi processada por uma professora, teve que prestar depoimento em delegacias, teve seu trabalho indevidamente utilizado por um candidato na recente campanha eleitoral e, nesta última semana, teve sua casa apedrejada e foi ameaçada de agressão por ter denunciado uma irregularidade na prestação de um serviço para a escola. A adolescente sofre as consequências de ter se transformado numa espécie de jornalista informal.

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O jornalismo independente e responsável enfrenta, historicamente, a perseguição sistemática de ditadores, políticos, autoridades e cidadãos que atuam à sombra e não gostam de ver suas malfeitorias reveladas. Com as exceções que se conhece, os incomodados já não mandam matar os mensageiros como fazia o guerreiro mongol. Mas censuram, constrangem, usam o poder político e econômico para calar as críticas e não hesitam em beneficiar aqueles que apenas os elogiam.

Por isso, luta-se tanto pela liberdade de expressão. A prerrogativa de informar sem sofrer represálias não é um privilégio dos jornalistas e das empresas de comunicação. É, antes de tudo, o direito dos cidadãos de serem informados corretamente, sem qualquer tipo de censura ou restrição. Esse é um pré-requisito indispensável para a busca da verdade.

Evidentemente, o direito de informar também impõe responsabilidades. Para merecer a atenção e o respeito de seus públicos, os meios de comunicação têm o dever de apresentar todas as versões dos fatos, de contemplar a pluralidade de opiniões e de colocar o interesse coletivo acima de seus próprios interesses.

E é exatamente o público, na condição de consumidor e beneficiário da informação, que deve avaliar e julgar os veículos e profissionais. Só o cidadão, no exercício de seu direito de escolha, deve ter poderes para selecionar a informação que deseja receber. É inadmissível que governos ou órgãos por eles criados queiram controlar a informação.

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A internet amplificou na sociedade moderna as competências para produzir e receber informações, transferindo para indivíduos como a pequena Isadora a possibilidade de se comunicar instantaneamente com milhões de outras pessoas.

Ao escolher a sua escola como objeto de análises e comentários, a menina está exercendo um direito de cidadania, que certamente também inclui a responsabilidade de mostrar a verdade e de não fazer acusações infundadas. Em qualquer hipótese, porém, ela deve ser protegida. Matar o mensageiro, além de crime, é uma ignorância medieval. E atirar pedras também.