Providências para aliviar a carga tributária dos contribuintes ou facilitar a liberação de recursos para pequenas e médias empresas são sempre bem-vindas, desde que cercadas dos devidos cuidados, num país que deveria estar comprometido acima de tudo com o rigor fiscal e em luta para sair da crise. O risco é quando esse tipo de ¿bondade¿ passa a ser fomentado nos gabinetes oficiais por motivações políticas. É o que ocorre no momento, quando o governo, no esforço de conquistar popularidade, decide recorrer a medidas paternalistas que, num cenário recente, só contribuíram para agravar ainda mais a crise. E, o mais preocupante, que acabaram impondo um ônus adicional para os brasileiros.
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Num país que depende acima de tudo da confiança dos investidores para voltar a crescer, a prioridade absoluta precisa ser o controle rígido entre receitas e despesas para evitar que o déficit público assuma proporções de descontrole ainda maior. Na prática, isso significa controlar gastos e preservar a arrecadação. Preocupa, portanto, que ministros da área política acenem com um reajuste do Bolsa Família. E, ao mesmo tempo, que pensem em revisar agora a tabela do Imposto de Renda. Em ambos os casos, são providências mais do que justas, mas não para o momento, pois contribuem para agravar a crise econômica, não para atenuá-la.
O país pode enfrentar ainda mais dificuldades para superar o impasse atual se a agenda de ministros da área política atropelar a de colegas da área financeira. A situação econômica só não se mostra mais grave hoje porque o Ministério da Fazenda vem conseguindo, até agora, se manter imune a pressões de dentro do governo.
Se esse equilíbrio for rompido, o risco é de que as dificuldades se ampliem ainda mais na economia real, resultando em menos produção e consumo e ainda mais desemprego. É possível que as benesses até contribuam para os objetivos do governo, mas a conta ficará pesada demais. E acabará se mostrando particularmente onerosa para os mais prejudicados pela crise.
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