Acusada de “censura” pelo escritor baiano Antônio Risério após tomar a decisão de não lançar o livro Que Você é Esse, a Editora 34 lançou um comunicado defendendo a sua posição. Risério manifestou-se contra a editora após ter seu livro recusado pela empresa por conta de um capítulo que menciona o marketing de campanha eleitoral do PT, na qual trabalhou em três eleições presidenciais.

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Publicada no site da editora, a nota oficial afirma que a decisão foi tomada após editores terem constatado “vários problemas de ordem literária” na obra, tais como “falta de tensão na voz narrativa, digressões excessivas por parte do narrador, mistura (literariamente contraproducente) das vozes do narrador e dos personagens, bem como dos personagens entre si”

“Ciente de que Risério trabalhou por muitos anos como assessor de marketing político em campanhas eleitorais e de que certas passagens do livro soavam mais como um desabafo pessoal do que uma construção literária de peso, a Editora 34 manifestou seu desconforto com a possível instrumentalização dessas passagens”.

A editora considera “descabida” a hipótese de estar praticando algum tipo de censura, “trata-se muito simplesmente do direito de uma editora de declinar de um original que considera insatisfatório”

Que Você é Esse será lançado pela editora Record.

Leia a nota completa:

A Editora 34 é apartidária e contra qualquer forma de censura. Entendemos que a relação entre autor e editora é pessoal e privada, e por isso não costumamos divulgar, em respeito aos autores que nos procuram, os motivos de recusa de um original. Foi o que nos levou a não nos manifestarmos na nota publicada na coluna de Mônica Bergamo do dia 30/3. Diante da controvérsia gerada, nos vemos na obrigação de esclarecer alguns fatos.

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A Editora 34 já publicou três livros de ensaios de Antonio Risério – A utopia brasileira e os movimentos negros (2007), A cidade no Brasil(2012) e Mulher, casa e cidade (2015) -, dos quais muito se orgulha. Acolheu o original do romance Que você é esse?, do mesmo autor, e iniciou seu processo editorial de análise, tendo constatado, nessa fase, problemas de ordem literária, tais como: falta de tensão na voz narrativa, digressões excessivas por parte do narrador, mistura (literariamente contraproducente) das vozes do narrador e dos personagens, bem como dos personagens entre si. Foi endereçada a Risério, dois dias antes de um encontro entre autor e editor em que seriam discutidos justamente esses aspectos, uma carta que continha sugestões nesse sentido, para serem aprofundadas. Essa primeira parte da carta não foi transcrita na coluna.

Ciente de que Risério trabalhou por muitos anos como assessor de marketing político em campanhas eleitorais e de que certas passagens do livro soavam mais como um desabafo pessoal do que uma construção literária de peso, a Editora 34 também manifestou, na correspondência, seu desconforto com a possível instrumentalização dessas passagens. Foi apenas um trecho desta segunda parte da carta que a Folhatranscreveu na edição de hoje.

Por isso nos parece totalmente descabido e fora de contexto o termo “censura” utilizado na nota. Trata-se muito simplesmente do direito de uma editora de declinar de um original que considera insatisfatório, mesmo quando admira seu autor por outras obras e outros motivos, como é o caso de Risério.