O diario.com.br adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Comentários enviados até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa.

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A ERA DA INDIGNAÇÃO

Já não é mais possível ignorar a explosão de protestos de rua que toma conta do mundo. Depois da multiplicação de manifestações em dezenas de países, a maioria delas pacíficas, acompanha-se agora o que se anuncia, pela grandiosidade prometida pelos organizadores, como a grande marcha dos indignados em direção a Washington.

A caminhada iniciada na quarta-feira em Nova York pretende juntar milhares de adesões pelo caminho e reunir uma multidão no dia 23 na capital americana. Ainda é cedo para se saber que consequências terão tais protestos na governança mundial e nos rumos econômicos e sociais de cada nação. Mas não parece haver dúvida de que o fenômeno tem origem nas novas possibilidades de comunicação, especialmente na internet e nas redes sociais, que possibilitam mobilizações instantâneas.

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As manifestações – algumas com episódios de violência, vandalismo e choques entre manifestantes e forças de segurança – reproduzem exatamente o pluralismo anárquico da comunicação digital. As pessoas que se dizem indignadas apontam vários alvos: os políticos, em primeiro lugar, seguidos pelo poder econômico (com destaque para os banqueiros) e pelos ricos em geral, vistos simploriamente como uma minoria de 1% que estaria explorando os outros 99% das populações.

Sob este guarda-chuva geral, aparece uma multiplicidade de motivos para os protestos, como se pode constatar nos cartazes portados pelos manifestantes em todos os continentes: crise econômica, corte de benefícios sociais, desemprego, descaso com a educação, corrupção, capitalismo, globalização, FMI, meio-ambiente, governos autoritários e outras causas nem sempre claras e muito menos globais.

Há um visível modismo nos protestos. Os indignados não são exatamente os muito pobres, vítimas da fome e das guerras, nem os oprimidos por ditaduras (com exceção dos países do mundo árabe onde os protestos geram revoluções). São, predominantemente, pessoas que vivem em regimes democráticos e que têm acesso aos modernos instrumentos de comunicação.

De Wall Street a Sidney, passando pelas grandes capitais europeias, pelas três Américas e pelo Oriente, a bandeira da indignação corre de mão em mão pelo planeta, materializada em várias mensagens que poderiam ser resumidas numa só: todos querem um mundo melhor.

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Serão os protestos dos conectados o caminho para alcançá-lo? Talvez não, mas parece inquestionável que eles representam um ponto de mutação. Impossível não ouvi-los, impossível não percebê-los, impossível não se preocupar com eles.

O mundo melhor, todos sabemos, só virá com trabalho, com esforço coletivo, com políticas públicas adequadas e transparentes, com o estressamento da democracia, com liberdade para os indivíduos (inclusive de manifestação), com civilidade, com empreendedorismo, com justiça social, com educação, com oportunidades para todos e, acima de tudo, com paz.

As questões que nos afligem a todos estão sendo colocadas na rua pelos indignados. Agora, cabe a todos nós buscar as respostas e trabalhar para que elas se concretizem.