Edgar Gonçalves Jr.: escrever com a luz

Uma imagem publicada na capa do site e do jornal impresso esta semana sensibilizou os leitores do Diário Catarinense, em particular os apaixonados por fotografia. Ao registrar o desbloqueio da SC-480, em Xanxerê, o repórter fotográfico Marco Favero captou o exato momento em que um integrante da tropa de choque da Polícia Rodoviária Federal dispara a arma não letal para dispersar os caminhoneiros.

No flagrante, a sutileza da composição reside no contraste entre o confronto da vida real e o letreiro no fundo. O slogan de um fabricante de carrocerias parece conversar com a cena, como se a crua realidade o desmentisse.

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Formado em Jornalismo, Favero, 24 anos, estava bem no meio da confusão. Ao ouvir os primeiros tiros, acompanhou de perto o avanço da tropa de choque:

– Foi o momento mais tenso, pois os motoristas poderiam reagir.

A tensão, no entanto, não perturbou o jornalista na busca pelo ângulo perfeito:

– De repente, vi a lona e pensei na foto. Cliquei os soldados passando e enquadrei aquela cena até que um deles levantasse a arma e atirasse. A imagem de capa é a penúltima de uma sequência de oito fotos.

Via Facebook, o leitor Diogo Berghahn comentou: “Nem precisa de manchete. Que foto!” Concordo com o Diogo: quando a força da imagem se impõe, o melhor que o texto pode fazer é ser econômico ou sair de cena.

– Ele escreveu com a luz – sintetizou o editor Ricardo Wolffenbüttel, responsável pela edição da imagem, numa alusão ao conceito “fotografia é luz”.

O fotojornalismo do Diário já “escreveu com a luz” inúmeras vezes, e você vê abaixo alguns exemplos que dispensam legenda. Sem medo de errar, afirmo que são fotografias publicáveis em qualquer jornal, site ou revista do mundo.

Enchente em Rio do Sul. Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS (23/09/2013)

Homenagem a Ricardinho. Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS (21/01/2015)

O drama da enchente no Vale do Itajaí ou a reverência aos sonhos interrompidos do surfista Ricardinho na Guarda do Embaú silenciam as palavras porque reúnem força narrativa, impacto, beleza. Por trás da lente, no entanto, a coragem e a sensibilidade falam alto para reafirmar a força do fotojornalismo catarinense.

Coragem, aliás, que o mesmo Marco Favero mostrou em dose dupla para registrar neste vídeo o confronto entre policiais e caminhoneiros, cuja audiência atingiu estratosféricas 5.775.312 milhões de visualizações desde terça-feira:

Porém, nós, jornalistas, não saímos ilesos do turbilhão de opiniões na cobertura do protesto. Ao longo dos últimos dias, ao lado de comentários reconhecendo a bravura do nosso trabalho havia críticas. Fomos talvez o primeiro jornal do país a destacar o movimento na capa impressa de sábado, 21 de fevereiro (antes dos veículos do centro do país), mas alguns leitores afirmaram que não demos o devido destaque ou que não tínhamos interesse em mostrar o que estava realmente acontecendo. E você, de que lado está? Os acertos ou os erros do Diário Catarinense se sobressaíram nessa cobertura?